quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


“Dead Horse”  
 M. Alexandre E. 

Estava sentado naquela sala há dez minutos ao que mostrava meu relógio, mas que pareciam horas, estava sentado em uma cadeira fria, em minha frente uma mesa branca do teto pendia uma lâmpada que iluminava apenas o centro da sala deixando o resto em uma penumbra da qual quase nada podia ser visto (ou valia apena prestar atenção) com a exceção daquele espelho de frente pra mim um espelho enorme.
- Nossa é igual aos que se vê nos filmes – falei para mim mesmo.
Mais cinco minutos de silencio absoluto quando ouço a porta atrás de mim se destrancar e abrir.
- Ah já era hora pensei que tinham me esquecido aqui.
A porta se fecha novamente, o vento frio faz balançar a lâmpada e a luz tremeluzir. Da penumbra um homem de sobretudo marrom puxa uma cadeira e se senta do outro lado da mesa e fica me fitando com olhos negros profundos, ele usa cabelo bem aparado castanho cavanhaque, seu rosto já cansado aparentava uns trinta e poucos anos, e sua voz quando falou era grossa e forte.
- Então – começou ele folhando os papeis de uma pasta que ele tinha trazido com sigo – como se sente senhor – ele fez uma pausa lendo meu nome na ficha, como se ele já no o soubesse – Jean?
- Enjoado dessa vida... – dei de ombros – Não que você devesse se importar.
- Você não é o único, que sente isso.
- Estou ciente disso sabia que mais de dez milhões de pessoas tem depressão só no Brasil atualmente?
- Então você tem depressão? – perguntou ele folheando novamente os documentos dentro da pasta – Aqui não diz nada...
- É por que eu não tenho – dei de ombros novamente – Apenas um dado que achei importante para o rumo que esta conversa está tomando.
- Então por que você esta enjoado da vida? – pergunta ele depois de uns minutos me olhando com um olhar profundo.
- Ah – pensei um pouco na resposta – ninguém endente...
- Ninguém entende o que?
- Por que estamos aqui – falei pensei em repreendê-lo pela interrupção mas eu não estava em posição de repreender ninguém depois de tudo que eu fiz – procuramos por respostas que nunca aparecem.
- Talvez não estejamos procurando com cuidado – Falou ele, eu queria saber até onde ele iria levar aquele papo.
- Ah sim, eu vejo – se ajeitei na cadeira de modo que eu pudesse apoiar os cotovelos na mesa e apontar para ele enquanto dizia – que você está tentando entendê-la também, essa vida que todos nós atravessamos...
- A única coisa que eu estou tentando entender aqui é por que um Jovem bem sucedido como você fez aquilo Jean – eu voltei a se encostar na cadeira.
- Depois que ela disse que iria destruir o meu carro... eu não sabia o que fazer.
- Procurasse ajuda, Não...
- Sabe, às vezes Algumas vezes eu sinto como eu estivesse batendo em um cavalo morto – afrouxei o nó da gravata que começava a me sufocar – Você não?
- Do que você esta falando?
- Eu não sei – de repente notei que uma nevoa nos rodeava e em um piscar de olhos eu não estava mais naquela sala escura com o policial me interrogando, mas eu tinha voltado ao inferno, o inferno pode parecer diferente para cada tipo de pessoas, o meu era aquele estacionamento do Hotel onde eu estava hospedado onde tudo aconteceu .
Ele estava vazio com a exceção de uma vã a cinquenta metros de onde eu e ela estávamos, sombras dos pilares se deitavam sob o asfalto manchado de óleo, as lâmpadas piscaram emitindo um som de energia estranho
            - E eu não sei por que você me magoaria, Eu gostaria de pensar que nosso amor vale um pouco mais – eu dizia para ela, Gisele estava em minha frente, seus cabelos louros estavam presos em um Rabo-de-cavalo ela tinha me dito que iria embora para sempre e eu relutava em aceitar – Pode parecer engraçado, era para ser engraçado? – perguntei a ela, lagrimas surgiram em meus olhos, eu forcei um sorriso – você pode pensar que eu estou sorrindo – falei – mas essa brincadeira não tem mais graça – ela sorriu pareceu um sorriso forçado também.
