- Milena -
─
Cara, eu não gosto de deixar minha casinha! ─ eu falo para Daiane ─ e muito
menos deixar que outras pessoas a visitem! ─ estou carregando minhas sacolas de
roupas nos braços, andamos pelo corredor em direção ao apartamento de Daiane.
─
Ah, vai ser só por uns dias! ─ a voz de Daiane vem em resposta, abafada por de
trás das outras sacolas que ela carrega ─ e não é como se o Marcelo já não
tivesse ficado lá por uns dias ─ eu paro subitamente, Daiane bate em mim e
deixa cair as roupas ─ que conversa é essa?
─
Longa história! ─ ela fala começando a catar as coisas do chão.
─
Explique! ─ falo, ela suspira.
─
Na páscoa, quando você estava viajando.
─
Como é que é? ─ eu deixo cair as roupas que estou segurando.
─
Ah, dá um desconto, o cara tinha descoberto que a avó tem câncer, ficou muito
abalado!
─
Que ficasse abalado em outro lugar! Por isso que quando eu cheguei de viagem a
casa estava com um cheiro ruim! Sabe quanto tempo aquele fedor ficou impregnado
no ar?
─
Você vem falar isso para mim? ─ ela para de ajuntar as roupas ─ eu moro com o
cara!
Um
trovão ribomba fazendo o chão tremer,caia um temporal na cidade.
─
Tá bom! ─ falo indiferente ─ mas quero o quarto do Fernando.
─
Sábia escolha minha amiga ─ ela responde.
Ajuntamos
as roupas e recomeçamos a andar, ao virar a esquina para o corredor que dá para
o apartamento dela ouvimos uma musica que parecia ser clássica.
─
Que diabos é isso? ─ pergunto.
─
Deve ser o Nando ─ ela dá de ombros ─ ele escuta cada musica.
Ao
chegarmos no apartamentos e abrirmos a porta uma voz fala do radio.
“ Esta começando agora,
a sua voz, a nossa voz... a voz do Brasil...”
─
A voz do Brasil? ─ Daiane pergunta rindo ─ por que isso?
─
O sinal da TV acabo caiu ─ Marcelo fala em uma voz de choro.
─
Nós não conseguimos achar o botão que tirava da radio para o Pen-Drive ─ Marlon
continuou ─ você coloca essas coisas eletrônicas com a tecnologia muito
avançada! Pra que tanto botão?
─
Cara, era só colocar o Pen-drive na entrada USB que o som reconhece
automaticamente! ─ ela responde.
─
AH! ─ os dois respondem em uníssono.
─
Marlon, preciso falar com você, você tem o contato daqueles amigos que seguraram
o Marcelo aquele dia? ─ Pergunto para ele.
─
Sim ─ ele responde.
─
Eu já volto não sai daí.
****
- Marlon -
PAM!
“
Preciso falar com você, você tem o contato daqueles amigos...”
PAM!
“Milena
carregada com trouxas de roupas...”
PAM!
“A
folhinha do calendário mostra Agosto... Dia dos Pais.”
PA-RAMMMM!
─
Marcelo temos que dar o fora daqui! ─ eu falo depois que a orquestra mental se
cala.
─
A cara, o combinado não era nós treinarmos o silencio entre nós? Sem conversas!
─ ele responde olhando para a parede.
─
É sério, vamos? Rápido, é o seu sangue que está em perigo! ─ eu estou aflito,
coitado do guri.
─
O que? Por Que? ─ ele me olha agora parece preocupado.
─
Não notou o que se passou aqui? ─ pergunto, ele me olha por dez segundos sem
piscar depois faz que não com a cabeça.
─
É dia dos pais! O Coronel Monteiro...
─
AHHH! ─ ele grita apavorado.
****
- Nando
-
─
A senhora quer ajuda? ─ pergunto, eu seguro a porta do elevador para uma
senhora entrar, ela esta com os braços carregados com sacolas de compras.
─
Ah, não precisa ─ ela declina ─ esses velhos braços já estão acostumados.
