Eu estava com o rosto contra
o vidro frio do ônibus que veio dos Campos Gerais, o vidro embaçado pela minha
respiração um arrepio subiu minha espinha, aquele ônibus estava frio, a voz de
minha mãe ecoou em minha mente, “vai de
calça, no ônibus é frio” eu ri dela “da
onde mãe olha o calorão que está aqui”.
- Por que não ouvi ela –
resmunguei para mim mesmo, o ar condicionado do ônibus gelava até os ossos de
tão forte.
- Falou comigo? – uma
senhora de idade resmungou em resposta.
- Não senhora estava me
lembrando de uma coisa que minha mãe me disse, está muito frio aqui – falei eu
me abraçando para espantar o frio.
- É nunca escutam – falou
ela dando um tapa na minha cabeça. Se virei para a janela novamente, observando
a paisagem já escurecia lá fora.
- Então o que te trás a
capital rapaz? – perguntou a senhora “droga
por que eu fui responder da primeira vez? Quis ser educado e agora ela acha que
eu quero conversa”.
- Eu vou cursar letras na
UTFPR ano que vem – respondi com um sorriso no rosto.
- Letras? – a senhora
repetiu – Vai fazer musica?
- Não minha senhora Letras,
é mesma coisa que português...
- Rá! – ela exclamou – quer
ser professor? – ela continuou – quero ver você vive com um salário de
professor, eu tinha uma vizinha que era professora, espere uns anos e você vai
dar razão ao que eu digo seu moço daí você vai pensar como agora pouco, teime
como fez com a sua mãe daqui a um tempo você vai ficar pensando Bem que a Dona Mufasa me avisou – falou
ela imitando um tom de voz mais grosso que sua voz.(eu não me lembro o nome
daquela senhora que veio o no meu lado na viagem até a capital por isso a
chamarei de Mufasa, mas para frente vocês saberam por que) “ainda
bem que eu não quero ser professor” pensei eu, já tinha pensado nisso antes
de servir ao exercito um ano antes quando estava descobrindo o que eu faria da
minha vida logo depois de sair do colégio, pensei em fazer Ciência da
computação, pois achava melhor lidar com computadores do que pessoas, mas logo
vi que os computadores eram ainda pior do que as pessoas, demorou um pouco para
que eu percebesse que a única coisa que eu gostava na verdade que era ler meus
livros e escrever meus próprios pois pessoas fictícias são melhores companhias
na maioria das vezes do que as do mundo real, e eu tinha decidido que faculdade
eu faria, mas o que me levava a deixar para trás o ninho da mãe, pois em minha
cidade eu meu futura lecionar, e bom... Eu não tenho paciência para tal coisa.
Então restou-me abandonar minha pacata cidadezinha no interior e partir de
“Mala e Cuia” para a capital onde as oportunidades nesta área será maior (assim
espero) de volta de meu devaneio notei que aquela senhora esperava alguma
resposta para uma pergunta a qual não tinha ideia do que fosse, então sorri e
acenei com a cabeça, e me virei para fora novamente.
- Quanto tempo falta ainda?
– sussurrei depois parei e pensei “droga
qual o meu problema por que tive que perguntar em voz alta? Ela vai achar que
eu estou querendo prolongar a conversa”, de fato foi ela respondeu.
- Não muito, agora acabamos
de passar por São Mateus agora só umas duas Horas – “Por Eru” praguejei eu “tudo
isso ainda” não me virei nem para agradecer a velha senhora, em vez disso
fechei os olhos para fingir que estava dormindo quando ouvi.
- Ai minhas pernas – gemeu
ela ao meu lado “não,não,não,não...”
rezei eu, quando viajo de ônibus sempre viajei nas primeiras poltronas, nunca
soube por que, mas uma das explicações era ficar mais longe possível do banheiro
e de seu cheiro, mas uma das contra propostas era que (como eu temia que aquela
senhora estava fazendo ou iria fazer) era esticar os pés descalços no vidro da
cabine do motorista (o que eu acho nojento... Ah alguns me chamam de fresco por
isso e outras coisas mais) espiei com um
olho era exatamente o que ela estava fazendo.
Passou uns dez minutos lá
fora já era noite quando ela me dirigiu a palavra novamente.
- Ei filho se importaria de
fechar a cortina? Quero dar uma cochilada até nós chegarmos na rodoviária.
Eu fechei a cortina e fechei
meus olhos, mas não dormi, nunca conseguiu dormir em viagem,coloquei os fones de ouvidos e dei play começava a
introdução de Thunderstruck do AC/DC. Duas faixas para frente a nona sinfonia
de Beethoven, outras duas e por incrível que me pareça eu estava cochilando.
