domingo, 13 de dezembro de 2015

Der Seemann.




E
stou tão sozinha. Eu sinto frio, minha barriga dói, dói tanto, só não dói mais do que minha cabeça. Mas essas não eram as piores dores. Sentir-se sozinha ainda doía mais.
Estou casada, e molhada. Estou à deriva no imenso mar de água salgada agarrada a um pedaço de madeira para não afundar. Já chorei tanto que passo a achar que aquela imensidão azul se encheu só com as minhas lágrimas.
Estou tonta e enjoada pelo balanço continuo das ondas. Agarro-me ao pedaço de madeira com todas as forças que me restam, muito embora não sejam tantas, temo afundar a qualquer momento. Mas quase não me importo com isso, quase anseio por isso.
Não sinto mais minhas pernas. Minhas mãos além de casadas doem, a madeira a qual seguro era repleta de farpas que machucavam minhas mãos, mas eu a adorava. Eu amava aquele pedaço de madeira, afinal ele já estava comigo há tanto tempo, já havia passado tanta coisa com ele, além do que tinha lutado muito para consegui-lo. Eu estava mais sozinha antes dele, agora ele era minha única companhia. Mas mesmo assim segurá-lo me cansava.
Estava frio, e eu estava faminta. Uma parte de mim queria que eu afunda-se a outra agarrava com força a madeira. Vi o céu se aproximar e então descer, demorei a entender, que tinha sido uma enorme onda que passará por mim.
 Minha cabeça doía, havia uma parte dela me torturando, e eu estava enjoada. Mas aquela outra dor que sentia era a que mais doía, afinal eu estava sozinha. Aquela dor era pior por que não passava. Não importava o que fizesse ou quanto tempo passa-se a dor perdurava, essa dor era na minha cabeça. Essa dor era no meu peito, onde ela me sufocava, onde as vezes fazia ficar difícil respirar. Essa dor era na barriga, onde parecia chegar até as tripas como agulhas, agulhas geladas, pois meu estômago revirava como se ali estivesse um vento frio, um vento como o de outono. E também meu corpo, não o físico, mas aquele que parecia ter no meu interior, talvez fosse aquilo que outros chamassem de alma, bom não sei, mas ela doía profundamente. Era como se eu não tivesse forças para nada. Essa era a dor de se estar sozinha.
Eu queria descansar, e percebi que estava começando a afundar, e o pior não me importava...
─ Hey! ─ ouvi uma voz rouca ao meu lado, me assustei afinal estava sozinha. ─ Você por um acaso não é a morena de sotaque engraçado?
─ Olha? ─ eu pude sussurrar, olhei para a direção da voz, e identifiquei a figura de um barco, ele era pequeno, pouco maior que um bote, o casco era marrom de uma madeira velha. E no mastro tremulava uma vela, uma vela esfarrapada de cor negra. No convés de frente para mim estava um homem. Ele era velho, tinha ralos cabelos brancos uma barba mal feita de um castanho virando branco, seu rosto era velho e abatido, seu sorriso era cansado, seus olhas eram de duas cores, o da direita verde, o da esquerda castanho. Eles estavam tristes, me deram medo, mas eu sentia um pouco de afeto na maneira como ele me fitava ─ Não, sinto muito, acho que não sou.
─ O que faz aí sozinha? ─ ele me pergunta se apoiando em uma vara enorme que deveria ser seu cajado isso fazia ele parecer ainda mais velho.
─ Não sei, estou a deriva... acho.
─ Hm ─ o velho coça a cabeça depois a barba ─ Venha para o meu barco ─ ele me chama.
─ Hã? ─ respondo perdida me agarrando ao meu pedaço de madeira ─ não obrigada ─ ele me olha intrigado depois olha para o horizonte. ─ Venha, uma tempestade se levanta. E a noite se aproxima, vamos! Venha para o meu barco, você não precisa ficar aí sozinha. Aonde você vai assim tão sozinha? Eu me pergunto,  levada embora pela correnteza com certeza, venha entre no meu barco.
─ Já disse que não, desculpe, estou segura, tenho esse pedaço de madeira, ele já me ajudou muito e ainda me ajuda.
─ Você quem sabe, mas parece estar tão sozinha. Responda-me, quem segurará sua mão? Quando isso - ele indica minha madeira com o queixo barbudo ─ te afundar? ─ aquilo me encheu de raiva.
─ Para onde você vai? Marinheiro. Neste interminável mar gelado?  ─ minha pergunta o deixou assustado.
─ Não sei... ─ respondeu honestamente o homem do mar ─, mas a quero aqui, venha para o meu barco.
─ Por que eu faria isso? ─ perguntei, neste momento a madeira se virou e eu mergulhei na água, quase não consegui voltar, mas então senti duas mãos em meus ombros, o marinheiro me puxava para a superfície. Quando emergi  me desvencilhei de seu toque e lutei para chegar ao meu pedaço de madeira.
─ Desculpe, não queria te assustar, e não quero fazer-te mal, quero ajudar-te.
Eu senti verdade em sua voz, uma parte de mim queria ir com ele, à outra queria que eu ficasse agarrada a madeira, qual era a parte boa ou a má eu não sabia, estava muito confusa.
─ Responda-me, oh marinheiro, por que deveria ir com você? ─ perguntei, ele ficou em silêncio por um instante, um trovão ribombou no horizonte e ele começou a falar.
