quinta-feira, 30 de abril de 2015

“As aventuras de um tímido, do garanhão, da lésbica, do sensível e de sua amiga gótica” Season 01 Capitulo Extraordinário – A Aventura Da morte da Democracia.

NOTA:Este capítulo não estava programado, mas como a história se passa "em tempo real" em Curitiba, e como a maior afronta a democracia do Estado se passou no ultimo dia 29, isso não poderia ficar de fora da historia, vou ter que fazer algumas mudanças no capitulo " A aventura da classe Proletária" que se passa um dia depois (no dia 30), mas não tinha como deixar isso passar, esse capitulo ainda está bruto, farei algumas alterações nele também quando tiver mais tempo, mas que quiser lê-lo, eu terminei agora a pouco, tinha que estravazar minha revolta de algum jeito, ele é um pouco diferente dos outros capítulos afinal não a espaço para comédia no episodio apesar do circo que o governador vem armando em cima disto:

29/04/15 perto das 13h.
- Nando-
— Ué vai aonde? — Daiane me perguntou quando passo pela sala.
— Vou até o centro cívico! — respondo.
— Que diabos você vai fazer lá? Não viu o que aconteceu ontem? — Marlon fala.
— Hoje vai ser diferente, mandaram tirar o cerco a ALEP — respondo.
— Mandaram, mas não tiraram! — Ane responde — eu vi na TV, Nando Isso não vai prestar — ela murmura — você já não pediu a conta na construtora? Amanhã não vai ir no escritório do Marcelo para pedir emprego? Fica e descansa hoje aqui! Assiste um pouco de TV! — eu olho para a tela da televisão, por coincidência o jornal está repedindo as imagens do que se passou na manhã de ontem, manifestantes tentando tirar a viatura que bloqueava a via publica e a policia despejando spray de pimenta na cara dos manifestantes.
— Como é que eu vou ficar em casa enquanto esta acontecendo tudo isso lá fora? — pergunto.
— Eu consigo — Marlon murmura dando de ombros —  A deixa ele — Marlon fala para Ane, quase a agradeço, mas daí ele continua — ele deve estar precisando de nota!
— Não é nada disso — respondo frustrado — vou justa mente para que isso — eu aponto para a TV — não se repita!
— No que você poderia ajudar? — Marlon ri — se o choque descer criança, tu vai apanhar.
— Não! é justamente isso, ontem eles desceram por que não havia muita gente lá na praça, eu vou para fazer volume, ouvi dizer que estão barrando a passagem dos ônibus do pessoal que vem do interior se juntar aquele que estão acampados na praça — respondo — hora, se os do interior não conseguem chegar, nós que estamos aqui na capital temos que nos unir a eles! — eles me olham sem piscar em uma total imagem de desinteresse — na verdade vocês deveriam vir comigo, apoiar os professores — nenhuma reação — a qual é vocês nunca tiveram professores na vida?
— Sabe — Daiane se espreguiça — não acordei com um espírito revolucionário hoje.
— Também não — Marlon concorda olhando para a janela — e ainda está frio e chuviscando!
Eu não falo mais nada, saio do apartamento e faço questão de bater a porta ao fazer.
***
Centro Cívico Curitiba – PR, 14:30
— Daí cara — Bruno está ao meu lado, ele estuda comigo, combinamos de nos encontrar ali, belo plano, havia tanta gente que nós quase nos desencontramos — pensei que não tinha vindo — ele me fala, é muito difícil de ouvi-lo, muitos gritos — aqui ta meio parado! — ele grita ao meu ouvido — estamos no início da avenida — vamos lá para frente! Lá ta mais movimentado!
Eu concordo, estamos muito próximos do carro de som, aquilo estava me dando dor do ouvido, avançamos pelo meio da multidão, ouvimos muitos gritos de “FORA BETO RICHA”, pelo caminho. Demoramos quase meia hora para chegar a praça, onde alguns professores estavam acampados. Reparo pela primeira vez na assembléia. Quando cheguei ali fiquei sabendo que o cerco continuava, um absurdo sem tamanho, mas Ane tinha razão, grades cercavam o prédio da assembléia legislativa do Paraná, a casa do povo esta presa, policiais militares faziam um cordão de isolamento logo atrás das grades, lembrei de um vídeo que havia visto ontem na internet os professores dando Bom dia para eles quando chegavam para ocupar a praça, estava vendo de muito longe ainda, mas não conseguia acreditar que aquele cordão que via em fotos estava realmente ali.
— Aqui já está bom — Gritei para bruno, ele olhou para mim, falou algo, mas não consegui ouvir, ele fez uma careta e veio mais para perto de mim e gritou.
— Daqui não da nem para ver o helicóptero!
— Helicóptero! — repeti — por que diabos um helicóptero estaria aqui perdeu o juízo cara? 
— Não ficou sabendo? — ele respondeu — o governador mandou um helicóptero vir para cá, acho que ele esta com medo do povo invadir o palácio ele ter que fugir! Ele deve estar por aqui em algum lugar! — bruno recomeça a andar olhando para os lados procurando algo.
— Estão começando a votação! — ouvi uma mulher falando do carro de som — Estão começando a votação! — repetiu ela — fomos impedidos de acompanhar a votação das galerias da ALEP — ela falava, ouvi vaias de todos, muita gente gritando, uma confusão.
— Cara olha lá! — bruno gritou por cima dos ombros — parece que o bicho começou a pegar lá na frente! — ele sai correndo eu vou atrás dele, consigo ver o que ele se referia um empurra, empurra começava mais para frente, parece que alguém estava tentando pular a grade os policiais empurravam quem tentava pular e desferia golpes de cassetetes em que tentasse se aproximar novamente.
— Bruno! — gritei, ele não me ouviu, os professores lá da frente chamavam outros para forçar o cerco, eu corri e puxei bruno pela alça da mochila — vamos ficar por aqui mesmo cara — eu falo estamos em um campo aberto a uns cem metros de onde acontece o empurra, empurra.
— Qualé nós não viemos para ajudar? — ele me responde.
— A votação começou! — gritava o carro de som.
— Viemos apoiar os professores, mas eu não estou afim de levar uma cacetada na cara — eu respondo olhando para frente, o bloqueio havia sido quebrado, as grades estavam sendo arrancadas, os policiais recuavam desferindo golpes a torto e a direito — tenho uma entrevista de emprego amanhã, não posso ir machucado!
— O clima começa a esquentar agora aqui na frente da assembléia — um repórter passa ao meu lado falando ao microfone — os manifestantes romperam o cordão de isolamento da policia militar!
BAM!
Ouço uma explosão vinda lá da frente o repórter está no chão, manifestantes correm alguns de volta outros mais para perto da assembléia, fumaça se ergue e se espalha rápido pelo ar, meu rosto começa a arder.
— Puta que pariu! — eu grito — nós ficamos muito perto cara! — eu grito para bruno.
Ouço algo vindo do carro de som, mas não entendo o que é meus tímpanos estão zunindo por conta da explosão, vejo gente gritando e correndo, meu coração começa a bater no peito tão forte que chega a doer.
“BAM” “BAM” “BAM” ”BAM” “BAM” “BAM”...
Por um segundo acho que são as batidas de meu coração, meu sangue gela quando me dou conta que não é, penso que são explosões, mas são mais fracas.
— O choque ta descendo! — bruno grita saindo correndo, ele já esta com a camiseta protegendo as vias aéreas.
Então reconheço, não são explosões, já havia ouvido algo parecido em minha imaginação enquanto lia, Bernard Cornwell descrevendo batalhas medievais onde guerreiros marchavam batendo lanças em escudos de madeira, mas desta vez não era imaginação. O choque avançava marchando, com seus cassetetes batendo em seus escudos em ritmo militar.
