segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Felicidade, Fantasia e Contemporaneidade.




M. Alexandre Esteves.
O primeiro pensamento que deve passar pela cabeça de uma pessoa quando falamos de fantasia, ou melhor, do fantástico é: “ Por que?” “Qual a razão de falarmos sobre isso?” e com certeza muitas chegarão a afirmação: “ A fantasia não condiz com o pensamento da época, ao nosso pensamento contemporâneo”.
Bom, por essas perguntas é que escrevo, e é a elas que busco uma resposta, se não correta mais favorável a uma resposta afirmativa. E para começarmos proponho o seguinte questionamento. Afinal, o que é o fantástico?
O filosofo italiano Giorgio Agamben da uma resposta simples a esse questionamento. Ele, posso dizer, surpreende a todos ao falar que “ A magia é a Felicidade” – podemos ai fazer a relação entre a magia e nosso tema principal, a fantasia; afinal o que é a magia que não uma boa fantasia? -. Em seu ensaio Magia e Felicidade ele nos diz:
 [...]a  primeira experiência que uma criança tem do mundo não é a de que “os adultos são mais fortes, mas sua incapacidade de magia [...] É provável alias, que a invencível tristeza que as vezes toma conta das crianças nasça precisamente dessa consciência de não serem capazes de magia [...]. (AGAMBEN, 2007; 23).
Ele ilustra muito bem um pensamento de algo que para muitos adultos não significa nada; e é por essas e outras que acredito que nenhuma sabedoria ganha da inocente ignorância infantil, afinal heis ai um belo exemplo. A criança sabe que não pode fazer magia – é ai quem sabe que descobre que sua carta de Hogwarts nunca irá chegar-, mas sabe também que não há felicidade sem esta magia.
A magia então é posta como algo impossível, como um mundo de sonhos; algo inalcançável, como de fato o é. Ai é que a fantasia e a felicidade se fundem, afinal a felicidade também é algo inalcançável.
 Uma pessoa nunca é feliz! Para o homem a felicidade está sempre à frente, na ideia de uma meta, esta que está sempre se afastando. Uma pessoa só se da conta de que é feliz no momento em que deixa de ser, isso se prova no surgimento daquelas expressões do tipo: “ Puxa eu era feliz e não sabia”. A felicidade então não passa disto, uma ilusão; algo que é posta em outro plano, que estamos sempre tentando alcançar. Hora e não foi isso o que a pouco se disse da fantasia?
Vemos na história do homem, desde que este começou a se expressar pela forma da arte, está busca pelo fantástico; pela felicidade. Vemos isto na figura de tantos mitos, dos quais os Campos Elíseos; Valhalla; Jardim do Éden e as buscas por Shangri-la; El Dorado e Atlântida são alguns exemplos. E não seria está a maior prova de que o homem sempre pensou como uma criança? Ou melhor, de que este pensamento ancestral da natureza do homem resiste no pensamento de uma criança?
O fantástico então nada mais é do que a sede do homem pela felicidade. Com este pensamento, ficamos mais perto de uma resposta do por que se falar do fantástico, embora esbarremos em outra pergunta e está seria, O que fazer com este pensamento?
Esse ultimo questionamento nos aproxima mais das respostas almejadas, pois faz com que nós aproximemos mais o fantástico do sujeito, afinal é aqui que encontramos a figura de nosso primeiro individuo: O leitor Fantástico.
Voltemos por um instante a figura da criança, o que faz ela quando se dá conta de sua incapacidade mágica? Hora ela não faz como o homem primitivo e se apega a arte? E dentre as artes, não seria a literatura a prova de que o homem pode fazer magia?
O leitor fantástico se compara ao que nosso filosofo italiano fala a respeito do ser contemporâneo, em seu ensaio intitulado o que é o contemporâneo Agamben nos diz: “Um homem inteligente pode odiar seu tempo, mas sabe, em todo caso que lhe pertence irrevogavelmente, Sabe que não pode fugir ao seu tempo” ( AGAMBEN, 2009; p.59).”  a exemplo do contemporâneo, o leitor fantástico sabe que está preso a seu mundo, e não vive procurando por ‘duendes e fadas’ nele. Ele sabe que no mundo real esse tipo de coisa não existe, e ele está fadado a este mundo.
O leitor fantástico seria aquele, não que pensa como uma criança, mas que mantém o espírito do homem primitivo mesmo depois de ter crescido. O leitor fantástico é todo aquele que procura a felicidade, aquele que tenta a alcançar. Aquele que vê aquele mundo de sonhos por uma janela e que é para ela que esse volta, na tentativa de se esquivar deste plano no qual está preso.
Mas ai chegamos a um ponto crucial. Chegamos a um segundo individuo aquele que faz com que este mundo de sonhos fique mais próximo do homem, que faz o olhar pela janela ser possível; aquele que se da conta que sim, o homem é capaz de fazer magia. O escritor fantástico.
Para ilustrar este segundo individuo retomo a fonte do qual tiramos o primeiro, no mesmo ensaio Agambem nos fala também:
Os historiadores da literatura e da arte sabem que [...] a tudo aquilo que no presente não podemos em nenhum caso viver [...] é constantemente lançado para a origem [...] e ser contemporâneo significa, neste sentido, voltar a um presente em que jamais estivemos [...] contemporâneo não é aquele que, percebendo o escuro do presente, nele apreende a resoluta luz, é também aquele que, dividindo e interpelando o tempo, está a altura de transformá-lo e de colocá-lo em relação com os outros tempos [...] (AGAMBEN, 2009; p. 70-72). 
Hora não poderíamos pensar no Escritor fantástico como alguém nestes moldes? Se pensarmos nele como a evolução de nosso primeiro individuo, ele não seria alguém que em sua busca por aquele mundo de sonhos; em busca por aquela felicidade que está sempre a um passo a sua frente. Não se torna capaz de dobrar os planos fazer uma fissura no limiar das fronteiras entre esses dois mundos, aproximando o mundo ao que está preso a aquele mundo de sonhos almejado em um grau onde esses dois possam se tocar? E ao fazê-lo nesta fissura cria um terceiro mundo – em uma certa media – cria um simulacro onde ele é capaz além de apenas olhar o reflexo dos sonhos jogar elementos do mundo real nele, para que possam ser refletidos de volta e até reconhecidos por aquele que irá mais tarde observar.
Portanto deixo aqui minha resposta, e espero que ela seja ao menos satisfatória. Por que falarmos sobre o fantástico? Hora falar sobre o fantástico é falar sobre a própria natureza do homem, e voltar ao tempo onde o homem buscava a felicidade, onde estava mais próximo de seus sentimentos; onde se via mais como homem e menos como Maquina.

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