- Marlon -
─
Estou te dizendo cara ─ Fernando me fala ─ aquela noite em dalas foi a prova, é
melhor eu parar enquanto ainda não começou, isso não ia dar certo mesmo.
─
Não, você não pode desistir, eu não vou permitir ─ falo irredutível ─ nós só
precisamos mudar a estratégia.
─
Alguém ouve o que eu falo? ─ ele resmunga para si mesmo ─ Não! ─ ele mesmo
responde a sua pergunta.
─
Admito que Foi um equivoco ─ eu falo para ele ─ Marcelo não ia poder ajudar,
afinal os métodos dele não iriam funcionar para algo tão sério assim ─ eu
começo a morder a cutícula do meu dedo indicador, as vezes faço isso quando
estou nervoso.
─
E ai caras? ─ Milena entra na cozinha como se estivesse entrando em um show de
rap ─ que passa?
─
Nossa, você eleva minha baixa auto-estima ─ Fernando murmura para ela ─ suas
tentativas de se enturmar estão ficando piores a cada nova tentativa.
─
Estamos pensando em uma nova estratégia para o Nando ─ eu falo.
─
Hei! ─ Nando grita em protesto.
─
Não me diga que ele decidiu desocupar a moita e correr atrás da Ane? ─ ela me
olha, Fernando a olha incrédulo de boca aberta, ela parece notar só agora que
ele também está na cozinha ─ a desculpe isso era para ser segredo? ─ pergunta
ela.
─
Tipo isso ─ Fernando me olha com o cenho franzido.
─
Não olha para mim, desta vez eu sou inocente! ─ falo na defensiva ─ não fui eu
quem contou.
─
Nem precisava ─ Milena começa a falar ─ esta escrito na tua testa, já estava
mais do que na hora, espere ─ ela franze o nariz tentando se ligar os pontos ─
mudar a estratégia? Isso tem a ver com a história do travesti? ─ ela pergunta.
─
Ah da para vocês esquecerem essa história? ─ Fernando leva as mãos ao céu em
suplica.
─
Não me diga que vocês foram pedir ajuda para o Marcelo? ─ ela termina o
raciocínio ─ sério caras? Para um assunto assim?
─
No inicio pareceu ser uma boa idéia ─ eu falo em um muxoxo.
─
Como envolver o Marcelo em qualquer coisa pode ser uma boa idéia? ─ ela
pergunta.
─
Veja, eu não tenho experiência com isso, ele tem um pouco mais do que uma
experiência nula ─ falo indicando Nando ─ Marcelo era a nossa melhor opção ─
falo ─ além de que Marcelo é o que tem a cabeça mais parecida com a Ane.
─
Ah ótimo, agora você fez parecer que eu quero namorar o meu primo! ─ Fernando
resmunga.
─
Esse é o problema, Marcelo tem experiência, em conquistar manipulando mulheres
com um único intuito, usá-las para conseguir a dita faixa no fim do ano, não em
conquistar para namorar sério! ─ Milena explica.
─
Faz sentido ─ concordo com ela ─ o que sugere? ─ pergunto.
─
Tu não quer ser escritor? Não vive lendo? Não consegue fazer alguma poesia? ─
ela pergunta para Nando ─ vai por mim, mulher adora ouvir alguma coisa bonita.
─
O que você entende sobre isso? ─ ele pergunta.
─
Eu sou assexuada ─ ela responde ofendida ─ não sou uma pessoa incapaz de amar,
e sou mulher por isso sei que mulher adora ouvir algo bonito ao pé do ouvido.
─
Sério? Desculpe ─ ele fala sem jeito ─ eu pensei que, bom, se sabe...
─
Arrr ─ Milena rosna como um gato ─ estava brincando, só disse aquilo para que
vocês não pensem que sou uma pessoa incapaz de amar, deus me livre ser
comparada com o Marcelo! ─ ela começa a se benzer com o sinal-da-cruz ─ mesmo
assim, acho que é uma boa idéia.
