M. Alexandre
Esteves.
O
primeiro pensamento que deve passar pela cabeça de uma pessoa quando falamos de
fantasia, ou melhor, do fantástico é: “ Por que?” “Qual a razão de falarmos
sobre isso?” e com certeza muitas chegarão a afirmação: “ A fantasia não condiz
com o pensamento da época, ao nosso pensamento contemporâneo”.
Bom,
por essas perguntas é que escrevo, e é a elas que busco uma resposta, se não
correta mais favorável a uma resposta afirmativa. E para começarmos proponho o
seguinte questionamento. Afinal, o que é o fantástico?
O
filosofo italiano Giorgio Agamben da uma resposta simples a esse
questionamento. Ele, posso dizer, surpreende a todos ao falar que “ A magia é a
Felicidade” – podemos ai fazer a relação entre a magia e nosso tema principal,
a fantasia; afinal o que é a magia que não uma boa fantasia? -. Em seu ensaio Magia e Felicidade ele nos diz:
[...]a primeira experiência que uma criança tem do
mundo não é a de que “os adultos são mais fortes, mas sua incapacidade de magia
[...] É provável alias, que a invencível tristeza que as vezes toma conta das
crianças nasça precisamente dessa consciência de não serem capazes de magia
[...]. (AGAMBEN,
2007; 23).
Ele
ilustra muito bem um pensamento de algo que para muitos adultos não significa
nada; e é por essas e outras que acredito que nenhuma sabedoria ganha da
inocente ignorância infantil, afinal heis ai um belo exemplo. A criança sabe
que não pode fazer magia – é ai quem sabe que descobre que sua carta de Hogwarts
nunca irá chegar-, mas sabe também que não há felicidade sem esta magia.
A
magia então é posta como algo impossível, como um mundo de sonhos; algo
inalcançável, como de fato o é. Ai é que a fantasia e a felicidade se fundem,
afinal a felicidade também é algo inalcançável.
Uma pessoa nunca é feliz! Para o homem a
felicidade está sempre à frente, na ideia de uma meta, esta que está sempre se
afastando. Uma pessoa só se da conta de que é feliz no momento em que deixa de
ser, isso se prova no surgimento daquelas expressões do tipo: “ Puxa eu era
feliz e não sabia”. A felicidade então não passa disto, uma ilusão; algo que é
posta em outro plano, que estamos sempre tentando alcançar. Hora e não foi isso
o que a pouco se disse da fantasia?
Vemos
na história do homem, desde que este começou a se expressar pela forma da arte,
está busca pelo fantástico; pela felicidade. Vemos isto na figura de tantos
mitos, dos quais os Campos Elíseos; Valhalla; Jardim do Éden e as buscas por
Shangri-la; El Dorado e Atlântida são alguns exemplos. E não seria está a maior
prova de que o homem sempre pensou como uma criança? Ou melhor, de que este
pensamento ancestral da natureza do homem resiste no pensamento de uma criança?
O
fantástico então nada mais é do que a sede do homem pela felicidade. Com este
pensamento, ficamos mais perto de uma resposta do por que se falar do
fantástico, embora esbarremos em outra pergunta e está seria, O que fazer com
este pensamento?
Esse
ultimo questionamento nos aproxima mais das respostas almejadas, pois faz com
que nós aproximemos mais o fantástico do sujeito, afinal é aqui que encontramos
a figura de nosso primeiro individuo: O leitor Fantástico.
Voltemos
por um instante a figura da criança, o que faz ela quando se dá conta de sua
incapacidade mágica? Hora ela não faz como o homem primitivo e se apega a arte?
E dentre as artes, não seria a literatura a prova de que o homem pode fazer magia?
O
leitor fantástico se compara ao que nosso filosofo italiano fala a respeito do
ser contemporâneo, em seu ensaio intitulado o
que é o contemporâneo Agamben nos diz: “Um homem inteligente
pode odiar seu tempo, mas sabe, em todo caso que lhe pertence irrevogavelmente,
Sabe que não pode fugir ao seu tempo” ( AGAMBEN, 2009; p.59).”
a exemplo do contemporâneo, o leitor
fantástico sabe que está preso a seu mundo, e não vive procurando por ‘duendes
e fadas’ nele. Ele sabe que no mundo real esse tipo de coisa não existe, e ele
está fadado a este mundo.
O
leitor fantástico seria aquele, não que pensa como uma criança, mas que mantém
o espírito do homem primitivo mesmo depois de ter crescido. O leitor fantástico
é todo aquele que procura a felicidade, aquele que tenta a alcançar. Aquele que
vê aquele mundo de sonhos por uma janela e que é para ela que esse volta, na
tentativa de se esquivar deste plano no qual está preso.
Mas
ai chegamos a um ponto crucial. Chegamos a um segundo individuo aquele que faz
com que este mundo de sonhos fique mais próximo do homem, que faz o olhar pela
janela ser possível; aquele que se da conta que sim, o homem é capaz de fazer
magia. O escritor fantástico.
Para
ilustrar este segundo individuo retomo a fonte do qual tiramos o primeiro, no mesmo
ensaio Agambem nos fala também:
Os
historiadores da literatura e da arte sabem que [...] a tudo aquilo que no
presente não podemos em nenhum caso viver [...] é constantemente lançado para a
origem [...] e ser contemporâneo significa, neste sentido, voltar a um presente
em que jamais estivemos [...] contemporâneo não é aquele que, percebendo o
escuro do presente, nele apreende a resoluta luz, é também aquele que,
dividindo e interpelando o tempo, está a altura de transformá-lo e de colocá-lo
em relação com os outros tempos [...] (AGAMBEN, 2009; p. 70-72).
Hora
não poderíamos pensar no Escritor fantástico como alguém nestes moldes? Se
pensarmos nele como a evolução de nosso primeiro individuo, ele não seria
alguém que em sua busca por aquele mundo de sonhos; em busca por aquela
felicidade que está sempre a um passo a sua frente. Não se torna capaz de
dobrar os planos fazer uma fissura no limiar das fronteiras entre esses dois
mundos, aproximando o mundo ao que está preso a aquele mundo de sonhos almejado
em um grau onde esses dois possam se tocar? E ao fazê-lo nesta fissura cria um
terceiro mundo – em uma certa media – cria um simulacro onde ele é capaz além
de apenas olhar o reflexo dos sonhos jogar elementos do mundo real nele, para
que possam ser refletidos de volta e até reconhecidos por aquele que irá mais
tarde observar.
Portanto
deixo aqui minha resposta, e espero que ela seja ao menos satisfatória. Por que
falarmos sobre o fantástico? Hora falar sobre o fantástico é falar sobre a
própria natureza do homem, e voltar ao tempo onde o homem buscava a felicidade,
onde estava mais próximo de seus sentimentos; onde se via mais como homem e
menos como Maquina.
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