-
Milena-
Manhã seguinte a
festa de haloween.
Estou na sala do apartamento de Daiane, minha cabeça está pesada.
─ Cara eu não entendo! ─ falo para Marlon, nós estamos indo
para a cozinha tomar café ─ juro que não bebi.
Vemos Fernando levar uma moça para a saída.
─ Babado! ─ Marlon sussurra ─ você viu isso?
─ Vi, grandes coisas aposto que copularam em que isso me
ajuda com minha dor de cabeça?
─ Aff Milena ─ ele me fala ─ eu vi você devorando as
gelatinas!
─
Desde quando gelatina da dor de cabeça? ─
pergunto massageando as têmporas.
─ Quando ao invés de água vai vodka na receita ─ ele rola os
olhos, eu arregalo os meus.
─ Ué não tem café hoje? ─ Marcelo pergunta entrado depois de
nós.
─ Parece que o Nando estava ocupado hoje de manhã ─ Marlon
comenta.
─
O que pode ser mais importante do que meu café?
─ Marcelo pergunta indignado. Nando entra na cozinha.
─ Teve uma boa noite de sono? ─ Marlon pergunta.
─ Boazinha ─ Fernando responde indo fazer café.
Depois de alguns segundos Marlon bate na mesa.
─ Eu não entendo, você não estava tentando conquistar a Ane?
─ Tava ─ ele responde cruzado os braços se virando para nós.
─ Tai, isso eu também não entendi então ─ falo ─ você quer
conquistar uma e vai lá e dorme com outra?
─
Eu não consigo entender vocês homens ─ Marlon
fala ─ eu pensava que você era diferente.
─
Espere, você dormiu com uma mulher? ─ Marcelo
pergunta animado, Fernando anui em concordância ─ Legal! ─ Marcelo fala ─ te perdôo
pelo café!
─ Eu não sou como ele ─ Fernando começa a falar
indicando Marcelo que começa a ler o jornal que eu trouxe da minha casa ─ eu só
precisava de um último teste, um teste verdadeiro, um que não fosse
com... ─ ele faz uma pausa ─ com um homem travestido, para ter certeza de
que eu realmente tenho alguma chance...
─ Caraca bicho! ─ Marcelo grita ─ cara você tá muito ferrado
─ ele olha de olhos arregalados para Nando.
─ Do que está falando? ─ Nando pergunta assustado, Marcelo
passa o jornal para o outro lado da mesa, Nando se aproxima eu me junto a ele e
leio a notícia, no jornal havia uma foto dele e de Ane descendo de uma moto
carregando sacolas de doces e a manchete "grande escritório do centro
distribui doces para crianças no dia das bruxas em um exemplo de cidadania”.
─ Ai meu deus, eu to ferrado!
─ Por que raios você colocou o uniforme? ─ Marcelo perguntou.
─ Ué como eu ia fazer para entrar no prédio e pegar a moto?
Você não faz isso quando vai pegar a moto escondida?
─ O que? É claro que não, o porteiro nos vê a semana inteira
entrando no prédio, ele já nos conhece é só dizer que você vai abastecer ou
trocar o óleo!
─
Cara o que eu faço? ─ Fernando está quase
pirando Marcelo da de ombros, Marlon parece estar preocupado, e minha dor de
cabeça ainda não passou.
**** Segunda de manhã
na sala da justiça****
-Nando-
Dona Daisy ainda não chegou, o escritório segue suas
atividades normalmente parece que ninguém leu o jornal de ontem. Acho que posso
esperar um pouco de sorte em fim.
─ Luiz Fernando para o meu escritório, agora! ─ fala Daisy ao
chegar. Tá era esperar demais um pouco de sorte.
Eu me levanto e vou na direção da sala dela, olho ao redor
para o escritório e penso "É foi bom enquanto durou".
As luzes parecem ter diminuído, chegando perto da porta do
escritório posso ouvir em minha mente um violão chielo tocando melosamente rains of castamare.
─ Com licença ─ falo ao chegar.
─ Entre, feche a porta, sente-se ─ ordena ela sem nem tirar
os olhos da tela do computador. Eu obedeço, ela me joga um jornal nem preciso
abri-lo para saber que é o de ontem.
─ Olha eu posso explicar...