─ Venha para O meu barco... O vento de outono mantém as velas dele firmes, você não precisara se cansar em remar. Eu posso ver, um futuro em que você fica em um farol com lágrimas nos olhos, mas essas não seriam de tristeza. À essa hora o dia se inclina e o vento de outono varre a vida das estrelas. Eu sei que a luz do entardecer persegue as sombras, veja para mim o tempo está parado e o outono logo chegará! 
─ Você é muito filósofo meu caro Marinheiro e eu não entendi uma só palavra do que disse, diga-me por que iria com você, já que também não sabe para onde vai?
─ Venha para O meu Barco, pois sim eu não sei para onde vou, afinal não tenho  nenhum timoneiro  que não a saudade, se você não vier continuará sendo assim, mas se você vier você se tornará meu timoneiro, e juntos acharemos um caminho. Não posso prometer que será mais seguro em meu Barco, afinal sempre a uma tempestade, mas meu Barco me parece que iria agüentar melhor do que a esse pedaço de madeira seu. Veja houve um tempo em que o melhor marinheiro era eu, quem sabe eu volte a ser?
Sim eu queria ir, mas não podia, aquela parte que me segurava a madeira era muito forte, e eu tinha medo de confrontá-la.
─ Não ─ eu respondi ─ vou ficar bem aqui.
─ Bom se é assim que quer ─ ele endireita a postura com uma das mãos nas costas como para aliviá-las de alguma dor ─ não posso a forçar a nada, e bom você bem pode ver que estou velho e cansado de mais, não posso lutar por você, você tem que me ajudar para que eu possa lhe ajudar. ─ Ele responde e começou a remar com a sua vara, uma parte de mim queria gritar para que ele voltasse, ou que ele ficasse mais um pouco. Ou insistisse mais um pouco, mas também não podia o obrigar a nada, e ele parecia tão cansado, e eu não queria ser mais um problema para ele. No fim só fiquei o olhando partir. Uma névoa aos poucos escondia o barco, tinha a sensação de que ele remava para o caminho errado, afinal ele ia de encontro a tempestade, eu queria dizer algo, mas não disse.
No fim só ouvi sua voz rouca cantando alguma canção do mar enquanto o barco desaparecia, algo que de início não estendia:
"... Wo Willst du Hin....
 No fim eu fico sozinho... o tempo está parado e eu sinto tanto frio....
frio....
frio...".

A história do marinheiro.




E
stou à deriva na água, no meio do mar eu fico boiando ao prazer das ondas. Não faço ideia de como cheguei aqui, e não tenho forças ou esperança para dali sair. Meu corpo inteiro dói, posso sentir meus cabelos ensopados compridos e quebradiços por conta do sal da água grudados na minha face.
Minha boca está seca, minha garganta está seca, não sei se é de sede ou de tanto gritar. Meus olhos lacrimejam, culpo o sal da água, a luz o sol, mas nunca iria admitir que as lágrimas eram de tristeza.
Eu vejo sua imagem na luz do sol que me cega, levo a mão para fazer sombra.
─ Eu te amo! ─ sussurro com a voz rouca para o vento, minha mão se fecha e eu dou um murro na água ─ Eu não te amo mais! ─ eu grito para o nada ─ Eu não te amo mais, ou menos do que você tenha me amado, ou que você não tenha me amado, será que um dia você me amou? Já não tenho certeza, acho que não, pois se um dia o fez, por que me abandonou?
Eu fico em silencio ouvindo o som abafado das ondas em meus ouvidos, olhando para o céu azul, não havia nenhuma nuvem no céu. Meu corpo dói, todo ele, mas o que sinto é cansaço. Sinto uma dor me sufocar o peito, uma vontade imensa de gritar, mas mesmo ali no meio do nada não o faço, por vergonha de alguém me ouvir. Por isso reprimo esse grito, mas sinto que uma hora ele vai me sufocar.
Lembro agora do que me aconteceu, a menina mais bonita, morena da cor do chocolate, com seu jeito de menina com a cabeça de mulher adulta. Ela sofria, eu a queria, mas ela só queria ajuda. E isso eu lhe dei.
Não sei o que se passa, devo saber ser amigo de mulheres, afinal isso é o meu melhor Dom sou bom nisso, tão bom que acaba virando minha maldição, pois nenhuma consegue olhar-me diferente. Mas no fim, a menina mais bela não era mais bela.
Foram tantas caricias, o calor de suas mãos nas minhas, lembro-me disso, mas suas mãos quentes ficaram tão frias... No fim todos os relógios pararam. E eu me encontrava a deriva, o riso não era mais saudável, e em breve nada mais importaria. A penas a dor havia restado.
Mesmo depois de muito tempo, eu ainda procurava você atrás da luz. Sabia? Onde está você? Eu perguntava, mas eu mesmo a impedia de responder tapando meus ouvidos, Você me machucou, de mais, você sabia que eu estava quebrado, que me escondia para me proteger, mas mesmo assim uma a uma foi derrubando minhas defesas, para no fim rir do que eu era.
─ A eu não te amo mais ─ falei rindo ─ tampouco lhe odeio, o tempo me ensinou que apenas uma coisa é pior do que o ódio... A indiferença, e é isso que eu sinto por ti.
Eu a vejo claramente, e agora penso, que a menina mais bonita não era assim tão bela, suas mãos não eram quentes, eram frias. Me jogaram novamente a deriva no mar onde o tempo não passa.
Você me fez esperar em uma cama de espinhos, e eu tolo esperei, e dormia com uma faca sobe meu pescoço, mas paciente esperava. Agora sei que você não valia a pena.
─ Por favor, me sinto tão sozinho, e sozinho eu não quero mais ficar...