“BAM” “BAM” “BAM” ”BAM” “BAM” “BAM”...
— Recuem! — ouvi a voz do carro de som desta vez de um homem — não enfrentem! Recuem! Não estamos aqui para apanhar do choque! Recuem! Não joguem nada! Levantem as mãos! Recuem!
Muitos começaram a correr, para trás, para o lado, mas ninguém para frente. Muitos se mantinham parados no meio da rua de mãos levantadas. Vi uma pessoa caindo no asfalto, na certa atingido por uma bala de borracha.  Mais explosões e tiros, topei com uma arvore e se escondi atrás dela, bruno ficou ao meu lado.
— Acho que posso dar adeus a ideia de ir inteiro para aquela entrevista amanhã — falo olhando para a cena a minha frente.
— Fica tranquilo cara — bruno responde — o choque só vai refazer o cordão, viu quanta gente tem aqui? O governador não é louco de mandar a policia descer o cacete em todo mundo!
Uma moça vem correndo com uma mascara no rosto, ela esta mancando, e, quando chega mais perto, reparo que a mascara não serviu de muita coisa, ela tossia violentamente!
— Você está bem? — pergunto quando ela fica ao nosso lado.
— Eles estão loucos! — ela gritou rouca em resposta.
O batalhão de choque continuava a vir da assembléia, agora paravam de marchar quando estavam mais próximos dos manifestantes que continuavam na rua pararam de marchar e avançavam de vagar atrás dos escudos.
— Isso vai virar uma chacina! — a moça continuou ainda rouca, então se converteu em um espasmo de tosse.
— Sem violência! — gritava o homem do carro de som — nós não estamos armados! Recuem! Não enfrentem! sem violência comandante! Por favor nós não somos criminosos! Somos trabalhadores!
Vi uma mulher correr em direção a formação do choque, e sentar-se no asfalto um pouco a frente, ela fez sinal para que outros se juntassem a ela, mas não ouve tempo para isso, um soldado saiu da formação, ergueu o escudo por cima da cabeça da mulher e desceu dando um golpe que a atingiu nas pernas.
— Que é isso! — gritei revoltado, enquanto ele continuava a desferir mais golpes, a formação logo se fechou ao redor do agressor e sua vitima, o soldado puxou a mulher e a arrastou para dentro da formação, e a parede de escudos se fechou — que absurdo! — gritei.
— Canalha! — ouvi bruno gritar também.
— Covardes! — ouvia do carro do som — sem violência! Nós educamos seus filhos! Sem violência!
Os professores recuavam, os policiais avançavam, as bombas explodiam, as balas voavam. A fumaça que impregnava o ar tornava difícil a respiração.
“ TÁ-TÁ-TÁ-TÁ-TÁ...”
Ouvi um som por cima de tudo, ele continuava, o vento se agitou, folhas voavam da arvore que usávamos de abrigo, olhei para cima.
— Ai está o seu helicóptero! — falei para bruno apontando para o céu.
— Ué o governador já ta fugindo? — ele perguntou.
— Não — ouvi a resposta da moça ao nosso lado — o sacana está vendo tudo do alto do palácio Iguaçu! — ela nos mostrou uma foto no celular, era do facebook, alguma tal de Lucy tinha postado o link de uma manchete do portal Paraná. A pagina se atualizou e li outra manchete, com a foto de um homem com a mão sangrando, a manchete dizia “ Deputado mordido por cão da PM ao tentar sair da assembléia”.
— Acho que temos a resposta do que os helicópteros vieram fazer aqui então — Bruno começa a falar.
— Os? — pergunto confuso, a ardência nos olhos aumenta.
— Tem dois — ele aponta para o alto, eu olho para onde ele esta apontando e vejo que dois helicópteros descem fazendo vôos rasantes, e despejam bombas de gás no meio da multidão.
— Não acredito que isso está acontecendo — murmuro para mim mesmo. Uma bomba explode ao meu lado, Bruno cai ao chão com o rosto sangrando e gritando de dor, estilhaços da bomba acertaram o rosto dele — você está bem? — pergunto, ele está com o rosto sangrando e esta gritando que pergunta idiota foi a minha.
— Temos que sair daqui — ele grita em resposta.
— Você consegue andar? — pergunto a ele que se levanta.
Mais pessoas passam correndo por onde estávamos, muitas sangrando, machucadas, vi um professore que um dos olhos estava inchado e de um tom vermelho escuro que me deu arrepios.
O ar estava cheio de gás lacrimogêneo e de pimenta, mas os olhos que lacrimejavam em todos ali, não era por isso. Não vivi na ditadura militar, mas me senti em uma, “ e foi assim que no centro Cívico da capital morreu a democracia do estado” pensei.
Mais bombas explodiram ao meu redor, Bruno se levantou gritando de dor, a moça que estava ali ao nosso lado o ajudou o segurando de um lado eu de outro, os policiais continuaram avançando, vi muitas pessoas caindo no chão vitimas de balas de borracha na certa, meu corpo ficou instável como o clima de Curitiba, fervilhou, com a raiva que sentia, ficou frio logo depois com o medo que as explosões causaram, depois fervilhou novamente ainda pelo medo que sentia.
— Ai droga, isso realmente dói — bruno praguejou  — por falar nisso, qual é o seu nome? — ele perguntou para a moça que o ajudava.
— Bruna — ela falou ainda com a voz rouca.
— Não me diga! — ele riu, depois gritou novamente, o sangue escorria por sua face — vamos logo sair daqui, acho que posso correr obrigado.
— Tem certeza? — perguntei.
— Sim! Corram! — ele iniciou a corrida e nos puxou junto, um soldado que batia em um manifestante a dez metros de nós resolveu mudar de alvo e veio atrás de nós.
— Sem violência! — gritava os auto-falantes do carro de som — nós não estamos mais na frente da assembléia — a mulher voltara a falar no microfone, e implorava para que parassem o ataque. Mas a policia continuava.
O ar estava nublado de fumaça, meus pulmões já quase não conseguiam tragar o oxigênio minha visão estava turva, a pele queimava, os olhos lacrimejavam, e os tiros continuavam, passamos por diversas pessoas ajoelhadas em sinal de rendição, então aquela dor.
— Ai Caral** — gritei ao cambalear para frente, senti uma dor na coxa e esfolei minha Mão na queda.
— Fernando! — Bruno voltou para me ajudar.
— Ai! — agora era minha vez de gritar de dor, eu sentei no chão e agarrei minha coxa, havia um rasgo na parte de trás da calça, minha mão tocou a parte dolorida, um espasmo viajou por todo o sistema nervoso e chegou a cérebro,  olhei meus dedos estavam sujos de sangue.
— Bala de borracha cara — bruno puxou meu braço para que eu levantasse — vamos temos que sair daqui, vamos ser pisoteados pelos caras se não sairmos.
— Sem violência, por favor! — gritava a voz do auto-falante — deixem as ambulâncias passarem!
Levantei, senti uma dor terrível ao apoiar a perna direita no chão, mas corri mesmo assim.  Pessoas passavam de um lado a outro, a rua era um terror.
— Para lá — gritou Bruno ao passar por um grupo de pessoas que voltavam para a praça — não adianta ficar aqui, temos que sair daqui!
— Ir para onde? — respondeu um homem do grupo — estamos encurralados, estão jogando bombas de todos os lados! Dos helicópteros, de cima dos prédios... — uma explosão ali perto nos impediu de ouvir o que ele dizia. Senti uma garoa fina começar a cair, depois um jato de água, foi quando percebi que o batalhão de choque já estava quase em cima de nós e o caminhão blindado que vinha atrás despejava água para cima de nós.O grupo de pessoas continuaram seu caminho, nós o nosso.
