domingo, 13 de dezembro de 2015



What I should have did.
O
 ônibus estava lotado, mas já esteve pior. Dei sorte, geralmente a está hora os ônibus em Curitiba mais parecem uma lata de sardinha; hoje pelo menos eu poderia respirar.
─ Eu te disse Andressa ─ eu falo para uma amiga que entra ao meu lado ─ Se eu perco um busão eu não fico preocupado ─ eu dou de ombros indiferente ao falar ─ Eu posso pegar outro busão, mas o busão não pode pegar outro eu!
─ Nossa cara ─ ela fala rindo e socando meu braço com uma força desnecessária pode-se dizer ─ você é muito idiota, você acha que sua vida brilha ao seu redor!
─ À quem diga isso... ─ eu a respondo rindo. Foi então que eu a vi, e por um momento tudo ao meu redor parou. Afinal eu havia visto um anjo.
No fundo do ônibus. Ela estava sentada com uma mochila no colo, seus cabelos eram vermelhos, sua pele alva, seus olhos negros. Ela sorriu para mim no ônibus. Sua camisa era cinza e estava estampada com a imagem da estrela da morte. Parecia triste e no mesmo instante tive vontade de abraçá-la e fazer com que aquela tristeza passa-se. Ela estava triste mesmo assim sorria, em certo ponto ela lembrava a mim mesmo, eu soube ali que ela era a única que poderia me entender. Ela não poderia existir, devia ser minha imaginação. Por isso a confundi com um anjo, e isso era verdade. Ela sorriu para mim no ônibus.
Ela estava com outro homem, pude ver pelo jeito que ele estava ao seu lado. Ele era loiro, e maior do que eu e estava com uma blusa com o capuz na cabeça. No momento que vi que ele estava com aquele anjo eu o odiei, afinal, sim estava frio, mas o ônibus estava fechado e qual é o motivo para se usar um capuz em carros e ônibus fechados? Pronto falei, Odiei o cara.
Então ela estava com outro cara? E daí não perderei meu sono por isso.
─ Deus como ela é linda! ─ eu sussurrei ─ você é linda. E isso é uma verdade.
Eu via o rosto dela em um lugar lotado, e eu não sabia o que fazer.
Quem sabe nos encontraríamos outro dia. Talvez ela passa-se por mim em uma rua do centro, ou no Shopping. Sim, ela iria chamar minha atenção, e nesta hora talvez ela pudesse ver em meu rosto que estaria voando alto. Muitas vezes me falaram que eu voava alto para evitar a estrada, mas acontece que adoraria que ela voasse ao meu lado.
O ônibus arrancou eu ainda paralisado tinha apenas uma consciência de que o tempo não havia parado. Meu coração martelava no peito. E eu não sabia o que fazer, foi neste momento então que pensei: “ Acho que não a verei novamente”, o pensamento me entristecia e me dava medo, mas eu podia ver pelo seu olhar que ela me entendia, que nós havíamos compartilhando um momento que durará até o fim.
De repente estávamos juntos, éramos amigos e era verdade ela estava triste. Era noite, ela dizia que estava confusa. Eu a olhava e queria ajudar, mas não podia. Eu a olhava e mesmo ali, eu não sabia o que fazer. Queria tocá-la, pousar minha mão em seu rosto para quem sabe lhe dar algum conforto. Queria abraçá-la, ela poderia chorar, mas eu estaria ali ao seu lado. Meu cérebro podia ver minha mão se movendo, mas meu corpo real não se movia, ele apenas a tudo assistia.
Talvez eu não fosse o homem certo para ela, mas com certeza queria fazer de tudo para ser, mas ela já tinha alguém, afinal ela estava com um outro homem. Tudo que podia fazer era ficar ali.
O tempo passava e a vontade de estar ao seu lado só aumentava, e com o tempo ela já era maior que tudo. Já pensava em inventar um outro mundo, lá onde não existiriam fronteiras. Minha cabeça era uma guerra, me via no meio de uma ponte. O caminho que pegará me levará até ali, eu acreditava que devia ter parado lá na frente onde via uma placa amarela e negra alertando “ Perigo”, mas não o tinha feito, afinal quem iria me impedir de andar em uma estrada? Aquilo era apenas uma placa.
Estava em uma ponte, o caminho era escuro, mas eu via o futuro e ele repetia ao passado. Eu sabia que iria acabar quebrando a cara, já conhecia aquela sensação de estar dando murro em ponta de faca.
Estava em uma ponte, eu sabia que o caminho era difícil, e que me machucaria, mas eu não tinha outra escolha. Quer dizer, até tinha outra escolha, mas não queria tomá-la, pois ela me machucaria igualmente e bom acho que a ela também, e isso era tudo o que eu não queria: Causar-lhe mais sofrimento, afinal ela já havia sofrido tanto. Não, eu não voltaria atrás, continuaria seguindo em frente.
Então era outra noite que se ia, ela ainda dizia que esta confusa, e que não tinha certeza de que eu realmente a queria. A como tive vontade de gritar o quanto a queria, de quanto ela era a única luz em minha vida, que talvez com ela sim minha vida fosse brilhante. Mas como falar que meu amor era puro se nem ao menos acredito que se trata disso? Afinal o que eu sei sobre isso? Talvez ela estivesse certa e era apenas meu extinto protetor que queria cuidar dela.
Anos passavam, nossas vidas aos poucos foram se ajeitando. Afinal sim nós merecíamos, em fim estávamos felizes, Bom ela estava; o que me deixava. Como todos disseram sua vida foi brilhante. Ela conseguiu tudo que quis, e como eu a disse uma vez, estava lá olhando seu voo do chão.
Sempre que ela se encontrou em uma situação que achou que não podia superar estive lá, a abraçava e dizia: “calma, eu tenho um plano” então depois de muito andar cheguei ao fim daquela ponte.
Ali em baixo de um poste de luz laranja ela pegou minha mão, eu já sabia o que seguiria, afinal já havia previsto aquele fim; a hora que Perceu deixaria a ilha. Ouvi o fim de uma musica chegando como eco da rua deserta: “La la la la la la la la la”
Ela me abraçou eu senti o calor de seu corpo junto ao meu, sua respiração em meu peito passei minha mão em seu cabelo, talvez ela estivesse chorando, e eu não queria a soltar, mas em fim o fiz. Ela foi falar alguma coisa eu a impedi com o indicador, ela tentou desviar o olhar, mas com minha mão em seu queixo a fiz fitar meus olhos.
Ela sorriu, o que fez minhas palavras serem mais difíceis de serem ditas.
─ Deve ser um anjo, com um sorriso no rosto. E eu realmente pensei que deveria ficar com você...
─ Hey, congelou ai? ─ Andressa me chamou me empurrando para frente.
─ É, chegou a hora de encarar a verdade... Eu nunca ficarei com você ─ de volta ao ônibus lotado eu sussurrei para ela que já estava abraçada com o outro cara ─ olha ali um lugar vago vamos sentar ali? ─ falei para Andressa então.
─ Tá muito na frente, mas tudo bem né, melhor do que ficar de pé, e pelo menos fica longe da entrada dos idosos...

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