Desperto do meu ultimo
cochilo longo retiro os fones do ouvido
e o ônibus se mostra escuro e quieto apenas o som do motor rugindo
abafado Lá de fora quebra esse silencio, mais um tempo e começam os sussurros
dos outros passageiros eu abro um fresto na cortina para espiar lá fora e fico
bestificado com a imagem que chega aos meus olhos, como uma criança bestificada
que olha pela primeira vez a capital de seu estado um caipira que olha as luzes
de uma verdadeira cidade grande.
Um dos prédios me chamou
mais a atenção nunca fiquei sabendo qual era ele na verdade eu naquela hora eu
queria que fosse o meu ou ao qual eu iria morar com o meu primo (HAHAHA doce
sonho de criança) esse prédio era envolto na escuridão da noite mas subia a
metros á cima rumo ao céu e dele milhares de luzes como se fossem estrelas
capturadas do céu e presas naquela torre, era magnífico.
Eu chego a rodoviária, e o ônibus para em um solavanco
suave, as luzes do interior se acendem, e todos ficam em polvorosa para sair
dele, a senhora do acento ao meu lado é carregada pela multidão vinda dos
acentos de trás do ônibus cabine a dentro e depois escada abaixo.
- Parece uma debandada – me lembro do Rei leão – Pobre
Mufasa.
Espero o povo sair depois mais tranquilo eu começo a
sair, passando a fronteira entre a porta do ônibus e o ambiente externo um
mormaço me atinge quase me ocasionando um choque térmico, por fim pego o
mochilão no bagageiro e me viro para o portão de desembarque fico ali
paralisado por alguns momentos nunca tinha visto tanta gente junta desde que
meu primo pisou em um formigueiros (ou seja eu nunca tinha visto tanta gente
junta, pois do formigueiro saíram milhares de formigas e não pessoas) a estação
rodoviária era um verdadeiro formigueiro humano, centenas de pessoas andando de
um lado para o outro e dentre elas nenhuma conhecida.
- Essa não!
Sai do portão hora arrastando a mala hora a carregando
uma mala enorme daria para esconder duas crianças e uma família de cachorros e
ainda sobraria espaço, eu parei Novamente ao lado do portão muitas pessoas
passavam por mim sem olhar outras resmungavam que minha mala estava
atrapalhando o trafico ali, mas eu fiquei por ali por uns vinte minutos depois
resolvi procurar alguém de conhecido (por que mesmo eu fiz isso? #Fica-a-dica:
quando você esta perdido não se mova do único lugar onde as pessoas que você
procura sabem onde te encontrar, eu sai...)
Andei arrastando aquela mala abrindo caminho por pessoas
estranhas, contornei a rodoviária e não achei ninguém e o pior se perdi ainda
mais, agora nem sequer me lembrava em qual portão tinha desembarcado, fiquei
parado por mais um tempo quando resolvi fazer umas coisa, depois de contornar a
rodoviária cheguei ao guichê da mesma companhia rodoviária a qual eu tinha
vindo de minha cidade natal até aquele mar de gente, e ali eu iria fazer a
única coisa que eu achava possível se fazer naquelas condições antes que o
ultimo ônibus partisse eu iria comprar uma passagem de volta para minha casa
pois eu havia me perdido em uma rodoviária.
O que acredite se quiser não é a primeira vez...
(1993 – Era uma manha quente, uma jovem grávida de seu
primeiro filho viajava sozinha vinda de Joinville De onde tinha ido visitar a
família do marido, ela nunca tinha viajado sozinha na vida, mas seu marido teve
que voltar mais cedo, pois o trabalho o chamara e ali estava ela sozinha indo
rumo a cidade de Porto União seu destino final, Já haviam se passado 4 horas de
viajem e então passaram o portal daquela cidade e o ônibus parou na rodoviária.
Ela deu graças por ter parado pulou do ônibus pegou suas
malas e saiu da rodoviária, Lá pelas tantas ela começou a estranhar a própria
cidade, via uma igreja que nunca tinha visto antes uma escola... só depois ela
se deu conta de que tinha descido na cidade errada, ela andava agora por
canoinhas uma cidade antes de seu destino ela desceu do ônibus... Sim essa
jovem era minha mãe e o bebe que ela carregava em seu ventre era eu) de volta
de meu pequeno devaneio eu estava de frente para o vendedor que me perguntava:
- Em que posso lhe ser útil?
Eu estava pronto para pedir uma passagem de volta quando
ouvi. Uma moça falou por cima do barulho da multidão, a voz vinha dos
alto-falantes da rodoviária.
