domingo, 13 de setembro de 2015

Apenas abra seus olhos e veja.



Estou sentado sobe minhas pernas, já não as sinto, o chão é frio. Olho para as grades enferrujadas a minha frente, a cela fede. Ouço o som dos outros prisioneiros, todos famintos todos mortos.
Isto é a vida real? Ou é só fantasia? Não á jeito de fugir da realidade?
─ Poupe minha vida, desta monstruosidade! ─ ouço um dos prisioneiros gritar do fim do corredor. Em meio a um grito de agonia ouço águem desejar nunca ter nascido.
Estou sentado em uma sela, e agora me lembro como tudo começou.
O gato abriu seus olhos. Enormes olhos amarelos, não tinha nada de mais, olhos amarelos em padrões felinos. Ele lambeu seus bigodes, se espreguiçou e levantou.
Tudo era silencio, um silencio cheio de ruídos. Para o gato nenhum som fazia sentido, nem o próprio miado que saia de sua boca. Este gato era branco, não que soubesse disso, e era gordo também, mas tampouco disto tinha conhecimento. Tudo que precisava saber era que sua tigela estava cheia de leite, não que soubesse o que era leite.
O gato andou vagarosamente até sua tigela de leite, sorveu aquele liquido até ficar satisfeito então foi até a porta. Mas no meio do caminho deitou no tapete e ali voltou a dormir.
O gato acordou, abriu seus enormes olhos amarelos se espreguiçou. Suas garras arranharam o tapete. Seu dono balbuciava algo em sua cara. Ele tentava escapar mais era tarde de mais.
─ Quem é a coisinha mais fofa do mundo? ─ o homem falava, para o gato aquilo não fazia sentido, tudo que ele queria era sair dali, para ele nada realmente importava.
Depois de alguns minutos ele consegue fugir das garras do humano. O gato corre na direção da porta, mas algo lhe chama a atenção. Ele para. Aquele novelo de lã lhe parece muito atrativo. O gato assume sua posição de caçador, o corpo todo abaixado no chão, seu rabo a única parte dele que fica para cima, ele abana de um lado para outro. De vagar o gato se aproxima, as patas dianteiras cravando as garras no carpe. Ele solta um miado, e salta sobre sua presa, em poucos segundos o novelo está desfeito.
O gato crava suas garras na lã, desenrolando metros e mais metros dela, ele grita um grito selvagem que nem sabe por que tem vontade de soltar, crava seus dentes na lã engole um pedaço de lã e se afoga. Depois disto o novelo perde o interesse. Ela vai a tigela beber mais um pouco de leite.
Dorme. Abre os olhos, parece que nada mudou. Ele se espreguiça, desta vez chega a porta, e sai para fora.
O vento sopra, de qualquer maneira o vento sopra. O gato anda, por onde anda aquele silencio barulhento o acompanhava, mas na verdade não importava, nada mesmo fazia sentido.
O gato chegou até aquele ponto, o único ponto que por costume talvez, mas que sempre procurava quando queria fazer suas necessidades, uma pequena faixa de areia no meio do quintal.
Depois andou pela grama, o vento soprava, sentiu um cheiro, e começou a rolar no chão. Rolava de um lado para o outro, a grama fresca e seca lhe era prazerosa, ficou em silencio de barriga para cima fechou os olhos.
O sol estava quente, e o vento soprava. O gato abriu seus olhos e olhou para o céu e viu. Mas logo se esqueceu, afinal era um gato, ele fácil vem e fácil vai. Voltou a andar. De repente parou, um pássaro, um intruso em seu quintal. Novamente aquele extinto se apoderou dele. Seu corpo roçou o chão, seu rabo em riste. Seus olhos fixos na presa. Começou a se aproximar lentamente, mais perto. Mais perto. O pássaro nem imaginava o perigo que corria. O gato estava quase saltando quando uma borboleta passou por frente a seus olhos, e bom ele é um gato, fácil vem e fácil vai. Saiu correndo atrás da borboleta por todo o jardim.
O gato andava por cima da cerca. A cerca era de madeira ele ziguezagueava pelo meio das estacas de madeira, estava longe de casa, mas isso não importava.
─ Eu matei um homem. ─ alguém dizia, o gato ouvia, mas não entendia ─ coloquei uma arma em sua cabeça, puxei o gatilho e agora ele está morto!
─ Calma, calma. Nós daremos um jeito cara.
─ Não adianta, chegou a minha hora. Eles virão atrás de mim.
─ Não fala isso, nós vamos dar um jeito...
─ Não, pare. Eu não preciso de compaixão. Apenas vá embora, se eu não estiver aqui a esta hora amanha, siga em frente.
O gato voltou para sua casa. Estava cansado. Foi para a tigela, a ração estava lá, ele comeu. Dormiu. Acordou e foi para a janela. O gato ali ficou parado, ele olhava para o vidro, sem nada entender, afinal de qualquer maneira o vento sopra, menos por ali. Ele olhava para seu reflexo no vidro. De tempos em tempos tentava arranhar a imagem. Mas na maioria conseguia ignorar e ficava apenas olhando a rua.
Sons de carros, pássaros e o do rádio, ele não diferenciava nada disto. Mas sabia que depois da campainha do colégio aquelas criaturinhas passavam por ali e ficavam acenando, e gritando, mais sons que para ele nada significava.
Era noite, estava em cima do piano. Seu rabo seguia o ritmo da corda do relógio. Um movimento inconsciente. Em nada ele pensava. O gato ouviu um ruído, virou sua cabeça. E viu a pequena silhueta de um homem, seu dono se aproximando. O homem coçou entre suas orelhas. Sentou e começou a tocar.
─ ... Scaramouche!  Scaramouche! Você dançará ao fandango?
O gato levanta e sai. De repente aqueles sons. Raios e trovoes, realmente o assustavam. Ele correu para sua caixinha. Mas logo a tempestade passa e ele levanta. Vai até a tigela de leite. E ela está vazia.
“Galileo! Galileo!
Galileo figaro!
Magnífico, oh!”
Estes foram seus primeiros pensamentos. E hoje estou nesta cela e sou seu prisioneiro.    

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