“Dead Horse”
M. Alexandre E.
Estava sentado naquela sala há
dez minutos ao que mostrava meu relógio, mas que pareciam horas, estava sentado
em uma cadeira fria, em minha frente uma mesa branca do teto pendia uma lâmpada
que iluminava apenas o centro da sala deixando o resto em uma penumbra da qual
quase nada podia ser visto (ou valia apena prestar atenção) com a exceção
daquele espelho de frente pra mim um espelho enorme.
- Nossa é igual aos que se
vê nos filmes – falei para mim mesmo.
Mais cinco minutos de
silencio absoluto quando ouço a porta atrás de mim se destrancar e abrir.
- Ah já era hora pensei que
tinham me esquecido aqui.
A porta se fecha novamente,
o vento frio faz balançar a lâmpada e a luz tremeluzir. Da penumbra um homem de
sobretudo marrom puxa uma cadeira e se senta do outro lado da mesa e fica me fitando
com olhos negros profundos, ele usa cabelo bem aparado castanho cavanhaque, seu
rosto já cansado aparentava uns trinta e poucos anos, e sua voz quando falou
era grossa e forte.
- Então – começou ele
folhando os papeis de uma pasta que ele tinha trazido com sigo – como se sente
senhor – ele fez uma pausa lendo meu nome na ficha, como se ele já no o
soubesse – Jean?
- Enjoado dessa vida... –
dei de ombros – Não que você devesse se importar.
- Você não é o único, que
sente isso.
- Estou ciente disso sabia
que mais de dez milhões de pessoas tem depressão só no Brasil atualmente?
- Então você tem depressão?
– perguntou ele folheando novamente os documentos dentro da pasta – Aqui não
diz nada...
- É por que eu não tenho –
dei de ombros novamente – Apenas um dado que achei importante para o rumo que
esta conversa está tomando.
- Então por que você esta
enjoado da vida? – pergunta ele depois de uns minutos me olhando com um olhar
profundo.
- Ah – pensei um pouco na
resposta – ninguém endente...
- Ninguém entende o que?
- Por que estamos aqui –
falei pensei em repreendê-lo pela interrupção mas eu não estava em posição de
repreender ninguém depois de tudo que eu fiz – procuramos por respostas que
nunca aparecem.
- Talvez não estejamos
procurando com cuidado – Falou ele, eu queria saber até onde ele iria levar
aquele papo.
- Ah sim, eu vejo – se
ajeitei na cadeira de modo que eu pudesse apoiar os cotovelos na mesa e apontar
para ele enquanto dizia – que você está tentando entendê-la também, essa vida
que todos nós atravessamos...
- A única coisa que eu estou
tentando entender aqui é por que um Jovem bem sucedido como você fez aquilo
Jean – eu voltei a se encostar na cadeira.
- Depois que ela disse que
iria destruir o meu carro... eu não sabia o que fazer.
- Procurasse ajuda, Não...
- Sabe, às vezes Algumas vezes eu sinto como eu estivesse batendo em um
cavalo morto – afrouxei o nó da gravata que começava a me sufocar – Você não?
- Do que
você esta falando?
- Eu não sei – de repente notei que uma nevoa nos rodeava e em
um piscar de olhos eu não estava mais naquela sala escura com o policial me
interrogando, mas eu tinha voltado ao inferno, o inferno pode parecer diferente
para cada tipo de pessoas, o meu era aquele estacionamento do Hotel onde eu
estava hospedado onde tudo aconteceu .
Ele estava vazio com a exceção de uma vã a cinquenta metros
de onde eu e ela estávamos, sombras dos pilares se deitavam sob o asfalto
manchado de óleo, as lâmpadas piscaram emitindo um som de energia estranho
- E eu não sei por que você me magoaria, Eu gostaria
de pensar que nosso amor vale um pouco mais – eu dizia para ela, Gisele estava
em minha frente, seus cabelos louros estavam presos em um Rabo-de-cavalo ela
tinha me dito que iria embora para sempre e eu relutava em aceitar – Pode
parecer engraçado, era para ser engraçado? – perguntei a ela, lagrimas surgiram
em meus olhos, eu forcei um sorriso – você pode pensar que eu estou sorrindo –
falei – mas essa brincadeira não tem mais graça – ela sorriu pareceu um sorriso
forçado também.