─ Shiii ─ ela me cala, então me olha por cima das
lentes do óculos ─ sabe onde estava agora senhor Fernando?
─ Não senhora ─ respondo.
─ Em uma reunião extraordinária com a diretoria.
─ Vocês vão me demitir não vão? ─ pergunto jogando a toalha.
─ Era o que eu queria! ─ ela admite ─ mas os diretores pensam
diferente, são empresários afinal das contas, acham que todo marketing é bem
vindo, adoraram a repercussão da notícia, resolveram te promover!
─
Como? ─ pergunto pego de surpresa.
─ A partir de agora você vai cuidar as festas, notas de
imprensa, patrocínios, falar diretamente com os associados, passe suas funções
para o Sailon. Está liberado.
─ Eu fico por um tempo pensando no que acabo de
ouvir. Então me levanto.
─ Obrigado senhora ─ falo viro as costas para sair.
─ E Fernando ─ ouço ela me chamar.
─ Sim ─ me viro novamente para ela que me observa com olhos
frios ─ estou de olho em você.
Saio da sala e vou para minha mesa, fico durante algum tempo
em silêncio absorvendo o que acabou de acontecer, Sailon me trás de volta
ao mundo real.
─ Hei Nando, que bom que você voltou to querendo conversar
sobre uma coisa contigo ─ ele fala eu não digo nada apenas o olho sério, ainda
estou com vontade de dar um murro na cara dele ─ sabe aquela moreninha que mora
com você?
─ A Ane? ─ Marcelo entra na conversa, eu dou graças, não tenho a
mínima vontade de falar sobre isso.
─ Isso ─ Sailon concorda ─ a é esqueci que vocês moram todos
juntos, é bem ela, sabe quem pegou ela na festa de sábado? ─ ele fala todo
cheio de si.
─ A Ane não é do tipo que é pega ela é a que pega ─ Marcelo
fala voltando-se para a tela do computador ─ mas desta vez ela foi pega, e bem
pegada ─ ele continua, não consigo agüentar mais me levanto e dou um soco que
faz o sangue explodir do nariz dele e o fazendo voar para trás o derrubando da
cadeira, bom pelo menos na minha mente eu fiz isso.
─
Impossível, quem fez isso? ─ Marcelo pergunta.
─ Eu ─ Sailon responde com um sorriso malicioso.
─
Rá! ─ Marcelo explode em uma gargalhada ─ cara
escolheu a pessoa errada para inventar uma fama, posso garantir que você não
faz bem o tipo dela.
─ Você diz isso pelo fato de ela ser Gay não é? ─ Sailon
continua ainda com a segurança de quem diz a verdade ─ também achei estranho
quando ela me disse.
─
Ela falou que era Gay e mesmo assim você ficou
com ela?
─ É, tipo nós estávamos á um bom tempo conversando, ela disse
que estava triste porque tinha recém terminado um relacionamento.
─ Eu disse que podia ajudar a fazê-la esquecer ele, então ela
disse "era ela Jean".
─ Espere "ela Jean?" ─ pergunto entrando na
conversa.
─ Ah que você não sabia que meu segundo nome é Jean? ─ ele
pergunta.
─
Não ─ respondo indiferente.
─ Bom então queria saber de vocês que conhecem melhor
ela, será que nós íamos dar certo? Tipo juntos?
─ A essa altura eu já não sei de mais nada ─ falo dando de
ombros.
─ Ah por falar nisso, você já foi falar com a Daisy sobre
aquele rolo da moto? ─ Marcelo sussurra para mim.
─ Já ─ eu respondo normal.
─ Ai cara, sinto muito ─ ele começa a falar em tom de pesar ─
espere, você ainda está aqui, isso quer dizer que você não foi demitido?
─ Oh não! ─ eu respondo ─ fui promovido! Agora vou cuidar do
marketing do escritório!
─ Sério? ─ ele pergunta incrédulo ─ e quem vai fazer as suas
funções?
Eu olho para Sailon com olhos frios e um sorriso vitorioso e
respondo ─ o Jean!
─ O que? ─ ele pergunta ─ eu fui rebaixado? Não é possível!
─ Bom foi o que a Daisy falou, e por falar nisto ─ eu passo
um chumaço de papéis para ele ─ é melhor você começar a distribuir essas folhas
de pagamento aqui, afinal dia cinco tá chegando.
