What I should have did.
O
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ônibus estava lotado,
mas já esteve pior. Dei sorte, geralmente a está hora os ônibus em Curitiba
mais parecem uma lata de sardinha; hoje pelo menos eu poderia respirar.
─
Eu te disse Andressa ─ eu falo para uma amiga que entra ao meu lado ─ Se eu
perco um busão eu não fico preocupado ─ eu dou de ombros indiferente ao falar ─
Eu posso pegar outro busão, mas o busão não pode pegar outro eu!
─
Nossa cara ─ ela fala rindo e socando meu braço com uma força desnecessária
pode-se dizer ─ você é muito idiota, você acha que sua vida brilha ao seu
redor!
─
À quem diga isso... ─ eu a respondo rindo. Foi então que eu a vi, e por um
momento tudo ao meu redor parou. Afinal eu havia visto um anjo.
No
fundo do ônibus. Ela estava sentada com uma mochila no colo, seus cabelos eram
vermelhos, sua pele alva, seus olhos negros. Ela sorriu para mim no ônibus. Sua
camisa era cinza e estava estampada com a imagem da estrela da morte. Parecia
triste e no mesmo instante tive vontade de abraçá-la e fazer com que aquela
tristeza passa-se. Ela estava triste mesmo assim sorria, em certo ponto ela
lembrava a mim mesmo, eu soube ali que ela era a única que poderia me entender.
Ela não poderia existir, devia ser minha imaginação. Por isso a confundi com um
anjo, e isso era verdade. Ela sorriu para mim no ônibus.
Ela
estava com outro homem, pude ver pelo jeito que ele estava ao seu lado. Ele era
loiro, e maior do que eu e estava com uma blusa com o capuz na cabeça. No
momento que vi que ele estava com aquele anjo eu o odiei, afinal, sim estava
frio, mas o ônibus estava fechado e qual é o motivo para se usar um capuz em
carros e ônibus fechados? Pronto falei, Odiei o cara.
Então
ela estava com outro cara? E daí não perderei meu sono por isso.
─
Deus como ela é linda! ─ eu sussurrei ─ você é linda. E isso é uma verdade.
Eu
via o rosto dela em um lugar lotado, e eu não sabia o que fazer.
Quem
sabe nos encontraríamos outro dia. Talvez ela passa-se por mim em uma rua do
centro, ou no Shopping. Sim, ela iria chamar minha atenção, e nesta hora talvez
ela pudesse ver em meu rosto que estaria voando alto. Muitas vezes me falaram que
eu voava alto para evitar a estrada, mas acontece que adoraria que ela voasse
ao meu lado.
O
ônibus arrancou eu ainda paralisado tinha apenas uma consciência de que o tempo
não havia parado. Meu coração martelava no peito. E eu não sabia o que fazer,
foi neste momento então que pensei: “ Acho
que não a verei novamente”, o pensamento me entristecia e me dava medo, mas
eu podia ver pelo seu olhar que ela me entendia, que nós havíamos
compartilhando um momento que durará até o fim.
De
repente estávamos juntos, éramos amigos e era verdade ela estava triste. Era
noite, ela dizia que estava confusa. Eu a olhava e queria ajudar, mas não
podia. Eu a olhava e mesmo ali, eu não sabia o que fazer. Queria tocá-la,
pousar minha mão em seu rosto para quem sabe lhe dar algum conforto. Queria
abraçá-la, ela poderia chorar, mas eu estaria ali ao seu lado. Meu cérebro
podia ver minha mão se movendo, mas meu corpo real não se movia, ele apenas a
tudo assistia.
Talvez
eu não fosse o homem certo para ela, mas com certeza queria fazer de tudo para
ser, mas ela já tinha alguém, afinal ela estava com um outro homem. Tudo que
podia fazer era ficar ali.
O
tempo passava e a vontade de estar ao seu lado só aumentava, e com o tempo ela
já era maior que tudo. Já pensava em inventar um outro mundo, lá onde não
existiriam fronteiras. Minha cabeça era uma guerra, me via no meio de uma
ponte. O caminho que pegará me levará até ali, eu acreditava que devia ter
parado lá na frente onde via uma placa amarela e negra alertando “ Perigo”, mas
não o tinha feito, afinal quem iria me impedir de andar em uma estrada? Aquilo
era apenas uma placa.
Estava
em uma ponte, o caminho era escuro, mas eu via o futuro e ele repetia ao passado.
Eu sabia que iria acabar quebrando a cara, já conhecia aquela sensação de estar
dando murro em ponta de faca.
Estava
em uma ponte, eu sabia que o caminho era difícil, e que me machucaria, mas eu
não tinha outra escolha. Quer dizer, até tinha outra escolha, mas não queria
tomá-la, pois ela me machucaria igualmente e bom acho que a ela também, e isso
era tudo o que eu não queria: Causar-lhe mais sofrimento, afinal ela já havia
sofrido tanto. Não, eu não voltaria atrás, continuaria seguindo em frente.
Então
era outra noite que se ia, ela ainda dizia que esta confusa, e que não tinha
certeza de que eu realmente a queria. A como tive vontade de gritar o quanto a
queria, de quanto ela era a única luz em minha vida, que talvez com ela sim
minha vida fosse brilhante. Mas como falar que meu amor era puro se nem ao
menos acredito que se trata disso? Afinal o que eu sei sobre isso? Talvez ela estivesse
certa e era apenas meu extinto protetor que queria cuidar dela.
Anos
passavam, nossas vidas aos poucos foram se ajeitando. Afinal sim nós merecíamos,
em fim estávamos felizes, Bom ela estava; o que me deixava. Como todos disseram
sua vida foi brilhante. Ela conseguiu tudo que quis, e como eu a disse uma vez,
estava lá olhando seu voo do chão.
Sempre
que ela se encontrou em uma situação que achou que não podia superar estive lá,
a abraçava e dizia: “calma, eu tenho um
plano” então depois de muito andar cheguei ao fim daquela ponte.
Ali
em baixo de um poste de luz laranja ela pegou minha mão, eu já sabia o que
seguiria, afinal já havia previsto aquele fim; a hora que Perceu deixaria a
ilha. Ouvi o fim de uma musica chegando como eco da rua deserta: “La la la
la la la la la la”
Ela me
abraçou eu senti o calor de seu corpo junto ao meu, sua respiração em meu peito
passei minha mão em seu cabelo, talvez ela estivesse chorando, e eu não queria
a soltar, mas em fim o fiz. Ela foi falar alguma coisa eu a impedi com o indicador,
ela tentou desviar o olhar, mas com minha mão em seu queixo a fiz fitar meus
olhos.
Ela
sorriu, o que fez minhas palavras serem mais difíceis de serem ditas.
─
Deve ser um anjo, com um sorriso no rosto. E eu realmente pensei que deveria
ficar com você...
─
Hey, congelou ai? ─ Andressa me chamou me empurrando para frente.
─
É, chegou a hora de encarar a verdade... Eu nunca ficarei com você ─ de volta
ao ônibus lotado eu sussurrei para ela que já estava abraçada com o outro cara
─ olha ali um lugar vago vamos sentar ali? ─ falei para Andressa então.
─
Tá muito na frente, mas tudo bem né, melhor do que ficar de pé, e pelo menos
fica longe da entrada dos idosos...
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