— Para onde vamos? — perguntei para Bruno, estava se esforçando para acompanhar o ritmo de corrida dele, sentia o sangue escorrer por minha perna.
— Ali — ele apontou para um ponto de ônibus perto de onde estávamos.
— Está louco? — falei para ele —ficaremos encurralados lá.
— Cara, olha em volta! Você mesmo ouviu, não temos para onde ir, e você vai perder a perna se continuar a correr de um lado para outro, precisamos de um abrigo.
— Entra! Entra! — gritavam as pessoas lá de dentro do ponto, era um dos pontos de ônibus de vidro preto da capital, em um formato de cilindro deitado, não sei como consegui pular a catraca, mas consegui lá dentro o ar estava mais puro, haviam pelo menos cinco pessoas ali dentro, e algumas choravam.
— Vocês estão feridos? — perguntou um homem quando nós entramos.
— Nada muito grave — respondi lutando para manter a voz firme — levei um tiro de borracha na coxa.
— Um estilhaço me acertou a cara — Bufou bruno ao meu lado.
As bombas continuavam do lado de fora, quase não conseguia ver nada do lado de fora do ponto de ônibus.
— Ai que raiva — murmurou Bruna, batendo na própria coxa de frustração — “A bomba é lá fora, o que acontece lá fora é problema da secretaria de segurança publica não desta assembléia, nós continuamos a votação” diz o presidente da casa... — ela lê de seu celular mais um post do facebook.
— Esses miseráveis — falou o homem que estava ao nosso lado — querem pegar o nosso dinheiro ao custo do nosso sangue! — ele dá as costas para nós e vai para o outro canto da sala acalmar uma das mulheres que soluçava desesperada.
Via pessoas passando correndo pelo ponto em desespero, ouvia tiros, explosões e  sirenes, e os gritos de clemência do carro de som, os helicópteros que continuavam a sobrevoar o centro, aquilo parecia uma cena de guerra, ou melhor um massacre.
— Eles estão vindo! — gritou Bruna desesperada — eles estão vindo! — soldados do choque desciam a rua e estavam próximos ao ponto onde estávamos, atiravam para todos os lados.
— Calma guria — Bruno a abraçou — eles não são monstros, não vão entrar aqui — ele falou seguro, mas me olhou com incerteza.
No fim ele teve razão os soldados passaram por nós sem fazer nada, mas um minuto depois o vidro se rachou em um estouro, todos gritaram de susto, algo caiu no chão rolando.
— Uma bola de gude! — Bruno reconheceu — a borracha acabou seus desgraçados? — ele gritou para ninguém.
— Meu deus, quando isso vai acabar? — perguntei para mim mesmo.
— Esses miseráveis, dão sorte que são professores ai fora! — murmurou Bruno — duvido que outro tipo de cidadão iria ter o sangue frio de não reagir em uma situação como esta — eu concordei — você veio no protesto de junho? — ele me perguntou.
— Não, eu não morava aqui ainda — respondi.
— Quando a policia veio para cima de nós, nós só revidemos, eu tenho orgulho da dignidade desses professores ali fora, mas acontece que neste país, não adianta fazer protesto pacifico, tudo acaba em sangue, se bem que daquela vez tão nada mudou igual— ele deu de ombros — a democracia é algo que só existe no papel mesmo.
Lá fora a confusão continuava.
— Comandante, o gás está se espalhando pela região, já atingiu uma creche aqui perto, reforçamos o pedido! Parem com essa loucura! Parem com essa violência! — a mulher no carro de som continuava a falar, e as bombas também não cessavam.
***
— Ai meu deus Nando! — Ane me recebe quando passo pela porta do apartamento — que bom que chegou, eu estava preocupada, você está bem?
— Não — respondi a ela, tinha passado no pronto socorro e tinham feito um curativo na minha perna, mas não era a isso que eu me referia — estou com o espírito quebrado.
— Ai Jesus — Marlon vem logo atrás de Ane — nós vimos tudo pela TV, o que foi aquilo!
— Um massacre — respondi — foi isso que foi.
— Você está sangrando? — perguntou Ane, Marcelo passou a frente dela e de Marlon, parecia preocupado, colocou o dedo na mancha de sangue seco no meu couro cabeludo.
— Não, nossa, acho que essa é a primeira vez que você chega em casa sujo de sangue e o sangue não é seu! — eu bato na mão dele, e vou mancando até o sofá, eles me seguem — Cara você ta um bagaço — meu primo continua — se esqueceu que amanhã você tem uma entrevista de emprego?
— Pode ficar tranquilo — respondo para ele — eu só apanhei do pescoço para baixo, como você disse esse sangue não é meu, estou inteiro para amanhã.
— Então — Ane começa — como foi ser revolucionário? Doeu muito as cacetadas? — eu a olhei sério.
— O que doeu mais foi o peito, foi ver como os professores são tratados neste estado — eu comecei a falar — ver pessoas apanhando da policia sem ter feito nada de errado, nunca tive problema com a policia, nunca nem fui revistado, se um dia tiver filhos, como vou falar que a primeira vez que apanhei da policia foi defendendo algo que era certo?
“ Não quero ser professor, mas imagino como é que aqueles que estavam naquele campo de guerra hoje vão entrar na sala de aula, e falar de justiça e democracia se passaram por tudo isso! Penso que o dever do educador não é dizer o que o aluno deve pensar, mas ajudá-lo a pensar por si próprio, agora me diga como é que o professor vai fazer isso sabendo que neste pais é melhor ser ignorante! Pois se você parar para pensar você irá passar raiva ao saber de tudo o que está errado e por nunca ver nada mudar! E pior, se você vai cobrar mudanças, você é tratado como lixo! Como marginal!”
“ Olha, meu vocabulário não é tão pobre assim, mas ainda assim não tenho palavras para descrever o que estou sentindo, um misto de indignação, revolta, raiva e acima de tudo, tristeza”.
    
   

terça-feira, 28 de abril de 2015

“As aventuras de um tímido, do garanhão, da lésbica, do sensível e de sua amiga gótica” Season 01 Capitulo 14,15,16 – A Aventura da Classe Proletária.


- Nando -

Ouço gemidos vindos da porta do apartamento, penso em virar as costas e sair novamente, mas me lembro que não tenho para onde ir, fui pedir a conta na construtora na manhã seguinte depois que Marcelo me falou da vaga no escritório que ele trabalha, lembro que combinamos de nos encontrar em casa para ir ao escritório depois que eu volta-se, então resolvo abrir a porta de vagar.
A porta abre sem fazer ruído algum, vejo duas pessoas sentadas no sofá, mas os gemidos vêm da TV, eu entro no apartamento e vejo que Daiane está acordada assistindo um filme pornográfico.
─ Érr hum ─ gaguejo meio constrangido ─ O Marcelo está? ─ pergunto, ela nem pisca ou desvia o olhar da tela.
─ Acho que não ─ ela fala ─ sente para esperar ─ ela indica um lugar vago no sofá.
─ Hum ─ eu travo por um instante ─ espere um momento ─ “era um homem ali na tela?” os filmes que geralmente Daiane assistia eram, bem... ─ você está vendo um filme hetero?
─ Pois é, ─ ela confirma ─ to tentando decorar como esse cara fez aquele negocio lá ─ ela fala fazendo uns gestos estranhos com a mão.
─ Bom você sabe que a anatomia do homem é diferente da sua.
─ Hein? ─ ela pergunta parece que nem ouviu o que eu disse.
─ Sabe homens tem um coisa a mais... ─ a outra pessoa ri, eu então reparo nela, ela me parece vagamente familiar, mas não me lembro quem é. Uma menina de cabelos azul e maquiagem carregada vestida de preto.
─ O que? ah! ─ Daiane me olha com os olhos arregalados ─ ai é que esta! Ele fez aquilo com a mão!