─ Parado ai é que você não vai mudar isso Uai! ─ uma voz engraçada falou perto de mim, eu levei um susto perdi a concentração e quase me afoguei.
─ Quem é você? ─ eu pergunto cuspindo água quando consigo voltar a superfície. Havia um barco ancorado ao meu lado. E na amurada do convés debruçada uma menina me olhava sorrindo, ela era igual a outra, mas eu sabia que era diferente.
─ Você fala engraçado ─ ela respondeu.
─ Falo nada ─ respondo ofendido ─ você é que fala igual uma coitada... Seu sotaque é que é engraçado.
─ Meu sotaque é Sexy ─ ela responde em um muxoxo ─ vamos o que faz ai parado, você não queria ficar sozinho eu lhe trouxe um barco para navegar, vamos venha a bordo.
─ Por que eu faria isso? Por que navegaria? Para onde eu iria? De que me adiantaria um barco se não tenho destino nenhum?
─ Hora, quem sabe este barco te leve até alguém que realmente valha a pena... Vamos, venha a bordo.
   



What I should have did.
O
 ônibus estava lotado, mas já esteve pior. Dei sorte, geralmente a está hora os ônibus em Curitiba mais parecem uma lata de sardinha; hoje pelo menos eu poderia respirar.
─ Eu te disse Andressa ─ eu falo para uma amiga que entra ao meu lado ─ Se eu perco um busão eu não fico preocupado ─ eu dou de ombros indiferente ao falar ─ Eu posso pegar outro busão, mas o busão não pode pegar outro eu!
─ Nossa cara ─ ela fala rindo e socando meu braço com uma força desnecessária pode-se dizer ─ você é muito idiota, você acha que sua vida brilha ao seu redor!
─ À quem diga isso... ─ eu a respondo rindo. Foi então que eu a vi, e por um momento tudo ao meu redor parou. Afinal eu havia visto um anjo.
No fundo do ônibus. Ela estava sentada com uma mochila no colo, seus cabelos eram vermelhos, sua pele alva, seus olhos negros. Ela sorriu para mim no ônibus. Sua camisa era cinza e estava estampada com a imagem da estrela da morte. Parecia triste e no mesmo instante tive vontade de abraçá-la e fazer com que aquela tristeza passa-se. Ela estava triste mesmo assim sorria, em certo ponto ela lembrava a mim mesmo, eu soube ali que ela era a única que poderia me entender. Ela não poderia existir, devia ser minha imaginação. Por isso a confundi com um anjo, e isso era verdade. Ela sorriu para mim no ônibus.
Ela estava com outro homem, pude ver pelo jeito que ele estava ao seu lado. Ele era loiro, e maior do que eu e estava com uma blusa com o capuz na cabeça. No momento que vi que ele estava com aquele anjo eu o odiei, afinal, sim estava frio, mas o ônibus estava fechado e qual é o motivo para se usar um capuz em carros e ônibus fechados? Pronto falei, Odiei o cara.
Então ela estava com outro cara? E daí não perderei meu sono por isso.
─ Deus como ela é linda! ─ eu sussurrei ─ você é linda. E isso é uma verdade.
Eu via o rosto dela em um lugar lotado, e eu não sabia o que fazer.
Quem sabe nos encontraríamos outro dia. Talvez ela passa-se por mim em uma rua do centro, ou no Shopping. Sim, ela iria chamar minha atenção, e nesta hora talvez ela pudesse ver em meu rosto que estaria voando alto. Muitas vezes me falaram que eu voava alto para evitar a estrada, mas acontece que adoraria que ela voasse ao meu lado.
O ônibus arrancou eu ainda paralisado tinha apenas uma consciência de que o tempo não havia parado. Meu coração martelava no peito. E eu não sabia o que fazer, foi neste momento então que pensei: “ Acho que não a verei novamente”, o pensamento me entristecia e me dava medo, mas eu podia ver pelo seu olhar que ela me entendia, que nós havíamos compartilhando um momento que durará até o fim.
De repente estávamos juntos, éramos amigos e era verdade ela estava triste. Era noite, ela dizia que estava confusa. Eu a olhava e queria ajudar, mas não podia. Eu a olhava e mesmo ali, eu não sabia o que fazer. Queria tocá-la, pousar minha mão em seu rosto para quem sabe lhe dar algum conforto. Queria abraçá-la, ela poderia chorar, mas eu estaria ali ao seu lado. Meu cérebro podia ver minha mão se movendo, mas meu corpo real não se movia, ele apenas a tudo assistia.
Talvez eu não fosse o homem certo para ela, mas com certeza queria fazer de tudo para ser, mas ela já tinha alguém, afinal ela estava com um outro homem. Tudo que podia fazer era ficar ali.
O tempo passava e a vontade de estar ao seu lado só aumentava, e com o tempo ela já era maior que tudo. Já pensava em inventar um outro mundo, lá onde não existiriam fronteiras. Minha cabeça era uma guerra, me via no meio de uma ponte. O caminho que pegará me levará até ali, eu acreditava que devia ter parado lá na frente onde via uma placa amarela e negra alertando “ Perigo”, mas não o tinha feito, afinal quem iria me impedir de andar em uma estrada? Aquilo era apenas uma placa.
Estava em uma ponte, o caminho era escuro, mas eu via o futuro e ele repetia ao passado. Eu sabia que iria acabar quebrando a cara, já conhecia aquela sensação de estar dando murro em ponta de faca.