            - Algumas coisas nunca mudam não é? – ela acenou com a cabeça em negativa – Nunca mudam...
A cena foi se desfazendo com se estivesse em água, e eu voltei para aquela sala escura, o policial estava de pé sua cadeira estava tombada no chão, o que indicava que ele tinha levantado sem arrastá-la e pela posição que se encontravam suas mãos ele tinha batido forte na mesa querendo me acordar de meu devaneio.
- Desculpe... – falei – fui longe com o pensamento agora – ele ajeitou a cadeira e andou para a sombra por um segundo ele ficou em silencio então eu vi da escuridão uma luz bruxuleante de um isqueiro, ele voltou a se sentar na cadeira.
- Você quer? – falou ele passando um cigarro em minha direção.
- Não, obrigado eu não fumo.
- Hum – ele soltou círculos de fumaça em minha direção, a porta atrás de mim se destrancou novamente e eu senti a luz tremeluzir novamente quando o outro oficial entrou na sala.
- Chega de conversa fiada Tom – falou o recém chegado. Tom olhou para ele e depois para mim.
- Então você chegou – falou ele – coitado de você filho – falou ele olhando diretamente para mim – o velho Bill aqui é nosso mestre em interrogatórios, não ah nada nenhuma verdade que ele não arranque de você, não importa o quão fundo você a esconda – falando isso Tom levantou da cadeira e deixou a sala. O homem que se chamava Bill sentou na cadeira eu o olhei era moreno o cabelo negro olhos negros também em um tom profundo tinha uma barba por fazer usava o sobretudo preto, ele cruzou as mãos em cima da mesa, e ali estava no dedo médio da mão direita, um anel de ouro, o mesmo anel que eu vi das sombras naquele dia do estacionamento, “pelo jeito o velho tinha razão” pensei comigo.
- Ei belo anel – falei quebrando o silencio que se instalava na sala.
- Chega de papo furado – falou ele em resposta, sua voz era grosa próxima a um arroto – é melhor você começar a contar à história que eu quero ouvir.
- Ual – exclamei – direto ao ponto, pois bem – fiz uma pausa e coloquei os braços estendidos sobe a mesa, e à medida que minhas palavras foram saindo de minha boca minha mente fora revivendo cada coisa que eu relatava.
Eu estava novamente no estacionamento, Gisele virará de costas para mim, eu não estava entendendo o que ela queria dizer com agora pouco antes de ela me dar às costas.
- Já chega Gisele – gritei minha voz por um momento deixou de sair tremida – me diga o que esta acontecendo. Você não esta falando coisa com coisa.  Me diga a verdade.
- Eu... – ela começou, mas eu não tinha terminado.
- Eu não consigo pensar, não consigo acreditar que nosso amor era de mentira, que tenha sumido de uma hora para outra. Me responda você não me ama mais?
- Se eu te abandono agora, não é por que eu não te ame, mas por te amar que faço isso.
- Você esta se ouvindo? – falo eu – para um pouco para pensar se suas palavras condizem com o que você esta fazendo? Quem ama não faz isso que você esta fazendo. Então não continue falando isso. Você não acha que por tudo que nós vivemos eu não mereço a verdade? – minha voz tremeu no final da frase, e então ouvi passos ecoando vindos da escuridão do outro lado do estacionamento da parte de onde subia a escada, o som dos passos começaram a aumentar de tamanho e logo uma risada veio junto com os passos.
- Vamos Gisele – falou uma voz de homem vinda da direção dos passos.