***
- Ane-
─
Marlon ─ falo quando o vejo entrar no
apartamento ─ que bom que você está aqui!
─ Ah que fofo, ela estava com saudades do Ma-mah!
─ O que? ─ pergunto enquanto ele aperta minhas bochechas ─
não eu te vi no café, por que ia ter saudades? ─ falo.
─ O que foi então?
─ Tenho algo pra te contar, e não queria que fosse na frente
dos outros.
─ Qual é o babado desta vez? ─ ele pergunta, sua
criança interior faísca em seus olhos.
─ É melhor você se sentar ─ falo indo para o sofá ele me
segue sente-se e coloca uma almofada no colo.
─
Conta logo ─ ele fala ─ não me esconda nada,
nenhum detalhe sórdido.
─ Bom adivinha quem que nós conhecemos ficou com o Jean?
─
Aquele tudo
que trabalha com o Nando? ─ ele pergunta, eu anuo em concordância ─ deixe eu
ver ─ ele faz uma pausa ─ a Milena? Ela tava meio alterada.
─
Não ─ respondo.
─ Deixe eu ver... O Nando? ─ ele fala incerto ─ vai vê ele
gosto do...
─ Não cruzes ─ falo não sei por que a idéia me causou tanto
desagrado.
─ O Marcelo?! ─ ele fala agarrado meu braço ─ por favor me
diga que sim, me dê essa esperança.
─ O que? Não ─ eu rio desta idéia.
─ Não? Ué mas eu já falei todo mundo!
─
Não todo mundo ─ eu falo.
─ Ué quem eu esqueci? ─ ele começa a contar nos dedos "Milena"
"Nando" "Marcelo" eu começo a agitar os braços como alguém
no meio do oceano para chamar atenção da guarda costeira ─ não, mas eu falei
todo mundo! Quem foi criatura? me diz logo!
─ Eu! ─ respondo ele
se recosta no sofá de queixo caído e olhos arregalados e vazios, e assim fica
por dez segundos.
─ Ma-mah? ─ pergunto ─ você está bem?
─
Estou em choque ─ ele responde ─ você? ─ me
pergunta.
─ Aham ─ concordo roendo a unha ansiosa.
─ Ual! ─ ele suspira ─ tai uma coisa que Não se ouve todo dia
─ ele fala ─ mas e daí o que achou? ─ ele pergunta animado novamente ─ é um tudo
de bom né?
─ Na verdade ─ eu falo acanhada estou começando a se arrepender
de ter falado isso ─ não vi muita diferença entre beijar outra mulher... Afinal
nós fazemos isso de olhos fechados.
─
Então foi isso ─ ele se recosta novamente no
sofá de olhos arregalados ─ ele viu! Isso explica muita coisa.
─ O que? ─ pergunto confusa ─ quem viu? Explica o que?
─ Hum, nada ─ ele levanta ─ tenho que ir, lembrei de hã...
Até mais!
Dizendo isso ele sai do apartamento.
*** alguns dias depois***
-Nando-
Daiane chega em casa esteve chorando outra vez, posso ver
seus olhos vermelhos e inchados.
─ O que foi agora? ─ pergunto
a ela.
─ O que? ─ ela volta à
pergunta.
─ O que você tem? ─ pergunto
novamente.
─ Nada...
─ Ane! ─ Eu insisto.
─ Ah é que se sabe, eu to ficando mais velha! ─ ela começa a
chorar ─ e além disso to gorda!
─ Gorda aonde?
─ eu falo.
─ To sim ─ ela teima.
─ Você não tem jeito ─ eu a
abraço, ela começa a soluçar ─ escuta aqui ─ eu a afasto e fico a segurando
pelos ombros e a fitando sério ─ você é linda, inteligente, boa pessoa, se olhe
no espelho poxa vida você é... ─ eu faço uma pausa calculando se seria
pertinente continuar, ela me olha esperançosa eu resolvo ir até o fim ─ você é
perfeita! Não acredite se os outros falarem o contrário, principalmente se quem
falar for você mesma.
─ A legal
agora quer dizer que eu sou louca além de gorda, que não posso nem Me ouvir!
─ Você... Você
ouviu o que eu disse? ─ pergunto gaguejando.