A
porta da cozinha se abre em um baque, Daiane entra com uma cara de pavor, ela esta
usando seu vestido de dia das bruxas, um vestido preto na altura dos joelhos,
está com a bota até quase a altura da bainha do vestido escondendo a meia
calça, na cabeça um chapéu em cone enfeitado com estrelas.
─
Aconteceu uma tragédia ─ ela fala ofegante.
─
Você descobriu que sua carta de hogwarts era falsa? ─ Fernando pergunta em meio
a um sorriso.
─
Uol! ─ Marcelo entra logo depois dela ─ eu já estava acordado não precisa ficar
batendo as coisas da casa para me acordar!
─
Você dizia? ─ Milena pergunta para Daiane ignorando a fala dos demais.
─
Fui ligar o carro para ir levar doces para as crianças da escolinha e ele não
pegou! ─ ela responde.
─
Você abasteceu ele? ─ Fernando pergunta.
─
Claro, quem você pensa que eu sou? Sei cuidar de um carro ─ ela responde.
─
Trocou o óleo? A água do radiador...
─
Uol UOL UOL ─ ela interrompe Fernando ─ disse que sei cuidar de um carro, não
que sou um Airton Sena! Do que você está falando?
─
Acho que temos a resposta do por que seu carro não quis ligar ─ falo para ela.
─
Bom, de qualquer maneira! ─ ela continua ─ o que eu vou fazer? As crianças
ficam esperando os doces no dia das bruxas!
─
Por que você não pega a moto do escritório? ─ Marcelo pergunta para Nando com a
boca cheia de cereal.
─
Do que você está falando? ─ eu pergunto confuso ─ pensei que o escritório
pagasse para ele andar de ônibus.
─
Bom, pagava, mas um dos diretores fez as contas e viu que com o que eles
gastavam pagando ônibus, eles podiam bancar uma viagem minha para a lua, então
resolveram comprar uma moto para eu usar no serviço.
─
Ah! ─ eu murmuro ─ Ah! ─ eu repito acabo de ter uma idéia ─ nos de um momento
sim! ─ falo para Daiane e puxo Nando e Milena para junto de Marcelo ─ isso é
perfeito ─ sussurro a eles ─ você dá carona para ela, ela fica agradecida e
BANG!
─
Cara você esta andando demais com o Marcelo ─ Milena me fala com ar de
reprovação.
─
Desculpe ─ falo.
─
O que? Nem pensar, eu não posso ─ Fernando começa a falar ─ a moto é para uso
em serviço...
─
Eu uso mesmo assim ─ Marcelo fala dando de ombros.
─
O que? ─ Fernando quase grita ─ por isso que eu encho o tanque na sexta chego
na segunda ele está vazio! Você usa ela no fim de semana...
─
As vezes não só no fim de semana, veja bem!
─
Viu, não vai dar nada ─ eu o encorajo.
─
Não, sei lá acho muito arriscado ─ ele responde.
─
Ah mais o que é a vida sem riscos? ─ continuo ─ e alem do que, é a oportunidade
perfeita, a Ane adora o dia das bruxas desde que ela morou nos Esteites alem do que imagine, ela na
garupa da moto com aquele vestidinho, você passa um silicone no banco para
deixar ele liso, na primeira acelerada ela desliza para perto de você, te
abraça pela cintura você acaricia a mão dela sutilmente e BANG!
─
Cara, agora você está ME assustando ─ Marcelo me olha com as sobrancelhas arqueadas.
─
Foi mal, acho que estou entrando em contato com meu macho alfa interior! ─ me
viro para Daiane e aumento o tom de voz ─ está decidido, seu problema esta
resolvido o Nando vai te levar lá com a moto dele.
─
Sério?! ─ ela levanta da cadeira e vai abraçar ele.