- Quem é? – pergunto eu, Gisele parece tremer com o som da voz, o homem não responde, mas continua a avançar, até que ele saiu para a luz. Um homem auto moreno barba bem feita olhos negros se pós ao lado de Gisele e passou o braço por trás do corpo de Gisele, minha ira explodiu dentro do peito. Eu nem se dei conta do que ela tentou se afastar do toque, para mim pareceu que ela estava até sorrindo. Eu gritei.
- Então é isso – minha voz ecoou fantasmagórica no estacionamento – é por ele que você esta me deixando? – o outro gargalhou – por favor Gi diga que não é verdade...
- Diga – interrompeu o outro – conte a ele Gisele, querida – ela fuzilou o ele com o olhar depois lentamente olhou para mim, com os olhos pesados.
- É – falou ela que abaixou a cabeça não conseguindo sustentar o meu olhar e olhou para o chão. Meu mundo que estava por um fio desabou ao ouvir aquilo eu cai de joelhos, o homem riu novamente e falou em sua voz fria.
- Já chega já tenho o que queria – neste momento um carro entrou pela rampa que saia do estacionamento para a avenida, o carro entrou correndo, o som dos pneus cantando no asfalto invadiram por todo o estacionamento, e depois desse outros vieram atrás do primeiro, e por cima de tudo ouvi a voz abafada de Gisele.
- O que você esta fazendo? – perguntou ela.
- Calada – respondeu o homem.
- Não esse não era o plano – ela parecia ficar preocupada – eu o deixei... você prometeu não fazer nada com ele – o homem gargalhou mais alto.
- Sua estúpida – rosnou ele agora os carros tinham parado envolta de nós os faróis acessos me cegavam – eu nunca tive a intenção de deixá-lo viver, eu só achei que seria bom de vê-lo perdê-la ates de morrer, e foi mesmo – eu olhei para eles e vi duas sombras uma que eu pensei sendo o homem empurrou o outro, e Gisele caiu no chão.
Eu fiquei ali por uns instantes pasmo sem entender o que acontecia esperando o que tudo aquilo fosse um sonho do qual eu acordaria a qualquer momento, e de fato acordei sim, mas acordei desse pequeno devaneio que tive e voltei a realidade um murro na boca do estomago, um outro homem saia da luz sem que eu percebesse trouxera minha mente novamente para o chão daquele estacionamento e tombei para trás com a cabeça em uma mancha de óleo do asfalto.
Ouvi algo parecido com um tapa e o vulto de Gisele parecia estar caindo novamente, depois tudo aconteceu muito rápido, vários gritos risadas uma ordem de morte e uma explosão cheiro de pólvora no ar de repente o corpo de Gisele surgiu em minha frente de costas para as luzes a frente olhei por cima do seu ombro envolto em sombras se escondia quem apertara o gatilho, eu não podia ver nada além da mão que empunhava a arma e nela estava um anel com uma pedra vermelha em um dos dedos.
Ela estava de frente para mim de forma que eu pude ver uma luz no fundo de seus olhos abandonar o seu corpo, sangue escorria de sua boca no momento que ela sussurrava “me perdoe” e assim o corpo de Gisele tombou sobre o meu parecendo pesado mais pesado do que alguma vez foi e eu cai mais uma vez deitado no chão com o corpo dela em cima do meu foi quando perdi os sentidos, acho que me deram como morto também na certa pensaram que o tiro tinha alvejado aos dois pois quando eu acordei minutos depois o estacionamento estava vazio com exceção de mim e meus fantasmas.
Me ergui meio confuso com o corpo de Gisele no colo e ali como um menino chorei sua morte, procurando uma explicação para tudo o que tinha acontecido ali  e não achei nenhuma deixei ela deitada no chão com delicadeza e sai correndo para a escuridão que nos envolvia gritando em ira por onde eu corria só encontrava  as paredes do estacionamento demorou um pouco até que achei a saída.
A rua estava deserta a iluminação publica já enfraquecida pela aurora, olhava para os lados e não via nenhum sinal de ninguém quando um som de sirene me assustou de repente descendo a avenida dezenas de luzes vermelhas piscando vinham aumentando de tamanho, fui preenchido pelo medo, não sei por que, mas fugi corri na maior velocidade q conseguiu imprimir as minhas Pernas cansadas.