─ Claro que ouvi ─ ela sorri
─ eu não entendo, por que você gosta tanto de mim? ─ ela pergunta ─ como pode
ver só as coisas boas em uma pessoa tão complicada como eu? ─ dou de ombros.
Ficamos em silêncio por uns instantes, então ela pega o livro que deixei em
cima do sofá quando a abracei.
─ Harry
Potter? ─ ela lê rizonha.
─ É, estou
relendo ele ─ respondo sem graça.
─ Você já leu?
─ Sim.
─ Já viu o filme?
─ Sim.
─ Porque está relendo? ─ ela
pergunta ─ já não sabe o fim?
─ Você vive? ─
pergunto.
─ Sim ─ ela responde segura
de si.
─ Você sabe que vai morrer
não é?
─ Sim ─ ela responde em um
misto de confusão e susto.
─ Então por que está
vivendo? ─ ela abre a boca para responder, mas a fecha sem dizer nada ─ veja,
não é o fim que importa, mas o caminho até lá! A cada vez que eu leio absorvo
um detalhe diferente, é como no clube da luta, cada vez que você assiste você
percebe o personagem do Brad Pitt em uma cena antes do que tinha reparado da
última vez que havia visto!
─ Tá, mas por que Harry
Potter? Sério em que isso vai te ajudar na vida? Tipo no que vai te ajudar em pegar
meninas? ─ eu rio do jeito dela, " você não vive lendo? Não escreve? Não
consegue dizer algo bonito? Mulher adora ouvir algo bonito ao pé do
ouvido" a voz de Milena sussurra em meu ouvido mental, eu pego o livro das
mãos de Daiane e viro, está é a edição de aniversário do lançamento do livro é
em inglês, na contra capa há a imagem de Harry de frente para o espelho de Ojased,
Ane morou um tempo nos EUA, então sei que ela consegue ler a frase.
─ "Não vale apena viver
sonhando e esquecer de viver" - Albus Dumbledore ─ ela traduz a
frase, eu prendo uma mecha do cabelo dela atrás da orelha corro minhas mãos por
seus braços e me aproximo de seu rosto sussurrando.
─ Ele só disse isso, por que
nunca sonhou contigo ─ por um segundo ela esquece de respirar, por quase um
minuto nós ficamos naquela posição, uma tênue linha de ar separando nossos
lábios, então ela pisca e vai se sentar no sofá.
─ Nossa muito boa! Acho que
vou usar essa com uma nerd que conheci no cursinho essa semana ─ ela começa a folhear o livro nervosa ─ ui ─
ela suspira ─ essa foi muito boa mesmo, você me convenceu ler vale apena, mas
com todas as coisas bonitas que você pode falar, me admira você ser solteiro
ainda, por que você não usa isso em alguém? Não tem ninguém que você conheça
que você ache que vala a pena não? ─ ela pergunta.
─ Na verdade
tem uma pessoa sim ─ respondo, ela me olha curiosa.
─ Quem? ─
pergunta.
─ Na Hora certa você vai
saber ─ falo, no momento em que todas as luzes se apagam.
****
-Marlon-
─ Cruzes é para isso que
pagamos uma fortuna de conta de luz? ─ eu grito no momento que todas as luzes
se apagam. Estou no hall de entrada do prédio com Milena ─ droga como é que
vamos chegar em casa se o elevador não funciona? ─ pergunto.
─ Ouviu falar em um negócio
chamado escada? ─ Milena fala sua voz chega abafada por de trás dos sacos de
papel com os apetrechos de festa que compramos.
─ Nós temos isso aqui no
prédio? ─ pergunto, ela não responde nada, chuta uma porta próxima com seu
cuturno a porta se abre mostrando uma escada iluminada parcamente por uma luz
fosforecente.
─A luz voltou! ─ falo animado,
como sempre minha boca mais rápida do que minha cabeça, depois que falo
reconheço como sendo luzes de emergência ─ ah não esquece.
─ Vamos? ─ Milena
convida começando a subir as escadas.
─ Ah não,
vamos esperar o elevador! ─ sugiro.
─ Eita humanidade sedentária
─ ela volta para a porta posso ver o brilho de um dos olhos dela me fitando ─
sabe-se lá quanto tempo vai demorar para a energia voltar, e quando voltar olha
só o tanto de gente que já está na fila! ─ a fila está enorme tem gente saindo
para a rua na fila ─ vamos ─ ela fala voltando a subir desta vez não
volta mais, eu a sigo.