─
É o que parece ─ ele murmura ─ só tenho que ir buscar ela no escritório de pego
aqui lá pelas 10h pode ser?
─
Ótimo, ótimo ─ ela saiu da cozinha correndo ─ crianças as balas estão a
caminho!
─
Viu o que eu disse? ─ falo para Nando, então algo que me assusta acontece eu e
Marcelo falamos em uníssono ─ BANG!
***
- Nando –
Chego na frente do prédio, Daiane está a minha espera, ela
está com seu vestido curto e não da a mínima para o que as pessoas que passam
por ela estão comentando. Está de pé segurando um baldinho em forma de abóbora.
─
Está pronta? ─ pergunto ao parar a moto ao lado
do meio fio.
─
Dez horas em ponto ─ ela fala ─ bem pontual.
─ É só isso? ─ pergunto apontando para as sacolas que estão
ao redor dela, ela concorda ─ ok como é que nós vamos levar tudo isso na moto?
Ela começa a me passar as sacolas eu as coloco no guidom da
moto até o ponto em que quase não conseguia virá-lo, outras das sacolas foram
na caixa da moto que graças a deus eu tinha esvaziado antes de sair do
escritório, as demais Ane colocou em baixo dos braços, não conseguia ver como
ela estava se apoiando, mas ela se segurava de um jeito que ficasse um espaço
de um corpo entre nós, eu arranquei com a moto e o silicone fez seu trabalho
ela deslizou no banco e teve que se abraçar em mim para não cair.
Instintivamente soltei a mão direita do guidom e passei a
acariciar o braço dela, neste momento mini-marlon e mini-marcelo surgiram empoleirados
no meu ombro, pude vê-los pelo retrovisor da moto.
─ Não disse? ─ fala mini-marlon, os dois entrelaçaram os dedos
das mãos e descem as mãos em um movimento de martelo.
─
BANG! ─ gritaram os dois antes de desaparecer.
Chegamos à creche, bem dizer era uma escolinha de
inglês para crianças.
─ Pensei que você tinha dito creche. ─ falo a ela.
─ Eu nunca disse isso ─ ela fala tirando o capacete e
colocando o chapéu de bruxa ─ por que levaria em uma creche? Isso não faz
sentido, muito melhor levar onde as crianças vão para aprender inglês visto que
é uma traição da América.
─ Bom dia ─ Daiane cumprimenta o porteiro da escolinha.
─
Pensei que não íamos ver nossa bruxinha esse ano
─ ele fala sorrindo.
─ Já tem até uma fama aqui ─ eu falo para ela ao entrar. A
resposta vem de uma das salas, uma criança de uns seis anos está saindo pela
porta quando vê Daiane arregala os olhos e volta para dentro gritando:
─ OOOH! A bruxa das bala!
─
Claro que tenho, afinal venho aqui todo ano! ─
ela fala dando de ombros ─ bom você não está fantasiado, mas acho que seria
chato te deixar de fora... Hm só quero que você encha o baldinho de bala pode
fazer isso? ─ ela pergunta para mim.
─
Acho que sim ─ respondo.
─ Ok ─ ela abre a porta da primeira sala e fala em uma voz fina
de bruxa de filme ─ Gostosuras ou Travessuras? ─ Pergunta ela fazendo ecoar uma
risada estranha.
─ Gostosuras! ─ gritam as crianças em resposta batendo nas
carteiras.
Pelo resto da manhã ficamos distribuindo doces para as
crianças.
─ Você me surpreende mais à cada dia que passa sabia
disso? ─ falo para Daiane quando estamos de saída, o caminho foi repleto de
paradas para Ane ganhar abraços das crianças.
─ Por que? ─ ela pergunta feliz, nunca a vi tão feliz.
─ Quem mais se vestiria de bruxa para distribuir doces para
crianças? Só você mesmo ─ ela sorri ─ eu sei que eu não faria.
─ Mas você acabou de fazer meu caro ─ fala ela me abraçando.