Estava em uma ponte, eu sabia que o caminho era difícil, e que me machucaria, mas eu não tinha outra escolha. Quer dizer, até tinha outra escolha, mas não queria tomá-la, pois ela me machucaria igualmente e bom acho que a ela também, e isso era tudo o que eu não queria: Causar-lhe mais sofrimento, afinal ela já havia sofrido tanto. Não, eu não voltaria atrás, continuaria seguindo em frente.
Então era outra noite que se ia, ela ainda dizia que esta confusa, e que não tinha certeza de que eu realmente a queria. A como tive vontade de gritar o quanto a queria, de quanto ela era a única luz em minha vida, que talvez com ela sim minha vida fosse brilhante. Mas como falar que meu amor era puro se nem ao menos acredito que se trata disso? Afinal o que eu sei sobre isso? Talvez ela estivesse certa e era apenas meu extinto protetor que queria cuidar dela.
Anos passavam, nossas vidas aos poucos foram se ajeitando. Afinal sim nós merecíamos, em fim estávamos felizes, Bom ela estava; o que me deixava. Como todos disseram sua vida foi brilhante. Ela conseguiu tudo que quis, e como eu a disse uma vez, estava lá olhando seu voo do chão.
Sempre que ela se encontrou em uma situação que achou que não podia superar estive lá, a abraçava e dizia: “calma, eu tenho um plano” então depois de muito andar cheguei ao fim daquela ponte.
Ali em baixo de um poste de luz laranja ela pegou minha mão, eu já sabia o que seguiria, afinal já havia previsto aquele fim; a hora que Perceu deixaria a ilha. Ouvi o fim de uma musica chegando como eco da rua deserta: “La la la la la la la la la”
Ela me abraçou eu senti o calor de seu corpo junto ao meu, sua respiração em meu peito passei minha mão em seu cabelo, talvez ela estivesse chorando, e eu não queria a soltar, mas em fim o fiz. Ela foi falar alguma coisa eu a impedi com o indicador, ela tentou desviar o olhar, mas com minha mão em seu queixo a fiz fitar meus olhos.
Ela sorriu, o que fez minhas palavras serem mais difíceis de serem ditas.
─ Deve ser um anjo, com um sorriso no rosto. E eu realmente pensei que deveria ficar com você...
─ Hey, congelou ai? ─ Andressa me chamou me empurrando para frente.
─ É, chegou a hora de encarar a verdade... Eu nunca ficarei com você ─ de volta ao ônibus lotado eu sussurrei para ela que já estava abraçada com o outro cara ─ olha ali um lugar vago vamos sentar ali? ─ falei para Andressa então.
─ Tá muito na frente, mas tudo bem né, melhor do que ficar de pé, e pelo menos fica longe da entrada dos idosos...

“As aventuras de um tímido, do garanhão, da lésbica, do sensível e de sua amiga gótica” Season 01 Capitulo 16 – A Aventura do aniversario Quádruplo.



                                                            - Milena-
Manhã seguinte a festa de haloween.

Estou na sala do apartamento de Daiane, minha cabeça está pesada.
─ Cara eu não entendo! ─ falo para Marlon, nós estamos indo para a cozinha tomar café ─ juro que não bebi.
Vemos Fernando levar uma moça para a saída.
─ Babado! ─ Marlon sussurra ─ você viu isso?
─ Vi, grandes coisas aposto que copularam em que isso me ajuda com minha dor de cabeça?
─ Aff Milena ─ ele me fala ─ eu vi você devorando as gelatinas!
─ Desde quando gelatina da dor de cabeça? ─ pergunto massageando as têmporas.
─ Quando ao invés de água vai vodka na receita ─ ele rola os olhos, eu arregalo os meus.
─ Ué não tem café hoje? ─ Marcelo pergunta entrado depois de nós.
─ Parece que o Nando estava ocupado hoje de manhã ─ Marlon comenta.
─ O que pode ser mais importante do que meu café? ─ Marcelo pergunta indignado. Nando entra na cozinha.
─ Teve uma boa noite de sono? ─ Marlon pergunta.
─ Boazinha ─ Fernando responde indo fazer café.
Depois de alguns segundos Marlon bate na mesa.
─ Eu não entendo, você não estava tentando conquistar a Ane?
─ Tava ─ ele responde cruzado os braços se virando para nós.
─ Tai, isso eu também não entendi então ─ falo ─ você quer conquistar uma e vai lá e dorme com outra?
─ Eu não consigo entender vocês homens ─ Marlon fala ─ eu pensava que você era diferente.
─ Espere, você dormiu com uma mulher? ─ Marcelo pergunta animado, Fernando anui em concordância ─ Legal! ─ Marcelo fala ─ te perdôo pelo café!
Eu não sou como ele ─ Fernando começa a falar indicando Marcelo que começa a ler o jornal que eu trouxe da minha casa ─ eu só precisava de um último teste, um teste verdadeiro, um que não fosse com...  ─ ele faz uma pausa ─ com um homem travestido, para ter certeza de que eu realmente tenho alguma chance...
─ Caraca bicho! ─ Marcelo grita ─ cara você tá muito ferrado ─ ele olha de olhos arregalados para Nando.
Do que está falando? ─ Nando pergunta assustado, Marcelo passa o jornal para o outro lado da mesa, Nando se aproxima eu me junto a ele e leio a notícia, no jornal havia uma foto dele e de Ane descendo de uma moto carregando sacolas de doces e a manchete "grande escritório do centro distribui doces para crianças no dia das bruxas em um exemplo de cidadania”.
Ai meu deus, eu to ferrado!
─ Por que raios você colocou o uniforme? ─ Marcelo perguntou.