- Algumas coisas nunca mudam não é? –
ela acenou com a cabeça em negativa – Nunca mudam...
A cena
foi se desfazendo com se estivesse em água, e eu voltei para aquela sala
escura, o policial estava de pé sua cadeira estava tombada no chão, o que indicava
que ele tinha levantado sem arrastá-la e pela posição que se encontravam suas
mãos ele tinha batido forte na mesa querendo me acordar de meu devaneio.
-
Desculpe... – falei – fui longe com o pensamento agora – ele ajeitou a cadeira
e andou para a sombra por um segundo ele ficou em silencio então eu vi da
escuridão uma luz bruxuleante de um isqueiro, ele voltou a se sentar na
cadeira.
- Você
quer? – falou ele passando um cigarro em minha direção.
- Não,
obrigado eu não fumo.
- Hum –
ele soltou círculos de fumaça em minha direção, a porta atrás de mim se
destrancou novamente e eu senti a luz tremeluzir novamente quando o outro
oficial entrou na sala.
- Chega
de conversa fiada Tom – falou o recém chegado. Tom olhou para ele e depois para
mim.
- Então
você chegou – falou ele – coitado de você filho – falou ele olhando diretamente
para mim – o velho Bill aqui é nosso mestre em interrogatórios, não ah nada
nenhuma verdade que ele não arranque de você, não importa o quão fundo você a
esconda – falando isso Tom levantou da cadeira e deixou a sala. O homem que se
chamava Bill sentou na cadeira eu o olhei era moreno o cabelo negro olhos
negros também em um tom profundo tinha uma barba por fazer usava o sobretudo
preto, ele cruzou as mãos em cima da mesa, e ali estava no dedo médio da mão
direita, um anel de ouro, o mesmo anel que eu vi das sombras naquele dia do
estacionamento, “pelo jeito o velho tinha
razão” pensei comigo.
- Ei belo
anel – falei quebrando o silencio que se instalava na sala.
- Chega
de papo furado – falou ele em resposta, sua voz era grosa próxima a um arroto –
é melhor você começar a contar à história que eu quero ouvir.
- Ual –
exclamei – direto ao ponto, pois bem – fiz uma pausa e coloquei os braços
estendidos sobe a mesa, e à medida que minhas palavras foram saindo de minha
boca minha mente fora revivendo cada coisa que eu relatava.
Eu estava
novamente no estacionamento, Gisele virará de costas para mim, eu não estava
entendendo o que ela queria dizer com agora pouco antes de ela me dar às
costas.
- Já
chega Gisele – gritei minha voz por um momento deixou de sair tremida – me diga
o que esta acontecendo. Você não esta falando coisa com coisa. Me diga a verdade.
- Eu... –
ela começou, mas eu não tinha terminado.
- Eu não
consigo pensar, não consigo acreditar que nosso amor era de mentira, que tenha
sumido de uma hora para outra. Me responda você não me ama mais?
- Se eu
te abandono agora, não é por que eu não te ame, mas por te amar que faço isso.
- Você
esta se ouvindo? – falo eu – para um pouco para pensar se suas palavras
condizem com o que você esta fazendo? Quem ama não faz isso que você esta
fazendo. Então não continue falando isso. Você não acha que por tudo que nós
vivemos eu não mereço a verdade? – minha voz tremeu no final da frase, e então
ouvi passos ecoando vindos da escuridão do outro lado do estacionamento da
parte de onde subia a escada, o som dos passos começaram a aumentar de tamanho
e logo uma risada veio junto com os passos.
- Vamos
Gisele – falou uma voz de homem vinda da direção dos passos.
- Quem é?