─
De jeito nenhum, isso parece estar muito pesado para a senhora ─ falo pegando
as sacolas dela, ela não resiste, parece aliviada.
─
Obrigado ─ ela fala ─ nunca te vi por aqui, morador novo?
─
Depende do ponto de vista, me mudei no começo do ano ─ respondo ─ sou Luis
Fernando, pode me chamar de Nando!
─
Eu sou Joana ─ ela responde ─ bom saber que temos gente descente morando nesse
prédio ─ ela fala, eu rio ─ você tem religião? ─ ela pergunta com a sobrancelha
arqueada.
─
É... católico ─ “Acho” eu completo
mentalmente ─ mas não sou muito ligado a religião.
─
Ah, menos mal ─ ela parece aliviada ─ pelo menos você não nega nosso senhor,
veio da onde? ─ ela pergunta.
─
Do interior ─ respondo ─ a senhora não iria conhecer a cidade, é para lá de
onde o vento faz a curva ─ ela ri.
─
Estuda, ou veio a trabalho para cá? ─ “a
senhora é bem curiosa não acha?”.
─
Vim para fazer letras, mas trabalho também ─ respondo, a porta do elevador se
abre, nós saímos ─ eu estou escrevendo um livro ─ continuo.
─
Mesmo? ─ ela pergunta ─ quando estiver pronto quero ler hein?
─
Acho que a senhora não iria gostar ─ eu encolho os ombros, ela não parece do
tipo que curte fantasia, noto que ela se retrai, e fica tensa.
─
Nando! ─ Marlon e Marcelo vem correndo pelo corredor ─ precisamos falar com
você.
─
O que você faz com ela? ─ Marlon pergunta olhando para Joana com o cenho
franzido ─ a senhora se esquece que não vivemos nos tempos bíblicos? Escravidão
é proibida ─ Joana vai responder algo, mas se cala.
─
Só estou a ajudando ─ eu intervenho ─ já venho falar com vocês ─ falo para os
dois e continuo andando.
─
De onde conhece esses dois? ─ Joana pergunta ríspida.
─
Um é meu primo, o mais extravagante é só um amigo ─ respondo.
─Hm
─ ela murmura ─ você parecia ser alguém tão decente ─ ela suspira desanimada.
─
Mas eu sou! ─ falo na defensiva.
─
Bom, acho bom não andar muito com eles ─ ela olha por cima dos ombros na
direção dos dois ─ Seu primo é um tarado e o outro é... ─ ela faz uma pausa e
cospe a palavra em um sussurro ─ Gay!
─
Ai esta uma coisa que eu não entendo ─ falo ─ Se ser Gay é um pecado tão
grande, por que Jesus quando andou por ai nunca fez nada contra eles? Pelo
contrario se cercou de homens? Atitude muito suspeita ao meu ver ─ ela fez uma
careta, mas não encontrou as palavras pare responder ─ e na bíblia não diz que
o único que pode julgar os outros é Deus?
─
Sim ─ ela responde decidida.
─
Então por que é que a senhora julga o rapaz ali só por que ele tem uma opção
sexual diferente? ─ ela sorriu.
─
Não se pode ir contra a palavra ─ ela falou afavelmente ─ O pastor diz, ele vai
para o inferno ─ parou então para abrir a porta ─ muito obrigada pela ajuda,
vou colocar seu nome nas minhas orações, para que você não seja pego nas
armadilhas dos demônios deles.
Eu
fiquei olhando ela fechar a porta, sem entender nada.
****
- Milena -
─
Caraca! ─ eu murmuro ao entrar ─ já pensou se uma faísca cai aqui dentro? O
fogo se alastra pelo prédio inteiro, ninguém mais apaga.
Ao
entrar no quarto de Fernando a porta se emperra em algo que depois de entrar no
quarto soubemos que era uma pilha de revista de histórias em quadrinhos, o
quarto inteiro estava cheio de pilhas e mais pilhas de revistas e livros. O
quarto não era grande, havia uma cama de casal rodeada pelas pilhas e um
armário multi-uso.