─ Ué como eu ia fazer para entrar no prédio e pegar a moto? Você não faz isso quando vai pegar a moto escondida?
─ O que? É claro que não, o porteiro nos vê a semana inteira entrando no prédio, ele já nos conhece é só dizer que você vai abastecer ou trocar o óleo!
─ Cara  o que eu faço? ─ Fernando está quase pirando Marcelo da de ombros, Marlon parece estar preocupado, e minha dor de cabeça ainda não passou.

**** Segunda de manhã na sala da justiça****
-Nando-
Dona Daisy ainda não chegou, o escritório segue suas atividades normalmente parece que ninguém leu o jornal de ontem. Acho que posso esperar um pouco de sorte em fim.
─ Luiz Fernando para o meu escritório, agora! ─ fala Daisy ao chegar. Tá era esperar demais um pouco de sorte.
Eu me levanto e vou na direção da sala dela, olho ao redor para o escritório e penso "É  foi bom enquanto durou".
As luzes parecem ter diminuído, chegando perto da porta do escritório posso ouvir em minha mente um violão chielo tocando melosamente rains of castamare.
─ Com licença ─ falo ao  chegar.
─ Entre, feche a porta, sente-se ─ ordena ela sem nem tirar os olhos da tela do computador. Eu obedeço, ela me joga um jornal nem preciso abri-lo para saber que é o de ontem.
─ Olha eu posso explicar...
─ Shiii ─ ela  me cala, então me olha por cima das lentes do óculos ─ sabe onde estava agora senhor Fernando?
Não senhora ─ respondo.
─ Em uma reunião extraordinária com a diretoria.
─ Vocês vão me demitir não vão? ─ pergunto jogando a toalha.
─ Era o que eu queria! ─ ela admite ─ mas os diretores pensam diferente, são empresários afinal das contas, acham que todo marketing é bem vindo, adoraram a repercussão da notícia, resolveram te promover! 
─ Como? ─ pergunto pego de surpresa.
─ A partir de agora você vai cuidar as festas, notas de imprensa, patrocínios, falar diretamente com os associados, passe suas funções para o Sailon. Está liberado.
─ Eu fico por um tempo pensando no que acabo de ouvir. Então me levanto.
Obrigado senhora ─ falo viro as costas para sair.
─ E Fernando ─ ouço ela me chamar.
─ Sim ─ me viro novamente para ela que me observa com olhos frios ─ estou de olho em você.
Saio da sala e vou para minha mesa, fico durante algum tempo em silêncio absorvendo o que acabou de acontecer, Sailon me trás de volta ao  mundo real.
─ Hei Nando, que bom que você voltou to querendo conversar sobre uma coisa contigo ─ ele fala eu não digo nada apenas o olho sério, ainda estou com vontade de dar um murro na cara dele ─ sabe aquela moreninha que mora com você? 
─ A Ane? ─ Marcelo entra na conversa, eu dou graças, não tenho a mínima vontade de falar sobre isso.
─ Isso ─ Sailon concorda ─ a é esqueci que vocês moram todos juntos, é bem ela, sabe quem pegou ela na festa de sábado? ─ ele fala todo cheio de si.
─ A Ane não é do tipo que é pega ela é a que pega ─ Marcelo fala voltando-se para a tela do computador ─ mas desta vez ela foi pega, e bem pegada ─ ele continua, não consigo agüentar mais me levanto e dou um soco que faz o sangue explodir do nariz dele e o fazendo voar para trás o derrubando da cadeira, bom pelo menos na minha mente eu fiz isso.
─ Impossível, quem fez isso? ─ Marcelo pergunta.
Eu ─ Sailon responde com um sorriso malicioso.
─ Rá! ─ Marcelo explode em uma gargalhada ─ cara escolheu a pessoa errada para inventar uma fama, posso garantir que você não faz bem o tipo dela.
─ Você diz isso pelo fato de ela ser Gay não é? ─ Sailon continua ainda com a segurança de quem diz a verdade ─ também achei estranho quando ela me disse.
─ Ela falou que era Gay e mesmo assim você ficou com ela?
─ É, tipo nós estávamos á um bom tempo conversando, ela disse que estava triste porque tinha recém terminado um relacionamento.
─ Eu disse que podia ajudar a fazê-la esquecer ele, então ela disse "era ela Jean".
─ Espere "ela Jean?" ─ pergunto entrando na conversa.
─ Ah que você não sabia que meu segundo nome é Jean? ─ ele pergunta. 
─ Não ─ respondo indiferente.
─ Bom então queria saber de vocês  que conhecem melhor ela, será que nós íamos dar certo? Tipo juntos?
─ A essa altura eu já não sei de mais nada ─ falo dando de ombros.
─ Ah por falar nisso, você já foi falar com a Daisy sobre aquele rolo da moto? ─ Marcelo sussurra para mim.
─ Já ─ eu respondo normal.
─ Ai cara, sinto muito ─ ele começa a falar em tom de pesar ─ espere, você ainda está aqui, isso quer dizer que você não foi demitido?
─ Oh não! ─ eu respondo ─ fui promovido! Agora vou cuidar do marketing do escritório!
─ Sério? ─ ele pergunta incrédulo ─ e quem vai fazer as suas funções?
Eu olho para Sailon com olhos frios e um sorriso vitorioso e respondo ─ o Jean!
─ O que? ─ ele pergunta ─ eu fui rebaixado? Não é possível!
─ Bom foi o que a Daisy falou, e por falar nisto ─ eu passo um chumaço de papéis para ele ─ é melhor você começar a distribuir essas folhas de pagamento aqui, afinal dia cinco tá chegando.