─ Não digo, sair fantasiado ─ eu sorrio sem graça ─ já pensou
no que os outros ficam falando por trás?
─ Na verdade não ─ ela fala se afastando de mim para que eu a
pudesse olhar em seus olhos ─ aprenda logo meu jovem gafanhoto ─ ela dá um
tapinha no meu rosto e me olha com olhos melosos ─ se você for parar para
pensar no que os outros vão dizer de tudo que você faz, você não faz nada além
de existir, esquecendo assim de viver ─ eu fico à olhando por uns segundos em
silêncio, isso parece a deixar sem graça ela pigarreia e fala começando a colocar
o capacete ─ façamos o seguinte para a festa de hoje eu te empresto meu vestido
para você ir.
─
Até parece ─ eu falo rindo dela, também
colocando o meu capacete.
─
O que tem? Você não leu o convite? Você não vai
ser o único, a festa é a fantasia as mulheres vão ir de homem e vice e
versa ─ ela fala sorrindo.
***
- Marlon –
A festa de dia das bruxas de Ane como sempre é no terraço do
prédio e Daiane o tinha transformado em uma sala do castelo do Drácula, caixões
de papelão negros estavam espalhados pelo terraço e dentro deles os isopores
com bebida e gelo. Telas de proteção em formato de teias de aranhas
impediam que alguém bêbado caísse pela beirada, fantasmas e esqueletos estavam
pendurados e balançavam com o vento.
─ Não, não , não vocês não vieram fantasiados ─ ela nos
recebe na porta, ela está com um terno preto abotoado apenas no botão do meio o
que deixa seus seios quase totalmente à vista, uma gravata vermelha que
estava amarrada em um nó perfeito ajudava a esconder um pouco, ela tinha um
chapéu borsalino na cabeça e uma feição de decepção no rosto.
─
Mas eu vim fantasiado ─ Marcelo responde ─ vim
de senhor incrível.
─ Vocês não leram no convite? Os homens fantasiados de
mulheres! Puxa gente vocês são meus amigos tinham que dar o exemplo.
─ Ah isso! ─ Marcelo fala ─ foi mal não tinha como eu
fazer isso, nem por um milhão de dólares.
─ Alguém comeu muito doce hein? ─ Milena interrompe a
discussão e aponta para a mão de Daiane que tremia, ela esconde a mão rápido.
─ Vocês não tem moral para me impedir de consumir açúcar,
seus traíras.
Ela nos deixa. Bem no fim eu e Marcelo não fomos os únicos à
não vir fantasiados, todos os homens convidados não se fantasiaram, enquanto Milena
fora a única mulher sem se travestir em homem.
─ Não acredito nisso! ─ Nando chega à festa vestido de
bruxa, reconheço que ele usa o vestido de Ane, o que ficou ainda mais estranho
do que se ele tivesse se vestido de mulher, pois ele era maior do que a dona do
vestido então o vestido ficou ainda mais curto suas pernas peludas ficaram a vista,
ele se maquiara e usava um nariz com uma berruga enorme. Marcelo está gargalhando
alto ─ pensei que os homens tinham que vir de mulher!
─ É, pois é ─ eu começo a falar ─ nós achamos que isso seria
muito gay ─ ele me olha sério e acusador.
─
Mas você É Gay! ─ ele grita.
─ Para você ver ─ eu concordo com a cabeça ─ o quão gay isso
é, que até eu me neguei.
─ Você sabia disso? ─ ele pergunta para Milena, ele não
espera a resposta ─ deus é claro que sabia, por que diabos não me falou
enquanto estava me maquiando?
─ Você não perguntou horas! ─ ela se defende.
─ Ah até que em fim, um amigo de verdade! ─ Daiane surge e
abraça Nando, depois sussurra em seu ouvido ─ Você ficou uma bruxinha linda ─
então se vira para nós ─ prontos para o jogo? ─ ela pergunta.