Minha cabeça balança em sinal negativo.
─ Você não tem jeito ─ falo sorrindo.
─ Ah, Milena esse é o primo do Marcelo, vocês não se conheciam não é?
─ Acho que não ─ ela fala indiferente.
─ Nando esta é a Milena, ela mora ai no prédio também.
As duas voltam a olhar para a TV e voltam o filme.
─ E você é...? ─ pergunto sem jeito tentando não olhar para a TV.
─ Sou? ─ ela volta a pergunta.
─ Desculpe, é que você está olhando para a tela com um desprezo, você é...
─ Ele quer saber se você é como eu! ─ Daiane ri alto ─ a resposta é não, a Mi tem problemas.
─ Problemas? ─ pergunto.
─ Ela quer dizer que eu sou assexuada ─ ela fala sem vontade, depois suspira, tenho a impressão de que ela já está cansada de explicar aquilo ─ não sinto atração sexual nem por homens nem mulheres.
─ Ah!
─ Não digo? ─ Daiane se vira para mim ─ Problemas!
─ E o que te leva a assistir um filme pornô? ─ pergunto, minha face está pegando fogo, tenho que encerrar este assunto ─ está tentando criar gosto pela coisa?
─ Não, já desisti disso ─ ele fala dando de ombros ─ estou fazendo pesquisa para a faculdade ─ um minuto de silencio constrangedor, “vamos lá, essa é a sua deixa para encerrar o assunto, é só ficar quieto...”
─ Tenho medo de perguntar ─ “droga boca, me obedeça e pare de falar” ─ o que está cursando?
─ Pós em Sexologia ─ ela responde ─ sabe, acho que alguém de fora pode falar sobre o assunto de uma maneira mais imparcial.
─ Hum! ─ mais um segundo de silencio ─ E você? Caiu da cama? ─ pergunto para Daiane.
─ É, tem todo aquele lance de receber a medalha do prefeito por ter acabado com o seqüestro ─ ela responde, a porta se abre.
─ Graças ao bom deus, Marcelo! ─ o sentimento de alivio foi tamanho que ao invés de pensar isso, eu falei em voz alta.
─ Não me leve a mal priminho ─ ele me fala sorrindo ─ mas a ultima pessoa que me falou isso acabou na minha cama.
─ Ta me estranhando! ─ resmungo, ele ri.
─ Eu vi esse ─ Marcelo fala ao chegar perto do sofá ─ aquela coisa com a mão me livrou de muitas ─ Daiane o olha.
─ E não é? Mas até agora não consegui entender.
─ É fácil! ─ ele pega o controle e senta no sofá.
─ É oi?! ─ eu falo ─ da para deixar isso para depois?
─ Ai desculpe, estamos acabando com a inocência dele Ane ─ Marcelo ri começando a voltar o filme ─ você já aprontou seu currículo?
─ Claro!
─ Então vai fazer hora ─ ele nem ouviu minha resposta, típico ─ só vou exportar minha sabedoria aqui e já saímos.
Eu saio da sala e vou para o quarto, minutos depois, ouvindo muitas risadas vindas da sala, vou até lá, no caminho vejo um vulto negro parado no corredor, chegando perto reconheço que se trata da mesma figura que estava antes sentada ao lado de Daiane.
─ Cansou da pesquisa? ─ pergunto.
─ Sim ─ ela responde ─ muitos fluidos corporais me enojam ─ ela não tira o olho de um quadro da parede ─ e a história se repete ─ ela murmura.
─ Desculpe?
─ A pontuação ─ ela indica o quadro, este que eu não tinha reparado até então, o quadro tinha a foto de Daiane com dois dedos levantados e mostrando a língua, ela tinha um boné de aba reta torto na cabeça “linda que dói”’ e uma de Marcelo levantando as duas golas de uma camisa pólo e fazia biquinho, logo abaixo uma pontuação marcada em linhas douradas, abaixo de Daiane a conta passava de 50, enquanto Marcelo estava em 35 ─ a Ane sai sempre na frente!
─ Como é que é? Isso não é novo?
─ Ah não, eles fazem isso desde que eu os conheço já faz acho que dois anos ─ ela fala se virando e se dirigindo a sala.
─ Finalmente encontrei alguém mais anti-social do que eu ─ murmuro para mim mesmo ─ quem ganhou as edições anteriores? ─ pergunto indo atrás dela.
─ Nos últimos dois anos, foi o Marcelo ─ ela responde ─ a Ane sempre sai na frente, mas acaba se apegando a alguém no caminho, e ai o mister dama de ferro passa a perna nela.
─ Até que em fim ─ Marcelo nos encontra na entrada do corredor ─ já estamos atrasados ─ ele me fala.
─ E a culpa é de quem? ─ pergunto.

Part 2
Ele saiu do Ap e eu fui correndo atrás, pegamos o ônibus para o centro, ele esta lotado como sempre.
─ Preste atenção Nando ─ ele começa falar, o ônibus esta tão apertado que é difícil até respirar ─ isso é de extrema importância para que você consiga o emprego.
─ Ué, pensei que eu ia entregar o currículo lá e você ia falar bem lá de mim etc...
─ Oh, My sweet sumer child ─ ele fala, não acredito que ele acaba de citar Game Of Thrones ─ primeira coisa que você tem que ter em mente é: Nada é tão simples com a dona Daisy ─ ele olha pela janela como se olhando para o nada ─ mas eu tenho um plano.
─ Posso saber qual é? ─ pergunto.
─ Mas é claro, como é que você vai seguir o plano se não sabe dele? Que pergunta ─ ele olha para mim novamente, o ônibus para e um outro passageiro entra um homem gordo que força a passagem pelo corredor e me espreme contra o vidro do ônibus ─ bom, primeiro, dona Daisy tem um problema com coisas quebradas ─ ele fala.
─ Obrigado pela parte em que me toca ─ ele parece confuso por um segundo.
─ Ah, não ─ ele sorri ─ não isso, meu plano é o seguinte, você entrega o currículo lá, daí eu falo que nós somos parente e estamos brigados, não, na verdade que nós se odiamos, e vou falar muito mal de você.
─ Como? ─ eu quase grito ─ Você esta maluco? Você sabe que eu dependo deste emprego.
─ Relaxa primo, e confia em mim ─ ele põe a mão em meu ombro.
─ E que emprego é esse? Tipo qual seria minha função?
─ Serviço de rua ─ ele fala indiferente ─ um serviço com muita responsabilidade.
─ Será que sou qualificado para trabalhar nisto? ─ pergunto, ele olha para cima com uma cara concentrada.
                        *****Flash Back 1 *****
Marcelo está na frente do prédio do escritório onde trabalha, uma moça passa por ele e sorri.
─ É ─ André um de seus colegas que está ao lado grita ─ Também gostei de você! ─ a moça se assusta e acelera o passo ─ Que é isso, são seus olhos! ─ ele continua gritando a moça quase tropica nos próprios pés na corrida ─ viu isso? ─ André pergunta para Marcelo ─ as gurias me amam.
**** Flash back 2 *****
Meio dia, novamente Marcelo em seu horário de almoço, conversava com Cintia, (ou seria Karina) ele está quase a beijando, os olhos da moça já estão inquietos, a respiração acelerada.
─ Oió Marcelo ─ André esta ao lado dele e sem sapatos ─ Acho que estou com um Bicho de pé! ─ ele grita uma turma de crianças que estava voltando da escola começa a rir quando passam.
*** Flash Back 3 ***
Natal passado, Marcelo, Laerte e Suzalha caíram no sorteio daqueles que iriram ter que fazer serão no fim de ano.
─ Mas que droga! ─ Laerte esta com o punho fechado e a cabeça apoiada nele em uma pose de total desinteresse ─ Por que mesmo temos que ficar aqui?
