domingo, 13 de dezembro de 2015

A história do marinheiro.




E
stou à deriva na água, no meio do mar eu fico boiando ao prazer das ondas. Não faço ideia de como cheguei aqui, e não tenho forças ou esperança para dali sair. Meu corpo inteiro dói, posso sentir meus cabelos ensopados compridos e quebradiços por conta do sal da água grudados na minha face.
Minha boca está seca, minha garganta está seca, não sei se é de sede ou de tanto gritar. Meus olhos lacrimejam, culpo o sal da água, a luz o sol, mas nunca iria admitir que as lágrimas eram de tristeza.
Eu vejo sua imagem na luz do sol que me cega, levo a mão para fazer sombra.
─ Eu te amo! ─ sussurro com a voz rouca para o vento, minha mão se fecha e eu dou um murro na água ─ Eu não te amo mais! ─ eu grito para o nada ─ Eu não te amo mais, ou menos do que você tenha me amado, ou que você não tenha me amado, será que um dia você me amou? Já não tenho certeza, acho que não, pois se um dia o fez, por que me abandonou?
Eu fico em silencio ouvindo o som abafado das ondas em meus ouvidos, olhando para o céu azul, não havia nenhuma nuvem no céu. Meu corpo dói, todo ele, mas o que sinto é cansaço. Sinto uma dor me sufocar o peito, uma vontade imensa de gritar, mas mesmo ali no meio do nada não o faço, por vergonha de alguém me ouvir. Por isso reprimo esse grito, mas sinto que uma hora ele vai me sufocar.
Lembro agora do que me aconteceu, a menina mais bonita, morena da cor do chocolate, com seu jeito de menina com a cabeça de mulher adulta. Ela sofria, eu a queria, mas ela só queria ajuda. E isso eu lhe dei.
Não sei o que se passa, devo saber ser amigo de mulheres, afinal isso é o meu melhor Dom sou bom nisso, tão bom que acaba virando minha maldição, pois nenhuma consegue olhar-me diferente. Mas no fim, a menina mais bela não era mais bela.
Foram tantas caricias, o calor de suas mãos nas minhas, lembro-me disso, mas suas mãos quentes ficaram tão frias... No fim todos os relógios pararam. E eu me encontrava a deriva, o riso não era mais saudável, e em breve nada mais importaria. A penas a dor havia restado.
Mesmo depois de muito tempo, eu ainda procurava você atrás da luz. Sabia? Onde está você? Eu perguntava, mas eu mesmo a impedia de responder tapando meus ouvidos, Você me machucou, de mais, você sabia que eu estava quebrado, que me escondia para me proteger, mas mesmo assim uma a uma foi derrubando minhas defesas, para no fim rir do que eu era.
─ A eu não te amo mais ─ falei rindo ─ tampouco lhe odeio, o tempo me ensinou que apenas uma coisa é pior do que o ódio... A indiferença, e é isso que eu sinto por ti.
Eu a vejo claramente, e agora penso, que a menina mais bonita não era assim tão bela, suas mãos não eram quentes, eram frias. Me jogaram novamente a deriva no mar onde o tempo não passa.
Você me fez esperar em uma cama de espinhos, e eu tolo esperei, e dormia com uma faca sobe meu pescoço, mas paciente esperava. Agora sei que você não valia a pena.
─ Por favor, me sinto tão sozinho, e sozinho eu não quero mais ficar...
─ Parado ai é que você não vai mudar isso Uai! ─ uma voz engraçada falou perto de mim, eu levei um susto perdi a concentração e quase me afoguei.
─ Quem é você? ─ eu pergunto cuspindo água quando consigo voltar a superfície. Havia um barco ancorado ao meu lado. E na amurada do convés debruçada uma menina me olhava sorrindo, ela era igual a outra, mas eu sabia que era diferente.
─ Você fala engraçado ─ ela respondeu.
─ Falo nada ─ respondo ofendido ─ você é que fala igual uma coitada... Seu sotaque é que é engraçado.
─ Meu sotaque é Sexy ─ ela responde em um muxoxo ─ vamos o que faz ai parado, você não queria ficar sozinho eu lhe trouxe um barco para navegar, vamos venha a bordo.
─ Por que eu faria isso? Por que navegaria? Para onde eu iria? De que me adiantaria um barco se não tenho destino nenhum?
─ Hora, quem sabe este barco te leve até alguém que realmente valha a pena... Vamos, venha a bordo.
   

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