─ Claro ─ Milena responde.
─ Você nunca bebe ─ eu comento.
─ Meu organismo agradece por isso.
.─
Ah não ─ Fernando fala ─ você sabe muito bem o que me aconteceu da ultima vez
que eu joguei ─ ele nega com a cabeça;
─
Daquela vez, nós não tínhamos tanta gente, hoje vai ser mais rápido as rodadas
─ Daiane responde para ele ─ vamos ─ ela o puxa para a mesa.
Nós
nos dirigimos para o centro do terraço onde uma mesa esta posta, com um
tabuleiro em madeira em cima, e quatro cadeiras ao redor, as demais pessoas da
festa fecham um circulo em volta.
─
E que comece o jogo! ─ Daiane pega uma maleta onde guarda umas miniaturas dos
carros da corrida maluca, o do Dick vigarista, ela passa para Marcelo.
─
Mutlley faça alguma coisa! ─ ele fala.
A
miniatura do barão vermelho passa para Fernando, eu tomo da mão dela o carro da
Penélope charmosa, e ela fica com a dos mafiosos. Ela começa jogar os dados.
─
Seis ─ todos ficamos olhando ela mover o carrinho e ouvimos ela ler então ─
Tome seis doses e vote cinco casas, a droga ─ ela geme, Milena já esta com o
martelinho e passa para ela, um, dois, três, quadro, cin...co, no ultimo ela
para, já esta lutando para manter os olhos abertos ─ ah isso aqui ta muito
forte Milena.
─
VIRA! VIRA! VIRA! ─ Marcelo começa a gritar batendo os punhos fechados na mesa,
os que assistem repetem, com as luzes baixas meio alaranjadas iguais ao tom do
fogo davam a cena um aspecto tribal! Ela vira o ultimo copo. E leva a mão a
boca pra evitar a bebida de voltar.
─
Ok! Próximo! ─ ela grita passando os dados para Fernando.
─
Não, não! ─ Marcelo a interrompe ─ falta ler o que esta escrito na casa que
você caiu! ─ ela aperta as vistas para ler.
─
Se você consegue ler isso ou é azarado ou é forte, beba uma dose e volte ao
inicio...
Score!
Primeira rodada vencida por Marcelo após vinte
turnos...
─
Está foi rápida, Fernando comenta ─ tirando a luta para levantar da cadeira não
tivemos nenhum acidente neste turno.
─
Bom vou fazer minhas tarefas de anfitriã, se comportem crianças ─ Daiane fala,
fico olhando os outros participantes ocuparem nossos lugares para iniciar nova
partida.
─
Bom eu preciso ir ao banheiro ─ Nando fala.
─
Cara você não aprendeu nada das outras vezes? ─ Pergunto a ele.
─
Claro que aprendi ─ ele responde ─ "cuidado
com o que você come antes, pois a probabilidade de você ver tudo de novo é
enorme.”
─
Também ─ eu concordo ─ mas você tem que segurar o máximo que conseguir a
primeira ida ao banheiro, pois depois da primeira vez seu relógio interno
começa a funcionar!
─Ah
─ ele responde pensativo, ele desiste da idéia de ir ao banheiro e ficamos
observando o jogo seguir.
─
Oh não, a represa estourou, você vai precisar de um submarino ─ começa a ler uma
moça da mesa ─ por isso beba a quantia de submarinos indicada no dado.
─
TRÊS! ─ grita Marcelo orgulhoso de reconhecer o numero, ele já está babando.
─Acho
que alguém vai ter um dia difícil amanhã ─ Nando comenta sorrindo.
Milena
se aproxima da mesa com três copos de refrigerante joga o martelinho dentro de
um deles e passa para a guria.
─
Vira! Vira! Virou! ─ gritam as pessoas em volta da mesa.
Score:
Marcelo vence novamente depois de vinte e oito
rodadas.