─ Vamos! ─ ouço a voz de Milena de dois flancos acima da
escada.
─ Estou logo atrás de você! ─ eu falo com o pouco ar que
resta em meus pulmões, exausto sento em um dos degraus, estou ofegante, Milena
disparou na minha frente assim que começamos a subida me deixando para trás,
ela é uma coisinha muito rápida tenho que admitir.
Fico em silencio ouvindo apenas o som de minha respiração, de
repente as luzes parecem piscar, as paredes começam a encolher.
─ Milena! ─ eu começo a gritar, não sei de onde encontro
minha voz.
─ Que é? ─ ela grita parece ter subido mais dois flancos
neste meio tempo.
─ Volta! Eu estou ficando com medo! ─ deixo as sacolas ao meu
lado e abraço minhas pernas, alguns minutos depois ela volta.
─ Que patético Ma-mah! ─ ela fala ─ Com todo este tamanho era
de se esperar que você tivesse um preparo físico não? ─ ela passa pelo meu lado
e começa a descer.
─ Ei! Vai aonde? ─eu pergunto começando a pegar as sacolas.
─ Para baixo hora! ─ ela responde ─ nós passamos do nosso
andar! ─ ela da de ombros.
Depois de descermos dois flancos saímos para um corredor
escuro, não enxergo nada.
─ Ai! ─ Milena reclama quando eu piso no pé dela.
─ Desculpa querida, eu não estou te enxergando ─ falo
sincero.
─ Olha para baixo Rá-Rá-Rá! ─ ela fala imitando uma voz grossa.
Vamos tateando os corredores abrindo portas, ouvindo gritos
histéricos quando abríamos a porta errada, outras vezes apenas dando com a cara
em portas trancadas até que encontramos o apartamento 11 B.
O apartamento esta iluminado com velas e ouço “a cruz e a espada” tocando de algum
celular.
─ Alguém em casa? ─ Grito ao entrar.
─ Shiiii! ─ Nando me cala, o vejo então no sofá, esta com Ane
em seu colo ─ Ela acabou de dormir ─ ele sussurra ─ está em um dia difícil.
Milena e eu deixamos as sacolas na cozinha e voltamos para a
sala.
─ O que ela tem? ─ pergunto para ele.
─ Não esta enfrentando bem a idéia de estar mais velha ─ ele
fala acariciando o cabelo dela.
─ Ah, eu também estou triste por estar mais velho ─ falo ─
será que ganho cafuné também? ─ ele me olha assustado eu rio ─ não? A deixa
quieto então, lembrando de me comprar o presente e eu te perdôo.
─ Como é? ─ ele pergunta confuso.
─ Ué, não é por que vai ser uma festa só que eu vou ficar sem
presente, quatro aniversariantes, quatro presentes essa é a regra.
*****
No outro dia na sala de justiça*****
- Nando –
─ É serio cara ─ falo
por cima do meu computador ─ já andei por todo esse centro e não encontrei nada
que me gritasse “ isso é a cara da Ane”.
─ E para mim? O que comprou? ─ ele me pergunta ignorando o
que estava falando antes, está com olhos esperançosos igual a uma criança no
natal.
─ Não vou dizer né! ─ falo, a festa do aniversario de Marlon,
Milena, Marcelo e Ane era naquela noite, até hoje não consegui acreditar na
coincidência de os quatro fazerem aniversario no mesmo dia, Marlon e Ane deviam
estar agora arrumando o apartamento para receber os convidados do aniversario
quádruplo. Marcelo não me respondeu já estava distraído novamente em seu
computador.
─ Dae, pessoal! ─ Sailon chega no escritório e ocupa seu
computador. Eu não respondo entro no site de uma loja online, a qual já decorei
todo o catálogo de tanto que a visitei esta semana, depois de uns minutos de
silencio ele começa a falar novamente ─ Não sabem o que me aconteceu hoje ─
todo dia era igual, Sailon chegava da rua e tinha sempre uma história
“interessante” que havia acontecido com ele ─ estava lá no centro cívico,
quando um carinha me abordou querendo vender um ingresso para o show do Charlie
Brow Jr. ─ ele ri e começa a falar algo que nem escuto, uma voz grita na minha
mente “isso ela iria adorar”.