Ninguém responde, minutos depois ele e Marcelo encontram os presentes que os diretores tinham comprado para os filhos dos funcionários da festa de fim de ano, um deles é uma bola de futebol, um olha para o outro com o mesmo pensamento.
(...)
No dia seguinte.
─ Não sabemos dona Daisy, nós estávamos aqui olhando para planilhas e números intermináveis quando o vidro da sua sala explodiu em mil pedaços ─ Marcelo está ao lado de Daisy, as faxineiras varrem os cacos do vidro que um chute de Laerte não defendido por ele, atingiu a janela do escritório.
─ Que estranho ─ ela parece intrigada, mas nem desconfia o que realmente aconteceu.
***
─ É ─ ele me fala depois de um segundo ─ acho que você atende as expectativas.    
─ Espere um minuto ─ a ficha cai ─ Você não estava fazendo isso ontem?
─ Hum? Ah sim ─ Ele da de ombros ─ Então, o trabalho é andar na rua o dia todo.
─ E como é que eu vou andar pela cidade, eu nem sequer conheço a cidade!
─ UH ─ ele faz Bico ─ acho melhor você não falar isso, Observe ─ Ele sorri com os olhos ─ Basicamente você ira fazer isso o dia todo ─ ele vai até o fim do ônibus, encoxando todas as garotas que estavam de pé no ônibus, depois começa a voltar para onde eu estou.
─ Hei! ─ uma mulher grita ─ Tarado! ─ e dá uma bolsada na cara de Marcelo, ele continua seu caminho ─ Motorista! ─ grita a mulher ─ Pare o ônibus ─ ela começa a apertar a campainha do ônibus ─ Tarado! ─ ela continuava a gritar.
Os outros passageiros do ônibus começam a gritar, mais bolsadas, o ônibus para em um solavanco brusco, Marcelo chega perto de mim.
─ Disfarça, deu creps ─ ele sussura depois grita ─ Tarado socorro!
Um homem enorme me segura pelo colarinho, mal a porta do ônibus de abriu e eu já estou rolando na calçada, em uma das cambalhotas avisto Marcelo descendo pela escada em uma tranquidade, como se nada tivesse acontecido.
─ Se machucou? ─ ele pergunta.
─ Não ─ falo ─ não cheguei a ralar nada.
─ Bom, respondendo a sua pergunta ─ ele começa a andar ─ Você vai de ônibus de um lado ao outro da cidade.
Ele olha no relógio, depois acelera o passo, andamos por um quarteirão então encontramos um ônibus saindo de outro ponto, ele saiu correndo atrás deste.
─ Espera! ─ Marcelo grita, eu corro atrás dele, quando acho que o motorista não nos viu, o ônibus para ─ Ufa! ─ ele respira fundo antes de subir as escadas ─ Valeu parceiro.
Neste ônibus, por incrível que pareça esse ônibus não estava cheio pelo contrario acho que era o ônibus da terceira idade, havia nele seis banco vagos, nós sentamos em um deles.
─ Bom ─ Marcelo começa a falar ─ eu entro você espera alguns minutos e daí sobe, eu não vou estar junto para de apresar então vê se não se atrasa pra fazer isso também! ─ no pequeno mundinho de meu primo acho que isso que ele falou deve fazer algum sentido ─ a dona Dayzy não contrata gente que vai deixar currículo depois das nove, ela diz que só gente que não quer trabalhar.
Eu concordo, seguimos em silencio por alguns minutos.
─ E como você fez para entrar lá? ─ pergunto em fim, Marcelo dá de ombros.
─ Eu Tinha um Chegado lá dentro que me ajudou ─ ele levanta ─ esse é o nosso ponto.
Saltamos do ônibus, vejo meu primo entrar no prédio da Moreira e Moreira Empreendimentos Empresariais, e Acessória Jurídica. Espero alguns minutos então vou em direção ao prédio.
Part 3
******** ENQUANTO ISSO NA SALA DE JUSTIÇA**********
- Marcelo -
Estou tamborilando os dedos na mesa, não me lembro por que, mas tenho a sensação de que esqueci algo. Dona Daisy me olha da sala dela então começo a tamborilar os dedos em cima do teclado, o segredo é parecer ocupado, mas ainda assim parece que esqueci algo.
Daisy levanta de sua cadeira olho o relógio 08: 55, “ Ah ela deve estar indo pegar os currículos do dia” penso, então como um choque a lembrança parte minha cabeça.
─ Cacilda o Nando! ─ levanto correndo a cadeira quase cai quando o faço, chego ao balcão do andar, onde advogados escrivães, e os mandas-chuvas deixam seus documentos e onde, na parte da manhã aqueles que vem pedir emprego aguardam para que dona Daisy os entreviste.
A sala não esta muito cheia, estão dois guris magricelas sentados ao lado de Nando, então lembro-me de uma ultima dica para dar a ele.
─ Acho bom vocês conhecerem a cidade não é rapaziada! ─ falo com os olhos fixos em Nando.
─ Hei o que esta fazendo? ─ a secretaria cuja nunca sei o nome grita quando me vê pegando os currículos.
─ Eu nada, o que Você esta fazendo? ─ olho o currículo de Nando e o separo do resto e me viro sem dizer mais nada.
─ Marcelo volta aqui! ─ a moça vem atrás de mim, assim como eu previ. Se tiver sorte estamos bem na hora ─ eu te vi pegando um papel da caixa dos currículos o que é?
Me viro e escondo o currículo atrás das costas bem na hora que dona Daisy sai da sala.
─ Do que esta falando?
─ Tu não me provoca guri ─ a pele branca dela está ficando vermelha de raiva, sinto o papel escorregar da minha mão e antes que eu pudesse me virar ouço dona Daisy falando.
─ Luiz Fernando Tuk ─ ela lê ─ Sobre nome de hobbit eu já não conheço alguém com esse nome? ─ ela pergunta para si mesmo “dona Daisy e suas fantasias que ninguém entende” suspiro fundo ─ e o que você esta fazendo com isso? Moçinho, o que ela diz é verdade?
─ Érr... ─ eu finjo ter sido pego no pulo ─ Sim.
─ E por que você faria isso? É sua tarefa recolher os currículos?
─ Não, é que...
─ Acho bom você ter uma boa explicação.
─ É que eu comentei com a minha avó quando ela veio passar a páscoa comigo, que nós tínhamos vaga aqui e acho que ela comentou com a minha tia, e então resultado, meu primo esta sentado no sofá esperando a entrevista.
─ E pensou que me dando pessoalmente o currículo de seu primo iria adiantar o lado dele não? ─ ela da um rizinho arrogante com o canto da boca.
─ Na verdade não, e que eu e ele não nos damos bem sabe ─ eu escondo a boca com a mão e cochicho para que só dona Daisy ouça ─ Ele é meio vagabundo sabe.
─ Hum ─ ela olha para a secretaria ─ Que hora esse rapazinho chegou?
─ Quem?
─ Meu primo, magrela capelo parece um ninho de guaxinim comprido com cara de pamonha! ─ falo em um impulso.
─ O rapaz mais próximo desta descrição ─ pergunta Daisy.
─ Ah, ele foi o primeiro a chegar, bem tímido ele, parece gente boa, bem diferente deste ai ─ ela indica para mim ─ acho que era 8:35 quando chegou não me lembro.
─ Acho que você faz muito mal juízo do seu primo Marcelo ─ ela enrolou o currículo em um cone enquanto a secretaria falava e agora batia com ele na minha cabeça ─ a regra das nove não mente nunca!
“Mande os outros embora secretaria, pois encontramos o nosso homem” podia completar a frase por ela, pois ela tinha mordido a isca.