Os
próximos participantes tomam seus lugares os que estavam assistindo começam a
se dispersar. A música aumenta e muitos começam a dançar outros recuperam a
glicose comendo doces. Vejo Ane conversando com um rapaz careca de cavanhaque e
bem malhado.
─ Amigo novo? ─ pergunto para ela
depois que ela se afasta dele.
─
Quem? ─ ela pergunta eu olho para o rapaz que não tira o olho dela ─ ah o Jean
ele trabalha com o Marcelo e o Nando, ele estava no aniversário do Nando, não
se lembra?
─
Ah é verdade ─ me lembro ─ ele chegou depois da surpresa não é?
─
Aham ─ ela confirma ─ nós temos conversado bastante ele é bem legal.
─
Hum, sei ─ falo para ela que se afasta.
Volto
para perto da mesa do jogo.
─
Conte uma piada, se ninguém rir você faz o caminho de volta ao início, bebendo,
é claro ─ Marcelo demora quase dez minutos para ler o que diz a casa que
seu carrinho caiu ─ cruzes essa é a penúltima casa voltar ao início será
um coma alcoólico, deixe-me pensar ─ ele leva a mão ao queixo ─ batatinha
quando nasce se esparrama pelo chão, se você não gosta de polenta por que
roubou minha bicicleta? ─ ele fala, dez segundos de completo silêncio, até
mesmo o som ficou mudo, então todos em volta começam a rir, já estavam todos
bêbados.
Aquilo nem tinha sido uma piada, mas como
todos riram Marcelo passou a próxima casa.
─
Leia! Leia! Leia! ─ começam a gritar todos.
─
Se... Se..─ Marcelo tenta ver o que está escrito esfrega os olhos ─ se... Se.. ─
ele chega mais perto do tabuleiro ─ se... ─ a cabeça dele tombada em cima da
mesa.
A
última casa diz: "se você conseguir ler isso ainda, volte ao início"
como haviam mais participantes naquela noite quando alguém chegava naquela casa
e ainda lia, os participantes mudavam apenas o vencedor ficava, Marcelo tinha
vencido as outras rodadas, agora não conseguia ler a última casa, logo tínhamos
o vencedor da noite.
─ Aehh!!!! ─ gritaram os outros, e começaram a
se dispersar deixando Marcelo de bruços no tabuleiro.
***
- Nando-
- Nando-
“Segure
o máximo que conseguir”, dizia para mim mesmo, “quanto mais você conseguir
segurar mais vai demorar para que você fique bêbado”.
─
Ah não ─ murmurei ─ não aguento mais.
Eu
saio correndo do terraço para o banheiro. Ao chegar no corredor do elevador,
aquela cena se repete. Meu mundinho era vidro e se despedaçava em minha frente.
Senti algo subir a garganta pensei que fosse a bile, mas era só raiva, na minha
frente estavam Ane e Sailon, se beijando.
Virei
as costas e corri para o terraço, estava perdido, tinha vontade de socar Sailon,
mas sabia que ele não tinha culpa, sabia que a culpa era minha, eu havia
demorado demais.
─
Droga eu não sabia o que pensar! Ela dizia que era Gay Poxa! ─ gritei, o som
era tão alto que ninguém pode ouvir.
Virei
para a pista de dança vi uma moça dançando sozinha.
─
Não cometa o erro de pensar ─ falei para mim mesmo. Fui até ela e sem dizer
nada a beijei. Ela não me afastou e sim me beijou de volta.
Algum
tempo depois alguém agarrou meu ombro e me afastou dela. Serrei os punhos
pensando que devia ser o namorado da guria, mas quem me puxava era Marlon.
─
O que está fazendo? ─ gritei a ele.
─
Vim te salvar, da última vez que te larguei bêbado em uma festa você acabou
pegando um traves... Ai meu deus você não está bêbado!
─
Ah ─ eu falo em uma voz fria ─ estou sim, bebi da bebida mais amarga, estou
embriagado de raiva ─ ele arregala os olhos.