- então essa é a sua história? – perguntou o policial sentado agora de frente para mim, seus dedos entrelaçados em frente ao rosto ele me olhava sério seus olhos penetravam fundo parecia que estava lendo minha mente e que tinha visto a mesma cena que eu tinha contado em minha mente – Mais alguma coisa? – falou ele – como você explica esses dias desaparecido?
- Eu fugi depois que vi as viaturas chegando, meu mundo tinha ruído eu não sabia o que fazer vaguei por um dia nas ruas, quando descobri que estavam me culpando pelo assassinato da pessoa que eu mais amava no mundo.
“eu queria achar os responsáveis por essa barbaridade, mas com a policia nas minhas costas eu não iria conseguir então eu saquei dinheiro peguei um carro e corria para onde a estrada me levasse, e ela me levou para o interior, quando parei e tomei ciência de onde estava notei que estava no norte do Paraná entre a divisa com Mato grosso, e lá eu o encontrei”.
- Encontrou o que? Quem? – perguntou ele parecendo nervoso.
- Um velho vaqueiro – respondi – eu vi o olhar nos olhos daquele velho, algo me diz que ele já esteve aqui antes – falei olhando para os lados.
- Por quê?
- Por que a experiência lhe torna sábio não é o que dizem?
- Do que você esta falando?
- Ele sabia de muita coisa daqui de dentro – respondi – da sua milícia – a expressão do velho Bill mudou e sua mascara passou a mostra uma ponta de medo ele tentou se mexer, mas eu o prendi com a minha vontade – ele me deu as respostas para todos meus enigmas seu miserável – a raiva explodia em meu peito – o homem quem planejou tudo o que aconteceu naquele estacionamento contratou sua milícia para acabar comigo, E VOCÊ – gritei e neste momento a mesa voou e grudou no teto se esmagando, e o policial a minha frente voou também direto para o vidro da parede espelhada que se trincou e ali ele ficou como que se com uma força invisível a pressionar ele contra o vidro – você foi quem puxou o gatilho e matou Gisele – eu me levantei e andei com tranqüilidade para perto dele, podia sentir a presença dos outros policiais tentando forçar a entrada para a sala, mas eu os impedia, de repente a porta começou a ficar incandescente e todos que encostavam nela se queimavam.
- O que é você? – perguntou ele lutando por ar.   
- Muitas coisas o velho me fez lembrar, eu era criança é verdade mas eu sabia que eu era filho de uma arma e uma arma também, mas eu nunca precisei usá-la e ela ficou adormecida, mas aquele velho tinha o dom, e fez acordar o demônio dentro de mim – falei, olhei meu reflexo no vidro trincado, meus olhos tinham sumido em vez deles apenas uma orbita negra rasgada por veias brancas estavam, em minha face veias estavam saltadas e negras  – eu sou o que você poderia chamar de uma alma velha – falei olhando para ele e o rosto dele se torceu em agonia – você pode achar que eu sou um demônio,mas seja o que for sou alguém o qual você não devia ter mexido – falei e todas as paredes da delegacia ficaram incandescentes também, alguns policiais tentaram fugir mas as portas se trancaram – estou cansado dessa vida, estou cansado de bandidos como você, e eu não sou o único que pensa assim, amanha as manchetes dos jornais estamparam a história de como uma delegacia sumiu em luz não deixando nenhum sobrevivente – as luzes começaram a brilhar mais e mais, o vidro se estilhaçou de vez, Bill caiu morto do outro lado e o prédio da delegacia se explodiu...
E o vento levou minhas ultimas palavras para onde quer que Gisele estivesse.

“Agora eu sei que você nunca me magoaria.
Sei que nosso amor era de verdade.
Pode soar engraçado agora, mas eu sei que você não estava sorrindo”.
  


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