*** 
- Ane-
─ Marlon ─ falo quando o vejo entrar no apartamento ─ que bom que você está aqui!
─ Ah que fofo, ela estava com saudades do Ma-mah!
─ O que? ─ pergunto enquanto ele aperta minhas bochechas ─ não eu te vi no café, por que ia ter saudades? ─ falo.
─ O que foi então?
─ Tenho algo pra te contar, e não queria que fosse na frente dos outros.
─ Qual é  o babado desta vez? ─ ele pergunta, sua criança interior faísca em seus olhos.
─ É melhor você se sentar ─ falo indo para o sofá ele me segue sente-se e coloca uma almofada no colo.
─ Conta logo ─ ele fala ─ não me esconda nada, nenhum detalhe sórdido.
─ Bom adivinha quem que nós conhecemos ficou com o Jean?
─ Aquele tudo que trabalha com o Nando? ─ ele pergunta, eu anuo em concordância ─ deixe eu ver ─ ele faz uma pausa ─ a Milena? Ela tava meio alterada.
─ Não ─ respondo.
─ Deixe eu ver... O Nando? ─ ele fala incerto ─ vai vê ele gosto do...
─ Não cruzes ─ falo não sei por que a idéia me causou tanto desagrado.
─ O Marcelo?! ─ ele fala agarrado meu braço ─ por favor me diga que sim, me dê essa esperança.
─ O que? Não ─ eu rio desta idéia.
─ Não? Ué mas eu já falei todo mundo!
─ Não todo mundo ─ eu falo.
─ Ué quem eu esqueci? ─ ele começa a contar nos dedos "Milena" "Nando" "Marcelo" eu começo a agitar os braços como alguém no meio do oceano para chamar atenção da guarda costeira ─ não, mas eu falei todo mundo! Quem foi criatura? me diz logo!
  Eu! ─ respondo ele se recosta no sofá de queixo caído e olhos arregalados e vazios, e assim fica por dez segundos.
─ Ma-mah? ─ pergunto ─ você está bem?
─ Estou em choque ─ ele responde ─ você? ─ me pergunta.
─ Aham ─ concordo roendo a unha ansiosa.
─ Ual! ─ ele suspira ─ tai uma coisa que Não se ouve todo dia ─ ele fala ─ mas e daí o que achou? ─ ele pergunta animado novamente ─ é um tudo de bom né? 
─ Na verdade ─ eu falo acanhada estou começando a se arrepender de ter falado isso ─ não vi muita diferença entre beijar outra mulher... Afinal nós fazemos isso de olhos fechados.
─ Então foi isso ─ ele se recosta novamente no sofá de olhos arregalados ─ ele viu! Isso explica muita coisa.
─ O que? ─ pergunto confusa  ─ quem viu? Explica o que?
─ Hum, nada ─ ele levanta ─ tenho que ir, lembrei de hã... Até mais!
Dizendo isso ele sai do apartamento.

*** alguns dias depois***
-Nando-

Daiane chega em casa esteve chorando outra vez, posso ver seus olhos vermelhos e inchados.
─ O que foi agora? ─ pergunto a ela.
─ O que? ─ ela volta à pergunta.
─ O que você tem? ─ pergunto novamente.
─ Nada...
Ane! ─ Eu insisto.
Ah é que se sabe, eu to ficando mais velha! ─ ela começa a chorar ─ e além disso to gorda!
Gorda aonde? ─ eu falo.
─ To sim ─ ela teima.
─ Você não tem jeito ─ eu a abraço, ela começa a soluçar ─ escuta aqui ─ eu a afasto e fico a segurando pelos ombros e a fitando sério ─ você é linda, inteligente, boa pessoa, se olhe no espelho poxa vida você é... ─ eu faço uma pausa calculando se seria pertinente continuar, ela me olha esperançosa eu resolvo ir até o fim ─ você é perfeita! Não acredite se os outros falarem o contrário, principalmente se quem falar for você mesma.
─ A legal agora quer dizer que eu sou louca além de gorda, que não posso nem Me ouvir!
Você... Você ouviu o que eu disse? ─ pergunto gaguejando.
─ Claro que ouvi ─ ela sorri ─ eu não entendo, por que você gosta tanto de mim? ─ ela pergunta ─ como pode ver só as coisas boas em uma pessoa tão complicada como eu? ─ dou de ombros. Ficamos em silêncio por uns instantes, então ela pega o livro que deixei em cima do sofá quando a abracei.
Harry Potter? ─ ela lê rizonha.
É, estou relendo ele ─ respondo sem graça.
─ Você já leu? 
Sim.
─ Já viu o filme?
─ Sim.
─ Porque está relendo? ─ ela pergunta ─ já não sabe o fim?
Você vive? ─ pergunto.
─ Sim ─ ela responde segura de si.
─ Você sabe que vai morrer não é?
─ Sim ─ ela responde em um misto de confusão e susto.
─ Então por que está vivendo? ─ ela abre a boca para responder, mas a fecha sem dizer nada ─ veja, não é o fim que importa, mas o caminho até lá! A cada vez que eu leio absorvo um detalhe diferente, é como no clube da luta, cada vez que você assiste você percebe o personagem do Brad Pitt em uma cena antes do que tinha reparado da última vez que havia visto!