─
É com licença? ─ a moça que acabei de beijar nos interrompe ─ você não é Gay é?
─ ela me pergunta me olhando de cima a baixo.
─
Não ─ respondo.
─
Neste caso, vai procurar outra bruxinha pra você Ma-mah! ─ ela fala e me
agarra.
─
Espera ─ eu se afasto dela ─ quão bêbada você está?
─
O suficiente para querer ir além, e não tanto para que você tenha que se sentir
culpado ─ ela responde em um muxoxo.
─
Parece certo para mim ─ falo a beijando novamente.
─
Hei gente ─ ouço a voz de Milena ─ acho que temos um problema.
Eu
me afasto da moça e fico olhando nos olhos dela.
─
Que problema? ─ ouço Marlon perguntar.
─
O Marcelo fugiu ─ fala ela em meio a uns rizinhos. Eu olho para a mesa onde ele
estava debruçado há pouco tempo, ele não estava mais lá.
─
Alguém viu para onde ele foi? ─ pergunto.
─
Quem foi onde? ─ Milena pergunta.
─
Como quem? O Marcelo!
─
Ah! viram ele saindo a dez minutos.
─
Saindo? No estado que ele está? ─ "droga" eu penso olhando para a
moça que estava mordendo o lábio inferior ─ eu tenho que ir, vejo você quando voltar? Hã...?
─ pergunto.
─
Cristina ─ ela responde sorrindo ─ ai como ele é responsável isso me excita ─
ela me beija ─ claro que nos vemos depois fofinho.
─
Vamos ─ eu falo para Milena e Marlon.
─
Quem é você e o que você fez com o Fernando? ─ Marlon pergunta ao me seguir ─
fofinho!
─ Ok vamos nos separar ─ falo quando chegamos
a rua ─ Marlon vai por ali ─ falo indicando a esquerda ─ você vai por lá ─
indico a rua que segue reto de frente a nós para Milena ─ eu vou por aqui, ele
não deve ter ido muito longe.
Eu saio correndo pela
direita, alguns minutos depois ouço passos vindo de trás quando me viro vejo Milena
e Daiane vindo em minha direção.
─ O que vocês estão
fazendo aqui?
─ Procurando o Marcelo,
eu vi vocês saindo do terraço e vim ver o que estava acontecendo quando
cheguei na portaria vi Milena conversando com o porteiro. Por que não me
chamaram para procurar? ─ Daiane pergunta.
─ Da última vez que te
vi você estava ocupada ─ falei ríspido e continuei a andar as duas me seguiram.
─ Nossa que bicho te mordeu? ─ Daiane me
pergunta eu não respondo continuo a andar.
─ Nossa eu nunca
levei uma batida da polícia ─ comenta Milena depois começa a rir ─ já pensou se
nós nos viramos agora e tem uma viatura logo atrás de nós? ─ ela ri de
novo depois fica quieta ─ vish! ─ murmura.
Eu me viro para
perguntar qual o problema com ela naquela noite quando vejo uma viatura
acedendo as sirenes para nós.
─ Só pode ser
brincadeira ─ falo.
─ Ai meu deus eu tava
brincando, o que nós fazemos? ─ Milena resmunga nervosa ─ eu acho que vou
correr.
─ O que? Não! ─ eu a
seguro pelo braço.
─ Eu não quero ser
presa! ─ ela responde. Daiane começa a rir.
─ Ninguém vai ser
preso louca! Não fizemos nada de errado!
A viatura para ao
nosso lado e o policial acende uma lanterna que me cega.
─ Algum problema
aqui? ─ pergunta ele.
─ Não senhor oficial!
─ Milena responde rápido.
─ O que fazem tão
tarde na rua? ─ ele pergunta.
─ Estamos procurando
um amigo, senhor ─ responde Milena novamente.