─ Esse cara, como ele era? ─ pergunto curioso, ele não para
de rir quando responde.
─ Era um senhor já, parecia ter uns cinqüenta anos, não sei,
era alto moreno...
─ Onde você viu ele? ─ pergunto, quase salto em cima de
Sailon de tão entusiasmado. Ele parece confuso um pouco assustado, mas me da o
local exato.
***
Depois do trabalho vou direto para o centro cívico, tive que
faltar aula novamente, mas isso era mais importante, a Ane estava em um estado
depressivo esta semana isso com certeza a iria animar.
Tive que procurar por quase duas horas. Até que encontro o
homem da descrição eu o abordo ele me olha desconfiado.
─ Fala chefia ─ ele cumprimenta.
─ Tu que estas vendendo os ingressos para o Show do Charlie
Brow? ─ pergunto ele sorri.
─ Tenho sim ─ ele responde ─ dois por cem Pila ─ eu arregalo
os olhos e tiro a carteira.
─ Só tenho oitenta ─ minto rindo por dentro.
─ Bom, você parece ser um cara legal, posso dar um desconto ─
ele fala animado.
─ Beleza então ─ eu tiro os oitenta reais da carteira, ele
começa a contar as notas e a conferir se são verdadeiras, satisfeito tira um
envelope do bolso e tira de lá dois ingressos laminados, olho na data, confere,
o nome da banda também, o nome do clube já não reconheço, mas isso não diz nada
a Ane deve conhecer ─ Valeu cara ─ agradeço.
─ Não por isso bicho, ta sabendo que a legião Urbana vai
estar na cidade, curte? ─ ele fala.
─ Não ─ eu falo ─ não curto ir em banda cover ─ viro as
costas e vou embora.
Chego no apartamento muitos convidados já estão ali, vou
direto para o meu quarto embrulhar os ingressos, espero até o fim da festa,
para distribuir os meus presentes.
Marcelo, não cumpriu sua promessa que tinha feito depois do
dia das bruxas, de nunca mais beber, e está um pouco alterado, Marlon e Daiane
não beberam e Milena ficou longe das gelatinas desta vez. Dou primeiro o
presente de Marcelo pare que ele me deixasse em paz, um moletom que ele disse
que queria, ele rasga todo o papel depois que olha o presente o joga no sofá,
para Marlon comprei o Box de uma das séries que ele gosta, seu olhos brilham ao
ver os DVDs Milena nem abre o dela, aniversários devem ser mais uma das coisas
que devem a entediar. Então o presente de Daiane.
─ Ah, eu também queria o meu em dinheiro ─ Marcelo fala
quando tiro o pequeno embrulho do bolso.
─ Não é dinheiro, acho isso muito impessoal ─ falo para ele ─
bom espero que goste ─ falo a Daiane entregando o presente dela ─ vou entender
se você quiser levar outra pessoa e tal ─ eu falo sem jeito enquanto Daiane
tira os ingressos e começa a olhar, ela reprime um sorriso de canto de boca ─
Mas se quiser que eu te acompanhe...
─ Ingressos para o show do CBJ ─ ela lê ─ e ainda esta semana!
─ ela me olha de olhos sérios ─ tem certeza que quer ir junto? Tipo você não
deve gostar muito deles não é?
─ Não é que eu não goste ─ Marlon começa a segurar o riso enquanto
eu falo ─ eu gosto das letras das musicas, só não agüento ouvir um CD inteiro só
deles.
─ Então você não gosta ─ Marlon fala rindo.
─ Cara o que é tão engraçado? ─ pergunto nervoso para ele.
─ Nando, querido ─ Ane começa a falar ─ é que fazem quase
dois anos que o chorão morreu!
─ E o que isso tem a ver...
─ O chorão era o vocalista da banda ─ Milena responde minha
pergunta ─ depois disso a banda meio que acabou!
─ Ah! ─ falo ─ aquele miserável ─ começo a praguejar, Marcelo
explode em gargalhadas.
─ Que Burro! Da zero pra ele!
E naquele momento eu fui tomado por um desejo ardente de que
o chão se abrisse para que eu pudesse esconder minha cara. Eu devia ter prestado mais atenção no que
Sailon estava dizendo.