- Sr. Luiz Fernando Tuk. Seu primo o espera na central de
informação...
- Hã sim – respondi para o vendedor – você saberia me
informar aonde fica a central de informações da rodoviária?
O rapaz me
explicou o caminho e lá fui eu arrastando minha mochila, quando eu cheguei no
corredor que levava a central de informação uma cabine de vidro de uns 3X3
metros, lá podia-se ver um balcão com um computador no qual a moça do
auto-falante ficava e sentado em umas cadeiras a frente estava meu Primo
Marcelo Tuk mexendo em seu celular quando ele desviou o olhar da tela do
celular e me viu se levantou da cadeira dirigiu-se até a moça falou qualquer
coisa para ela que sorriu, depois a beijou por cima do balcão e saiu.
- Ei
primo! – gritou ele da porta – por onde você andou? Te procurei por toda parte,
pensei que você tinha ido em borá de novo – eu sorri nervoso.
- Estava
de procurando também – falei agora ele já estava a poucos passos de distancia,
quando ele saiu correndo em direção.
- Quanto
tempo Nando – falou ele correndo de braços abertos em minha direção, “a não, não, não você não vai fazer isso...
sim ele vai fazer isso” quando nós éramos mais crianças Marcelo sempre fora
maior do que eu e quando nós nos encontrávamos ele sempre fazia o que ele
estava fazendo agora diante de todos que passavam pelo corredor, ele me
abraçara e erguera me deixando com metade do corpo para cada lado de seu ombro.
- É
bastante – respondi com o pouco do ar que tinha nos pulmões então ele me
colocou de novo no chão.
- Como
foi de viagem? – perguntou ele começando a andar.
- Foi
boa...
- Santo
cristo – praguejou ele – que mala pesada você trouxe sua mãe junto com você?- e
gargalhou.
- Não –
eu ri – então namorando é? Sempre vai ser um alivio para sua mãe ela sempre
achou que você fosse Gay – eu ri, mas ele ficou sério.
- Uol!
Primeira regra do apartamento, sem piadinhas de Gays – ele me repreendeu – e
não, não estou namorando.
- Ué
mais e aquela moça ali – apontei para trás a moça do auto falante.
- Ah ela, só estava agradecendo um favor – ele
deu de ombros – vamos pegar o taxi para ir para casa nós temos muito o que
conversar.
Quase
uma hora depois nós chegamos ao apartamento se Marcelo.
- Lar
doce lar – falou ele ao entrar pela porta – bem-vindo Nando – eu entrei logo
atrás e joguei a mochila no chão e me sentei em um sofá ao lado de Marcelo –
aqui é a sala – falou ele, eu reparei era bem espaçosa tinha uma TV LED um som
um sofá em forma de L na estante nenhum livro “que pena” eu um canto um computador – ali nesta porta é a cozinha,
do outro lado são os quartos o banheiro.
- Ual! –
exclamei – bem grandinho até, isso que minha mãe me assustou que os
apartamentos são uma fortuna aqui que provavelmente nós dividiríamos uma
sala/quarto/cozinha.
- Mas
ela não esta errada – falou ele ligando a TV – o aluguel aqui custa uma fortuna
minha companheira de quarto paga a maior parte do aluguel – ele falou, no
momento que alguém gira a chave do outro lado da porta – a deve ser ela chegando,
Ta aberta – gritou ele.
Então a porta se abriu, pareceu uma cena de cinema em
minha cabeça até uma trilha sonora tocou ao fundo, pela porta entrava a mulher
mais linda que eu já vira na vida, morena de cabelos lisos e negros que se
ajitavam como se um vento sobrasse forte do corredor para dentro do cômodo, pele cor de chocolate, perfeitinha em um corpo
escultural. Senti meu queixo caindo
devagar, meu coração se acelerou, eu tinha me apaixonado a primeira vista, e
então meu primo sussurra ao meu ouvido.
- Ela é Gay Nando – minha boca se fechou meu mundinho se
quebrou como se fosse de vidro, ele se levantou do sofá.
- Daiane peguei mais uma na rodoviária hoje minha conta
já fecha em 20 neste começo do ano – falou.
- pegou é? – falou a moça – que nota ela?
- uma 8.
- Até acredito – falou ela fazendo pouco caso, fechando a
porta jogando e indo para o sofá.
- Não ta acreditando é? – meu primou fez a cena de um
cara que esta sofrendo um ataque cardíaco, levando a mão ao peito – Nando conte
a ela, que nota você daria a moça da central de informações?
- 8 ou mais – respondi depois de um tempo.
- ah Daiane, esqueci de apresentar, esse é o Nando meu
primo que vai mora conosco.
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