─ Vocês andaram
bebendo? ─ ele pergunta.
─ Não senhor, senhor!
─ Milena responde Daiane está segurando o riso.
─ Hã ok ─ ele
pega uma planilha ─ documentos, por favor.
─ Ai caramba ─ Milena
começa a falar apavorada ─ eu sabia que não devia sair sem minha bolsa!
─ Err... Nós não
temos senhor ─ eu começo a falar ─ estávamos em uma festa à fantasia no prédio
onde moramos só saímos para procurar um amigo que bebeu demais e saiu para a
rua.
─ Hm ─ o oficial me olha
sério ─ vocês são de menor? ─ pergunta.
─ Eu não ─ Milena
responde ─ a Ane tem a minha idade, a bruxinha não tenho certeza.
─ Claro que também
sou Milena ─ eu falo irritado.
─ Nomes ─ O oficial
pergunta.
─ Milena Castilho,
senhor!
─ Daiane Monteiro.
─ Daiane? ─ o oficial
pergunta ─ ouvi errado quando a mocinha ali te chamou de Ane?
─ Não, não ouviu Ane
é meu apelido.
─ Hum ─ ele anota ─ e
você?
─ Luiz Fernando Tuk ─
respondo.
─ Sei, estamos tendo
muitos problemas com adolescentes bebendo na rua estamos fazendo um controle ─
ele fala ─ vão pra casa, está tarde à rua é perigosa essa hora ─ depois de ele
falar isso a viatura se afasta.
─ Ufa ─ Milena fala ─
essa foi por pouco.
─ Você sabe que se
estivesse sozinho você ia levar geral não é? ─ Daiane me pergunta. Eu não respondo volto a andar.
Chegamos a uma praça
poucos metros à frente. Ali encontramos Marcelo sentado em um banco.
─ Olá! ─ diz ele
quando nos aproximamos
─ Cara você é louco
de sair assim bicho? ─ Daiane pergunta.
─ Olá? ─ ele
pergunta, tomando um gole da cerveja em garrafa que tem na mão.
Eu me sento ao lado
dele, Daiane ao meu, Milena fica olhando para o céu.
─ Acho que fiz uma
burrada ─ Daiane começa a me dizer.
─ O que? ─ pergunto.
─ Vocês são muito
gente boa, mas Eu vou nessa! ─ Marcelo levanta e começa a andar, dá dois passos
para fala consigo mesmo ─ você tá legal Marcelo, numa boa bicho. ─ faz uns
passos de freestep balbuciando “Thu tha thu thu tha tha”. E volta a
andar.
─ Você já quis falar
algo para alguém, mas acha que se falar vai fazer outras duas pessoas brigaram?
─ Ane me pergunta observando Marcelo andar a cada três passos ele repete a cena
do freestep.
─ Aham ─ respondo a
ela.
─ Pois é estou em uma
situação destas ─ eu não falo nada ela também não ficamos em silêncio.
Percebemos que a praça era redonda quando Marcelo passa pela segunda vez em
nossa frente balbuciando.
─ Você tá de boa Marcelo,
você é mais forte que o álcool, falta muito para ele te derrubar, você está
quase em casa ─ ele olhava para mim e Ane ─ olá?! ─ depois de três passos fazia
os mesmos passos de dança de antes.
─ Acho que alguém
perdeu o rumo de casa ─ Daiane murmura.
─ E parece que não
está sozinho nesta ─ falo olhando para Milena que olha as estrelas sem piscar.
***
Deixamos Marcelo e Milena
na cama e então eu volto para a festa, muitos já foram embora, quando Cristina
me vê sorri e vem em minha direção.
─ O negócio é o
seguinte ─ ela fala passando os braços em volta do meu pescoço ─ bebi muito
para voltar para casa dirigindo, alguma sugestão de onde posso dormir? ─ ela
fala mordendo o lábio.
─ Acho que sei de um
lugar ─ respondo depois a beijo.
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