─ Tá, mas por que Harry Potter? Sério em que isso vai te ajudar na vida? Tipo no que vai te ajudar em pegar meninas? ─ eu rio do jeito dela, " você não vive lendo? Não escreve? Não consegue dizer algo bonito? Mulher adora ouvir algo bonito ao pé do ouvido" a voz de Milena sussurra em meu ouvido mental, eu pego o livro das mãos de Daiane e viro, está é a edição de aniversário do lançamento do livro é em inglês, na contra capa há a imagem de Harry de frente para o espelho de Ojased, Ane morou um tempo nos EUA, então sei que ela consegue ler a frase.
─ "Não vale apena viver sonhando e esquecer de viver" - Albus  Dumbledore ─ ela traduz a frase, eu prendo uma mecha do cabelo dela atrás da orelha corro minhas mãos por seus braços e me aproximo de seu rosto sussurrando.
─ Ele só disse isso, por que nunca sonhou contigo ─ por um segundo ela esquece de respirar, por quase um minuto nós ficamos naquela posição, uma tênue linha de ar separando nossos lábios, então ela pisca e vai se sentar no sofá.
─ Nossa muito boa! Acho que vou usar essa com uma nerd que conheci no cursinho essa semana ─  ela começa a folhear o livro nervosa ─ ui ─ ela suspira ─ essa foi muito boa mesmo, você me convenceu ler vale apena, mas com todas as coisas bonitas que você pode falar, me admira você ser solteiro ainda, por que você não usa isso em alguém? Não tem ninguém que você conheça que você ache que vala a pena não? ─ ela pergunta.
Na verdade tem uma pessoa sim ─ respondo, ela me olha curiosa.
Quem? ─ pergunta.
─ Na Hora certa você vai saber ─ falo, no momento em que todas as luzes se apagam.

****
-Marlon-
─ Cruzes é para isso que pagamos uma fortuna de conta de luz? ─ eu grito no momento que todas as luzes se apagam. Estou no hall de entrada do prédio com Milena ─ droga como é que vamos chegar em casa se o elevador não funciona? ─ pergunto.
─ Ouviu falar em um negócio chamado escada? ─ Milena fala sua voz chega abafada por de trás dos sacos de papel com os apetrechos de festa que compramos.
─ Nós temos isso aqui no prédio? ─ pergunto, ela não responde nada, chuta uma porta próxima com seu cuturno a porta se abre mostrando uma escada iluminada parcamente por uma luz fosforecente.
─A luz voltou! ─ falo animado, como sempre minha boca mais rápida do que minha cabeça, depois que falo reconheço como sendo luzes de emergência ─ ah não esquece.
─ Vamos? ─ Milena convida começando a subir as escadas.
─ Ah não, vamos esperar o elevador! ─ sugiro.
─ Eita humanidade sedentária ─ ela volta para a porta posso ver o brilho de um dos olhos dela me fitando ─ sabe-se lá quanto tempo vai demorar para a energia voltar, e quando voltar olha só o tanto de gente que já está na fila! ─ a fila está enorme tem gente saindo para a rua na fila ─ vamos ─ ela  fala voltando a subir desta vez não volta mais, eu a sigo.
─ Vamos! ─ ouço a voz de Milena de dois flancos acima da escada.
─ Estou logo atrás de você! ─ eu falo com o pouco ar que resta em meus pulmões, exausto sento em um dos degraus, estou ofegante, Milena disparou na minha frente assim que começamos a subida me deixando para trás, ela é uma coisinha muito rápida tenho que admitir.
Fico em silencio ouvindo apenas o som de minha respiração, de repente as luzes parecem piscar, as paredes começam a encolher.
─ Milena! ─ eu começo a gritar, não sei de onde encontro minha voz.
─ Que é? ─ ela grita parece ter subido mais dois flancos neste meio tempo.
─ Volta! Eu estou ficando com medo! ─ deixo as sacolas ao meu lado e abraço minhas pernas, alguns minutos depois ela volta.
─ Que patético Ma-mah! ─ ela fala ─ Com todo este tamanho era de se esperar que você tivesse um preparo físico não? ─ ela passa pelo meu lado e começa a descer.
─ Ei! Vai aonde? ─eu pergunto começando a pegar as sacolas.
─ Para baixo hora! ─ ela responde ─ nós passamos do nosso andar! ─ ela da de ombros.
Depois de descermos dois flancos saímos para um corredor escuro, não enxergo nada.
─ Ai! ─ Milena reclama quando eu piso no pé dela.
─ Desculpa querida, eu não estou te enxergando ─ falo sincero.
─ Olha para baixo Rá-Rá-Rá! ─ ela fala imitando uma voz grossa.
Vamos tateando os corredores abrindo portas, ouvindo gritos histéricos quando abríamos a porta errada, outras vezes apenas dando com a cara em portas trancadas até que encontramos o apartamento 11 B.
O apartamento esta iluminado com velas e ouço “a cruz e a espada” tocando de algum celular.
─ Alguém em casa? ─ Grito ao entrar.
─ Shiiii! ─ Nando me cala, o vejo então no sofá, esta com Ane em seu colo ─ Ela acabou de dormir ─ ele sussurra ─ está em um dia difícil.
Milena e eu deixamos as sacolas na cozinha e voltamos para a sala.
─ O que ela tem? ─ pergunto para ele.
─ Não esta enfrentando bem a idéia de estar mais velha ─ ele fala acariciando o cabelo dela.
─ Ah, eu também estou triste por estar mais velho ─ falo ─ será que ganho cafuné também? ─ ele me olha assustado eu rio ─ não? A deixa quieto então, lembrando de me comprar o presente e eu te perdôo.
─ Como é? ─ ele pergunta confuso.
─ Ué, não é por que vai ser uma festa só que eu vou ficar sem presente, quatro aniversariantes, quatro presentes essa é a regra.