******
- Nando -
Entro na salinha que a secretaria me indicou, não entendi por que eu que cheguei por primeiro fui deixado por ultimo.
─ Sente-se anjo ─ falou a senhora que estava atrás de uma escrivaninha a sala era pequena, claustrofóbica até parecia um armário de vassouras.
─ Meu nome é Daisy, o seu é... ─ ela olha para a folha do meu currículo que esta toda amassada ─ Luiz Fernando...
─ Tuk ─ respondo minhas mãos estão suadas.
─ Desculpe falar isso, mas é que soa tão engraçado.
─ É parece tirado da terra média! ─ falo antes que possa controlar a língua.
─ Hum então você é um fã de fantasia? ─ ela me pergunta com um sorriso satisfeito, concordo com a cabeça, “é impressão minha ou essa sala está encolhendo?”
─ Pois bem, como ficou sabendo desta vaga querido? ─ ela me pergunta.
─ Minha mãe disse que tinha visto na gazeta do povo ─ minto.
─ Ah.
─ Não que ela esteja me obrigando a trabalhar, eu vim por conta própria, eu preciso muito do emprego.
─ Acredito filho, acredito ─ ela começa a ler o currículo.
─ Estuda na federal? ─ ela parece assustada.
─ Sim, letras ─ respondo.
─ Ah vai ser professor é?
─ Que deus não te ouça, viu o que eles tiveram que fazer no centro cívico no começo do ano para receber? ─ respondo por instinto, sorrio nervoso, penso por um minuto, e decido falar logo ─ eu quero ser escritor.
─ Ah! ─ ela me olha por cima das lentes dos óculos ─ Profissão bonita essa, muito nobre ─ ela sorri ─ mas você vai acabar sendo professor ─ ela deixa o currículo de lado ─ bom já que precisa do emprego, o que acha de começar hoje a tarde?
─ Sério? ─ eu falo entusiasmado ─ Por mim poderia ser agora mesmo.
─ Ótimo! ─ ela bate palminhas pode ir falar com o Laerte ele vai te instruir sobre suas funções.
─ Obrigado dona Daisy prometo dar o meu melhor ─ falo, antes de sair da sala ouço ela falando pelo telefone.
─ Clarisse querida pode dispensar os outros, nós já achamos nosso homem.
                        ******Mais Tarde*********
─ Viva! ─ estamos de novo no apartamento, Marlon estoura uma champanhe.
─ Bem vindo à classe proletária! ─ Marcelo fala sorrindo ─ é uma droga! Do jeito que você é estranho, você vai adorar!
Marlon começa a servir as taças, primeiro para a menina Milena, depois Marcelo, Daiane e a própria.
─ Droga temos que comprar mais uma taça ─ fala Marlon ─ o coitado ficou sem!
Marcelo virava a sua taça e já enchia outra.
─ Não tem problema ─ falou eu ─ não gosto disso mesmo.
─ De jeito nenhum ─ Daiane fala ─ nós estamos comemorando seu emprego como assim você não vai beber? Nada disso, tome ─ ela oferece a própria taça, beba.
─ São não beba muito primo ─ Marcelo deixa derramar um pouco de bebida pela boca ─ Amanhã o expediente começa as 8:30.
─ Ta brincando né? ─ Milena fala ─ amanhã é feriado, como é que alguém vai trabalhar no feriado do dia do trabalhador?
─ Você nunca trabalhou para uma empresa grande não é mesmo? ─ responde ele ─ Eu te disse é uma droga ─ ele encolhe os ombros.
                        ******* DIA 01 de Maio 10h ********

Sai cedo de casa, nem esperei Marcelo para sair, não queria chegar atrasado no primeiro dia de trabalho, mas quando o relógio da 10h e as portas do escritório ainda não se abriram é que me dou conta. Aquele filho da mãe me enganou, é claro que ninguém trabalha no dia do trabalho!

“As aventuras de um tímido, do garanhão, da lésbica, do sensível e de sua amiga gótica” Season 01 Capitulo 11,12,13 – A Aventura do Sequestro.


- Daiane -
─ Ai, cabeça doendo ─ murmuro ─ Porque isso sempre acontece quando eu acordo? ─ eu estou com as mãos na cabeça ─ Será que tenho que procurar um médico, será que é câncer, será que a Cris me contaminou?
─ Béeee ─ Marlon grita ao meu lado imitando o som de uma campainha desses game shows quando o participante erra a resposta ─ Que sorte a sua, acordei meio médico hoje ─ eu o olho por entre os dedos, ele finge olhar uma planilha ─ Dor de cabeça ao levantar ─ ele coça o queixo, depois bate na mesa com as duas mãos levantando da cadeira aproxima seu rosto do meu e fala ─ A senhorita já tentou acordar mais cedo? Dormir menos?
─ Idiota! ─ eu o empurro, ele sorri. Olho para o relógio já são quase onze e meia.
─ Bom dia ─ Marcelo entra na cozinha.
─ O que faz aqui? ─ eu pergunto olhando novamente ao relógio para ter certeza que eu vi certo ─ Você não deveria estar no trabalho?
─ Me colocaram para fazer serviço de rua hoje ─ ele se senta em uma cadeira, se vira para Marlon ─ que cheiro estranho ─ ele chega mais perto ─ é você?
Marlon o olha ofendido, e sai do apartamento sem olhar para ele.
─ Malvado ─ eu resmungo.
─ O que eu falava? ─ ele para por um minuto ─ ah, sim! Me mandaram no banco, estou na fila ainda ─ ele sorri malicioso ─ depois eu vou no banco aqui da frente, o Nando já chegou?
─ Não sei ─ respondo.
─ O que temos para o almoço? ─ ele pergunta.
─ Rá, você trouxe algo junto contigo?
─ Não ─ ele levanta e começa a revirar a geladeira ─ o que foi isso? ─ ele olha para a sala, eu também ouvi ─ foi um ronco?
─ Foi ─ saímos correndo para a sala, uma pessoa esta de bruços no sofá, esta todo sujo e roncava alto, olho para os lados e focalizo Marcelo com o escorredor de louça nas mãos ─ Sério?! ─ eu falo para ele ─ esse foi o objeto mais ameaçador que encontrou?
Ele começou a fazer uns sinais com as mãos, e sussurra algo inteligível.
─ O que?
─ Vai ver quem é ─ ele resmunga ─ te dou cobertura.
─ Que cavaleiro ─ eu reviro os olhos.
─ Ninguém pode saber que eu estou aqui lembra? Estou dando nó no serviço.
Eu vou ver quem é o cadáver no sofá, quando o cutuco, Nando pula do sofá gritando.
─ Cara que susto! ─ eu grito Marcelo aparece na porta da cozinha.
─ Quem é? ─ ele pergunta.
─ Obrigado pela cobertura ─ ele vem com o peito inflado.
─ Eu sabia que não tinha perigo algum ─ “mentiroso, cagão na certo reconheceu o Nando agora.” ─ o que faz aqui? ─ ele pergunta.
─ Ta chovendo a obra parou, tenho à tarde de folga.
─ Você está puro um zumbi primo ─ Nando esta todo coberto de cimento e parece que ainda não acordou.
─ Se tem uma coisa para qual eu não sirvo, é construção civil ─ ele fala meio dormindo.
─ E por que não para? ─ ele ficou procurando por emprego desde o carnaval, e o único que tinha encontrado era como pião em uma construtora.
─ Não posso ─ ele se endireita no sofá ─ não quero ficar dependendo da minha mãe, ou vivendo da caridade de vocês para sempre.
─ Não vai ser para sempre ─ eu começo ele ergue uma mão para me calar ─ pense nos seus estudos... ─ tento então.
─ Já que você não vai trabalhar, posso comer isso? ─ Marcelo já está comendo o que seria o almoço de Nando.