– pergunto eu, Gisele parece tremer com o som da voz, o homem não responde, mas
continua a avançar, até que ele saiu para a luz. Um homem auto moreno barba bem
feita olhos negros se pós ao lado de Gisele e passou o braço por trás do corpo
de Gisele, minha ira explodiu dentro do peito. Eu nem se dei conta do que ela
tentou se afastar do toque, para mim pareceu que ela estava até sorrindo. Eu
gritei.
- Então é
isso – minha voz ecoou fantasmagórica no estacionamento – é por ele que você
esta me deixando? – o outro gargalhou – por favor Gi diga que não é verdade...
- Diga –
interrompeu o outro – conte a ele Gisele, querida – ela fuzilou o ele com o
olhar depois lentamente olhou para mim, com os olhos pesados.
- É –
falou ela que abaixou a cabeça não conseguindo sustentar o meu olhar e olhou
para o chão. Meu mundo que estava por um fio desabou ao ouvir aquilo eu cai de
joelhos, o homem riu novamente e falou em sua voz fria.
- Já
chega já tenho o que queria – neste momento um carro entrou pela rampa que saia
do estacionamento para a avenida, o carro entrou correndo, o som dos pneus
cantando no asfalto invadiram por todo o estacionamento, e depois desse outros
vieram atrás do primeiro, e por cima de tudo ouvi a voz abafada de Gisele.
- O que
você esta fazendo? – perguntou ela.
- Calada
– respondeu o homem.
- Não
esse não era o plano – ela parecia ficar preocupada – eu o deixei... você
prometeu não fazer nada com ele – o homem gargalhou mais alto.
- Sua
estúpida – rosnou ele agora os carros tinham parado envolta de nós os faróis
acessos me cegavam – eu nunca tive a intenção de deixá-lo viver, eu só achei
que seria bom de vê-lo perdê-la ates de morrer, e foi mesmo – eu olhei para
eles e vi duas sombras uma que eu pensei sendo o homem empurrou o outro, e
Gisele caiu no chão.
Eu fiquei
ali por uns instantes pasmo sem entender o que acontecia esperando o que tudo
aquilo fosse um sonho do qual eu acordaria a qualquer momento, e de fato
acordei sim, mas acordei desse pequeno devaneio que tive e voltei a realidade
um murro na boca do estomago, um outro homem saia da luz sem que eu percebesse
trouxera minha mente novamente para o chão daquele estacionamento e tombei para
trás com a cabeça em uma mancha de óleo do asfalto.
Ouvi algo
parecido com um tapa e o vulto de Gisele parecia estar caindo novamente, depois
tudo aconteceu muito rápido, vários gritos risadas uma ordem de morte e uma
explosão cheiro de pólvora no ar de repente o corpo de Gisele surgiu em minha
frente de costas para as luzes a frente olhei por cima do seu ombro envolto em
sombras se escondia quem apertara o gatilho, eu não podia ver nada além da mão
que empunhava a arma e nela estava um anel com uma pedra vermelha em um dos
dedos.
Ela
estava de frente para mim de forma que eu pude ver uma luz no fundo de seus
olhos abandonar o seu corpo, sangue escorria de sua boca no momento que ela
sussurrava “me perdoe” e assim o corpo de Gisele tombou sobre o meu parecendo
pesado mais pesado do que alguma vez foi e eu cai mais uma vez deitado no chão com
o corpo dela em cima do meu foi quando perdi os sentidos, acho que me deram
como morto também na certa pensaram que o tiro tinha alvejado aos dois pois
quando eu acordei minutos depois o estacionamento estava vazio com exceção de
mim e meus fantasmas.
Me ergui
meio confuso com o corpo de Gisele no colo e ali como um menino chorei sua
morte, procurando uma explicação para tudo o que tinha acontecido ali e não achei nenhuma deixei ela deitada no
chão com delicadeza e sai correndo para a escuridão que nos envolvia gritando
em ira por onde eu corria só encontrava as
paredes do estacionamento demorou um pouco até que achei a saída.
A rua
estava deserta a iluminação publica já enfraquecida pela aurora, olhava para os
lados e não via nenhum sinal de ninguém quando um som de sirene me assustou de
repente descendo a avenida dezenas de luzes vermelhas piscando vinham
aumentando de tamanho, fui preenchido pelo medo, não sei por que, mas fugi
corri na maior velocidade q conseguiu imprimir as minhas Pernas cansadas.