                                   ***** No outro dia na sala de justiça*****
- Nando –
─ É serio cara ─  falo por cima do meu computador ─ já andei por todo esse centro e não encontrei nada que me gritasse “ isso é a cara da Ane”.
─ E para mim? O que comprou? ─ ele me pergunta ignorando o que estava falando antes, está com olhos esperançosos igual a uma criança no natal.
─ Não vou dizer né! ─ falo, a festa do aniversario de Marlon, Milena, Marcelo e Ane era naquela noite, até hoje não consegui acreditar na coincidência de os quatro fazerem aniversario no mesmo dia, Marlon e Ane deviam estar agora arrumando o apartamento para receber os convidados do aniversario quádruplo. Marcelo não me respondeu já estava distraído novamente em seu computador.
─ Dae, pessoal! ─ Sailon chega no escritório e ocupa seu computador. Eu não respondo entro no site de uma loja online, a qual já decorei todo o catálogo de tanto que a visitei esta semana, depois de uns minutos de silencio ele começa a falar novamente ─ Não sabem o que me aconteceu hoje ─ todo dia era igual, Sailon chegava da rua e tinha sempre uma história “interessante” que havia acontecido com ele ─ estava lá no centro cívico, quando um carinha me abordou querendo vender um ingresso para o show do Charlie Brow Jr. ─ ele ri e começa a falar algo que nem escuto, uma voz grita na minha mente “isso ela iria adorar”.
─ Esse cara, como ele era? ─ pergunto curioso, ele não para de rir quando responde.
─ Era um senhor já, parecia ter uns cinqüenta anos, não sei, era alto moreno...
─ Onde você viu ele? ─ pergunto, quase salto em cima de Sailon de tão entusiasmado. Ele parece confuso um pouco assustado, mas me da o local exato.
***
Depois do trabalho vou direto para o centro cívico, tive que faltar aula novamente, mas isso era mais importante, a Ane estava em um estado depressivo esta semana isso com certeza a iria animar.
Tive que procurar por quase duas horas. Até que encontro o homem da descrição eu o abordo ele me olha desconfiado.
─ Fala chefia ─ ele cumprimenta.
─ Tu que estas vendendo os ingressos para o Show do Charlie Brow? ─ pergunto ele sorri.
─ Tenho sim ─ ele responde ─ dois por cem Pila ─ eu arregalo os olhos e tiro a carteira.
─ Só tenho oitenta ─ minto rindo por dentro.
─ Bom, você parece ser um cara legal, posso dar um desconto ─ ele fala animado.
─ Beleza então ─ eu tiro os oitenta reais da carteira, ele começa a contar as notas e a conferir se são verdadeiras, satisfeito tira um envelope do bolso e tira de lá dois ingressos laminados, olho na data, confere, o nome da banda também, o nome do clube já não reconheço, mas isso não diz nada a Ane deve conhecer ─ Valeu cara ─ agradeço.
─ Não por isso bicho, ta sabendo que a legião Urbana vai estar na cidade, curte? ─ ele fala.
─ Não ─ eu falo ─ não curto ir em banda cover ─ viro as costas e vou embora.
Chego no apartamento muitos convidados já estão ali, vou direto para o meu quarto embrulhar os ingressos, espero até o fim da festa, para distribuir os meus presentes.
Marcelo, não cumpriu sua promessa que tinha feito depois do dia das bruxas, de nunca mais beber, e está um pouco alterado, Marlon e Daiane não beberam e Milena ficou longe das gelatinas desta vez. Dou primeiro o presente de Marcelo pare que ele me deixasse em paz, um moletom que ele disse que queria, ele rasga todo o papel depois que olha o presente o joga no sofá, para Marlon comprei o Box de uma das séries que ele gosta, seu olhos brilham ao ver os DVDs Milena nem abre o dela, aniversários devem ser mais uma das coisas que devem a entediar. Então o presente de Daiane.
─ Ah, eu também queria o meu em dinheiro ─ Marcelo fala quando tiro o pequeno embrulho do bolso.
─ Não é dinheiro, acho isso muito impessoal ─ falo para ele ─ bom espero que goste ─ falo a Daiane entregando o presente dela ─ vou entender se você quiser levar outra pessoa e tal ─ eu falo sem jeito enquanto Daiane tira os ingressos e começa a olhar, ela reprime um sorriso de canto de boca ─ Mas se quiser que eu te acompanhe...
─ Ingressos para o show do CBJ ─ ela lê ─ e ainda esta semana! ─ ela me olha de olhos sérios ─ tem certeza que quer ir junto? Tipo você não deve gostar muito deles não é?
─ Não é que eu não goste ─ Marlon começa a segurar o riso enquanto eu falo ─ eu gosto das letras das musicas, só não agüento ouvir um CD inteiro só deles.
─ Então você não gosta ─ Marlon fala rindo.
─ Cara o que é tão engraçado? ─ pergunto nervoso para ele.
─ Nando, querido ─ Ane começa a falar ─ é que fazem quase dois anos que o chorão morreu!
─ E o que isso tem a ver...
─ O chorão era o vocalista da banda ─ Milena responde minha pergunta ─ depois disso a banda meio que acabou!
─ Ah! ─ falo ─ aquele miserável ─ começo a praguejar, Marcelo explode em gargalhadas.
─ Que Burro! Da zero pra ele!
E naquele momento eu fui tomado por um desejo ardente de que o chão se abrisse para que eu pudesse esconder minha cara.  Eu devia ter prestado mais atenção no que Sailon estava dizendo.