Passado das uma da tarde, Marcelo se levanta do sofá.
─ Vou trabalhar ─ fala ele, Nando esta dormindo na sala mesmo, nem almoçou, meia hora depois, ouço barulho de tiros vindos da rua, Nando se acorda assustado.
─ Ai meus deus, é tiro! ─ Marlon entra correndo no apartamento gritando, mais tiros ecoam pela janela ─ Caramba a janela esta aberta! ─ ele vai correndo fechar, depois volta correndo e se joga no sofá.
─ Por que você fechou a janela loco? ─ pergunto.
─ Por quê? ─ ele quase grita ─ não imagina o perigo? Já pensou se entra uma bala perdida por ali? ─ eu e Nando nos entreolhamos.
─ Você sabe que a bala iria entrar aqui mesmo se ela estivesse fechada não sabe? ─ Nando pergunta, Marlon ri nervoso.
─ É claro que eu sabia... sei, espere... Quase me enganou,  ─ ele senta no sofá, parece estar confuso ─ gente mais foi perto daqui, ─ eu olho para a TV, na tela imagens aéreas da rua onde fica nosso prédio, com a manchete “Roubo a banco em andamento”.
─ Você nem imagina o quanto ─ respondo.
─ Hei ─ Nando esfrega os olhos ─ essa não é a nossa rua?
─ É sim ─ concordo, a imagem se aproxima e corta para uma câmera terrestre, as primeiras viaturas de policia já estão cercando a área, a imagem da TV focaliza dentro da agencia bancaria.
─ Aquele lá é...
─ O Marcelo! ─ nós três reconhecemos, pode-se ver a imagem de pelo menos quatro pessoas encapuzadas e armadas, no meio delas estava Marcelo, a imagem não tinha o áudio do interior da agencia, mas nem precisávamos disso para saber que ele gritava, ou melhor berrava desesperado.
─ Meu primo ─ Nando murmura para a TV ─ um exemplo de coragem.

Part2
─ Ai meu deus ─ Marlon coloca a mão a frente da boca ─ Vou ligar para ele.
─ No mínimo tiraram o telefone dos... ─ Nando começa a falar,a imagem de Marcelo na TV para de gritar, e começa a remexer no bolso.
─ Alô ─ Marlon fala ao celular ─ Marcelo?
─ Ele atendeu? ─ Pergunto.
─ Shii ─ Marlon me cala ─ Docinho você está na TV.
─ Põe no Viva-Voz ─ Nando Fala.
─ Sim, de um tchauzinho! ─ Marlon continua a falar ignorando Nando ─ você está? aqui não apareceu, e depois dizem que é ao Vivo ─ eu tomo o celular da mão de Marlon e coloco no viva-voz, quando a imagem de Marcelo começa a acenar para a câmera ─ Ah! O Marcelo da TV começou a acenar pra nós gente ─ Marlon começa a acenar de volta.
─ Mas agora eu não estou acenando ─ a voz de Marcelo fala do telefone.
─ Que negocio mais furado isso ─ Marlon cruza os braços.
─ Primo como você está? ─ Nando corta o assunto aflito.
─ Ah, Nando eu estou no viva voz? ─ ele pergunta ─ estou mesmo aparecendo na TV? O que eu estou fazendo agora? ─ na TV um dos bandidos começa a se aproximar de Marcelo.
─ Tem gente vindo ─ eu falo no mesmo instante que uma voz feminina fala ao fundo na linha.
─ Olha vejamos aqui ─ fala a voz ─ temos um querendo bancar o herói e falando com a policia?
─ O que? ─ Marcelo parece assustado ─ não, eu estou falando....
─ Não acredito! ─ a mulher responde interrompendo ─ Marcelo?
─ Hum, desculpe? Nós nos conhecemos...
─ Oh sim! ─ a mulher fala podia jurar que com um sorriso frio.
─ Desculpe não estou reconhecendo sua voz, sabe eu geralmente evito manter relações com criminosos....
─ Não está me conhecendo? ─ a pessoa tira o capuz, parece uma mulher morena, pela imagem da TV não da para ter certeza.
─ Hum ─ Marcelo fica parado olhando para a figura a sua frente.
─ É claro que não conhece, típico...
─ A louquinha !Não é? Hã...como é mesmo o nome? ─ eu quase me lembro esta na ponta da língua, Marlon chega mais perto da TV.
─ Scheila? ─ ele me olha com as sobrancelhas franzidas.
─ Mas é claro que conheço ─ Marcelo fala cheio de segurança ─ É Scheila não é?
─ Você se lembra?! ─ ela parece emocionada ─ não importa ─ ela volta a falar brava ─ Isso não concerta as coisas eu encontrei outra pessoa, uma que me da valor.
Porra Scheila ─ uma outra voz fala do outro lado da linha, embora mais grossa ainda feminina, essa me soa estranhamente familiar ─ Como é que você me tira o capuz esse lugar ta cheio de câmeras!
─ Hã desculpa, mas é que parece que estamos na TV! ─ Marcelo fala.
─ E quem é você? ─ a segunda voz pergunta.
─ Esse é o meu ex ─ Scheila fala.
─ Agora eu estou conhecendo ─ a segunda voz fala ─ é aquele pulha do Marcelo não é?
─ É Sim ─ Scheila fala ─ ele é que está com a policia no telefone.
─ Como é que é? ─ a segunda voz fala arrancando o telefone de Marcelo com violência ─ Alô! ─ um arrepio agourento percorre minha espinha.
─ Hum, Aline?! ─ eu respondo, o nome dela surgiu na minha mente.
─ Como raios você sabe meu nome? ─ ela grita ao telefone, na mesma hora eu desligo o telefone.
─ Bom ele vai se safar não é? ─ falo, de repente a TV parece tão interessante.
─ O que? ─ Nando quase grita ─ você desligou?
─ Sim, e... ─ o telefone começa a tocar novamente, é o numero de Marcelo, eu desligo.
─ Qual é?! Me passa o telefone aqui, quero saber como está o meu primo!
─ Bom acho que todos nós pudemos ver que ele está em uma bela de uma enrascada ─ Marlon fala, o telefone começa a tocar novamente Nando o toma de minha mão.
─ Alô ─ fala ele ─ Fernando o primo daquele que está seqüestrado ─ uma pausa ─ sim a Daiane esta aqui ─ ele fala me olhando ─ não ela não vai falar com, seja lá quem for você, eu quero falar com o meu... ─ uma pausa ele arregala os olhos, fica por um segundo em silencio e depois abaixa o celular.
─ O que aconteceu? ─ Marlon pergunta.
─ Eles falaram que vão matar o Marcelo ─ ele fala, Marlon solta um gritinho histérico ─ Mas parece que antes vão torturá-lo, se a Ane não for ao banco.
─ Eu!? ─ sinto minha face ferver.
─ Mas a policia vai resolver tudo, não vamos expor ninguém ao perigo desnecessário ─ Nando fala.
Todos ficamos em silencio, fitando a TV, a imagem da figura encapuzada que sei que é Aline falando ao telefone está em tela cheia, e a repórter fala que ela esta ao telefone com a policia negociando termos de rendição.
O telefone toca novamente, Nando recusa a chamada, depois de cinco minutos a TV volta a mostrar imagens ao vivo, vemos um corpo caído no chão de traz de uma mesa, reconhecemos que é o de Marcelo.
Outra figura se aproxima de Marcelo e o carrega para uma das salas, o telefone toca poucos segundos depois, Nando atende.
─ Para onde vocês levaram o meu primo? ─ ele grita ─ Ah! Marcelo?! ─ ele parece confuso ─ sim,... é o Marcelo, ele quer falar contigo ─ ele me oferece o telefone.