- então
essa é a sua história? – perguntou o policial sentado agora de frente para mim,
seus dedos entrelaçados em frente ao rosto ele me olhava sério seus olhos
penetravam fundo parecia que estava lendo minha mente e que tinha visto a mesma
cena que eu tinha contado em minha mente – Mais alguma coisa? – falou ele –
como você explica esses dias desaparecido?
- Eu fugi
depois que vi as viaturas chegando, meu mundo tinha ruído eu não sabia o que
fazer vaguei por um dia nas ruas, quando descobri que estavam me culpando pelo
assassinato da pessoa que eu mais amava no mundo.
“eu
queria achar os responsáveis por essa barbaridade, mas com a policia nas minhas
costas eu não iria conseguir então eu saquei dinheiro peguei um carro e corria
para onde a estrada me levasse, e ela me levou para o interior, quando parei e
tomei ciência de onde estava notei que estava no norte do Paraná entre a divisa
com Mato grosso, e lá eu o encontrei”.
-
Encontrou o que? Quem? – perguntou ele parecendo nervoso.
- Um
velho vaqueiro – respondi – eu vi o olhar nos olhos daquele velho, algo me diz
que ele já esteve aqui antes – falei olhando para os lados.
- Por quê?
- Por que
a experiência lhe torna sábio não é o que dizem?
- Do que
você esta falando?
- Ele
sabia de muita coisa daqui de dentro – respondi – da sua milícia – a expressão
do velho Bill mudou e sua mascara passou a mostra uma ponta de medo ele tentou
se mexer, mas eu o prendi com a minha vontade – ele me deu as respostas para
todos meus enigmas seu miserável – a raiva explodia em meu peito – o homem quem
planejou tudo o que aconteceu naquele estacionamento contratou sua milícia para
acabar comigo, E VOCÊ – gritei e neste momento a mesa voou e grudou no teto se
esmagando, e o policial a minha frente voou também direto para o vidro da
parede espelhada que se trincou e ali ele ficou como que se com uma força
invisível a pressionar ele contra o vidro – você foi quem puxou o gatilho e
matou Gisele – eu me levantei e andei com tranqüilidade para perto dele, podia
sentir a presença dos outros policiais tentando forçar a entrada para a sala,
mas eu os impedia, de repente a porta começou a ficar incandescente e todos que
encostavam nela se queimavam.
- O que é
você? – perguntou ele lutando por ar.
- Muitas
coisas o velho me fez lembrar, eu era criança é verdade mas eu sabia que eu era
filho de uma arma e uma arma também, mas eu nunca precisei usá-la e ela ficou
adormecida, mas aquele velho tinha o dom, e fez acordar o demônio dentro de mim
– falei, olhei meu reflexo no vidro trincado, meus olhos tinham sumido em vez
deles apenas uma orbita negra rasgada por veias brancas estavam, em minha face
veias estavam saltadas e negras – eu sou
o que você poderia chamar de uma alma velha – falei olhando para ele e o rosto
dele se torceu em agonia – você pode achar que eu sou um demônio,mas seja o que
for sou alguém o qual você não devia ter mexido – falei e todas as paredes da
delegacia ficaram incandescentes também, alguns policiais tentaram fugir mas as
portas se trancaram – estou cansado dessa vida, estou cansado de bandidos como
você, e eu não sou o único que pensa assim, amanha as manchetes dos jornais
estamparam a história de como uma delegacia sumiu em luz não deixando nenhum
sobrevivente – as luzes começaram a brilhar mais e mais, o vidro se estilhaçou
de vez, Bill caiu morto do outro lado e o prédio da delegacia se explodiu...
E o vento
levou minhas ultimas palavras para onde quer que Gisele estivesse.
“Agora eu sei que você nunca me
magoaria.
Sei que nosso amor era de
verdade.
Pode soar engraçado agora, mas eu sei que você não estava sorrindo”.
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