─ Hum, alô?! ─ eu atendo.
─ Ane? ─ é a voz de Marcelo, mas ela soa ofegante, e um tanto assustado ─ Ane me ajuda, eu to lascado, a Scheila louca me pego aqui, se lembra dela né? ─ ele pergunta ─ Ane, eles falaram que vão me matar, Ane, eles estão fazendo coisas comigo ─ ele faz uma pausa depois quase grita ─ eles estão fazendo coisas comigo, e eu estou começando a gostar! ─ outra pausa ─ Me tira dessa, por favor.
A linha cai, eu paro e reflito na situação por um momento, então eu já sei o que fazer, eu tenho que salvar o Marcelo, Nando começa a falar algo que nem ouço olho para Marlon, ele entende.
─ Não, não, não ─ ele se levanta do sofá ─ o senhor não vai a lugar nenhum ─ ele senta no colo de Nando, eu saio correndo, Nando tenta me seguir, mas não consegue se mover ─ quietinho querido ─ Marlon fala para ele, eu saio do apartamento.
Part 3
Entrar no banco não foi o problema, a policia não esperava que alguém fosse louco para fazer o que estava fazendo, foi quando cheguei a porta giratória é que parei para pensar no tamanho da loucura que estava fazendo. Eu, de vontade própria, estava entrando em um lugar cheio de pessoas armadas, perigosas e loucas o suficiente para assaltar um banco, e além disso com uma ex-namorada no meio dessas pessoas.
─ Veja como esse mundo é pequeno ─Aline me recepciona assim que entro no banco, ela esta encapuzada, mas eu sei que é ela.
─ Que decadência hein amiga? ─ falo eu com minha melhor voz fria tentando maquiar meu medo com arrogância ─ no meu tempo você não era bandida, ou era? Minha falta foi um golpe e tanto para ti não foi?
─ Eu quase nem me lembrava que você morava por aqui ─ ela fala indiferente, dou uma olhada nos reféns, todos amarrados, não havia muitas pessoas, se contavam dez clientes era muito, haviam duas freiras em um canto rezando, um outro senhor próximo a elas e o restante todos amarrados na parede oposta aos caixas, junto com os funcionários ─ foi o Marcelo que me lembrou.
─ Cadê ele? ─ eu pergunto agressiva, ela já esta perto de mim e segura meu braço ─ nós vamos ao encontro dele, por aqui.
Não sei quem são os outros que invadiram o banco além de Scheila e Aline, mas não da para negar que nenhum deles é um grande gênio, enquanto ela me conduz para uma salinha fechada, reparo que não há ninguém cuidando dos reféns.
Na salinha para a qual Aline me conduz encontro Marcelo jogado em um canto à sala parece um escritório, está todo revirado papeis cobrem o chão, Scheila está ao lado de Marcelo que parece inconsciente.
─O que fizeram a ele? ─ eu pergunto indo para perto dele.
─ Nós? Nada ─ Scheila fala.
─ Apenas demos um coquetel de vodka, cogumelos e dipirona que deve estar fazendo ele ter uns sonhos bem loucos ─ Aline fala ─ ele grita mais do que uma velhinha ─ posse sentir a respiração dele, eles não o mataram ─ vai acordar em alguns minutos, até lá...
─ Amor ─ Scheilainterrompe, “amor?!”.
─ O que eu falei sobre me interromper mulher? ─ Aline resmunga.
─ Espere um minuto “amor?” eu ouvi direito? ─ pergunto espantada.
─ Sim ─ Scheila se aproxima de Aline e a abraça ─ eu estava perdida quando esse canalha me deixou ─ ela olha para Marcelo que em seu sonho resmunga algo que não entendo ─ a Aline me ajudou a superá-lo.
─ Mas quando você estava com ele ─ eu vasculho minha memória ─ eu estava com você! ─ eu fuzilo Aline com o olhar.
─ Veja só como age o destino não é? ─ Aline fala.
─ Uol! ─ exclamo ─ vocês duas se merecem.
─ Obrigado ─ Scheila me fala sem notar que era um xingamento ─ você é até que bem compreensiva ─ de repente uma idéia me ocorre, uma louca, mas o que até ali não fora uma loucura.
─ Bom, felicidades a vocês ─ Minto eu ─ hei! ─ grito de repente como se tivesse tido uma idéia ─ quando o Marcelo acordar nós podemos descobrir quem de vocês tem o melhor sexo? ─ depois que as palavras saem da minha boca vejo que elas são mais absurdas do que pareceram de inicio.
─ Como? ─ Scheila pergunta confusa.
─ Ué nunca se perguntaram quem de vocês é a melhor? ─ eu continuo ─ Não percebe que temos aqui? Você ─ eu aponto para Scheila ─ teve com ele ─ aponto para Marcelo que esta se babando ─ e bom... ─ eu olho para Aline.
─ Isso é ridículo ─ Aline fala.
─ Não, eu até que gostaria de saber ─ Scheila se separa de Aline “ela mordeu a isca”
─ Eu conheço seu rosto ─ Marcelo acorda, mas acho que ainda esta delirando.
─ Por que esse rizinho? ─ Scheila empurra Aline ─ Você está com medo de descobrir que eu sou melhor não é?
─ Não...
─ Ah como você se acha! ─ Scheila começa a estapear Aline, e as duas começam a rolar no chão, “é agora, nossa chance” .
─ Vamos campeão ─ eu passo o braço em torno de Marcelo para o deixar de pé.
─ Oba vamos passear! ─ ele balbucia ─ Nossa, que legal você sabe voar!
─ Shii ─ eu o calo.
Ao sair da sala, vejo que os cúmplices das duas ainda não voltaram seja lá para onde foram, ninguém guarda os reféns, eu deixo Marcelo no chão próximo a um deles e desamarro o refém mais próximo, todos correm para a saída depois de livres, o senhor que estava próximo as freiras quando entrei vem me ajudar a carregar Marcelo.
─ Muito obrigado minha filha ─ ele fala ─ nunca na minha vida pensei em passar por uma situação dessas.
─ Loucura não é? ─ falo, a adrenalina esta a mil, olho por cima do ombro, ninguém nos segue.
─ Qual é a situação lá dentro? ─ um dos policiais vem ao nosso encontro.
─ Acho que somos os últimos ─ eu falo ─ há duas pessoas brigando na sala do gerente, os outros eu não sei, não deixaram ninguém nos vigiando.
Os oficiais entram no banco em fila outros conduzem os reféns para as ambulâncias que estão mais para o lado.
─ Eu acho que vou vomitar ─ Marcelo fala, eu o largo no mesmo instante, ele cai de cara no chão ─ Ops ─ murmuro, olho para a agencia os policiais já estão trazendo cinco pessoas rendidas.
─ Quem dera o Brasil só tivesse bandidos idiotas como estes ─ o senhor ao meu lado fala sorrindo aliviado.
                        ********Mais Tarde*********
─ Que Bom que não houve pânico ─ Marcelo se joga no sofá, já é noite quando voltamos para o apartamento.
─ Que bom mesmo não é? ─ Nando fala em deboche, o telefone de Marcelo toca.
─ Alô! ─ ele atende ─ oi dona Daizy, não... Sim... pois então, Ok! Até ─ ele desliga o telefone ─ hei Nando ─ fala ele ─ você quer mudar de emprego não é?
─ De novo isso? ─ Nando revira os olhos.
─ Não quer? ─ Marcelo franze a testa.
─ É claro que quero, venho dizendo isso desde que comecei, mas fazer o que é o que temos por agora.

─ Bom, é que ─ Marcelo se endireita no sofá ─ lá no escritório tem uma vaga desde o começo do ano, não sei se eu cheguei a comentar isso, mas acho que consigo arrumar pra ti.