─
Ele vai abrir uma loja ou coisa do tipo? ─ perguntei, Daiane olhava aquelas
pilhas com espanto como se também as visse pela primeira vez.
─
Nossa, de onde surgiu tudo isso? ─ perguntou Daiane.
─
E eu é que vou saber? Você não viu ele contrabandeando isso tudo para cá?
─
Não ─ ela responde ─ bom você vai ter que se virar por aqui Mi, por que não
vamos ter como tirar tudo isso.
─
Onde coloco minhas coisas então? ─ pergunto ela joga a trouxa que levava em
cima da cama. ─ no guarda roupa, é só tempo de nós tirarmos as coisas dele... ─
ela para de falar ao abrir as portas, não havia roupas apenas mais livros.
─
Eita ─ ela franze a testa ─ onde é que ele guarda as coisas dele?
Olho
ao redor e vejo jogado em um canto um mochilão, ao abrir tenho a resposta.
─
Bom, pelo menos já estão prontas para a viagem ─ falo.
─
E pelo jeito as tuas vão ter que ir para o armário do Marcelo.
─
De jeito nenhum ─ eu grito ─ vai ser por pouco tempo, se ele conseguiu viver
quase oito meses com as roupas em uma mochila eu sobrevivo por alguns dias ─
Ela desaba na cama inquieta ─ Ta bom, se você quer tanto eu coloco minhas
coisas no quarto do Marcelo, estou precisando de novas mesmo, depois eu queimo
tudo.
─
Não, não é isso! ─ ela sussurra, eu sento ao lado dela.
─Não?
Agora eu fiquei confusa, o que é então? ─ ela me olha nervosa, morde o lábio
inferior.
─
Isso é segredo, posso confiar em ti? ─ ela pergunta, e anuo em concordância,
ela olha para a cama e fala ─ eu dormi com o Nando.
***
- Marlon -
─
Ah, até que em fim resolveu se juntar aos hereges? ─ pergunto, Nando vem vindo do
corredor.
─
O que vocês querem? ─ ele pergunta indo passando por nós indo em direção ao
apartamento.
─
Não, não ─ eu saio correndo e tomo a frente impedindo a passagem dele ─ é
melhor o senhor não se aproximar daquele apartamento.
─
Por que? O que esta acontecendo? ─ ele pergunta preocupado.
─
Aqui não, me siga ─ eu os conduzo até o elevador, depois descemos um andar, eu
saio do elevador e fico parado no corredor, Fernando e Marcelo se juntam a mim
─ Aqui, é mais seguro.
─
Hã? ─ ele pergunta confuso ─ de quem estamos nos escondendo?
─
Da Ane cara! ─ Marcelo responde.
─
O que? Por que?
Eu
e Marcelo nos entreolhamos depois eu olho para Fernando.
─
O pai dela vai vir á visitar, ela está aos catos de um namorado. ─ respondo.
─
Heim? ─ ele para e pensa por um momento ─por que? Pensei que os pais da Ane
soubessem das preferências dela, tipo você até me disse que a mãe dela não
gostava dela por causa disso ─ ele fala olhando para Marcelo.
─
A mãe sabia ─ eu respondo ─ mas o pai não, acho que pela reação que a mãe dela
teve ao descobrir, a Ane nunca teve coragem de contar para o pai, o cara é um
pesadelo mas ela o ama, acho que não agüentaria se ele a desprezasse.
─
Nossa que triste ─ ele fala ─ mas o que isso tem a ver comigo?
─
Não está meio obvio? ─ Marcelo pergunta, Nando não responde ─ eu que seria a
escolha obvia já fingi ser uma vez ─ ele olha para mim ─ acredite se quiser mas
nosso amigo aqui, também já.
─
Ela me pediu para encontrar um amigo meu para isso, mas de jeito nenhum vou
mandar um amigo para o abate ─ eu falo, sinto uma fisgada na ponta do dedo, só
então reparo que estou roendo as unhas.
─
Sobrou você ─ Marcelo aponta para Fernando ─ Boa noite! ─ ele sorri para duas
moradoras que passam por nós no corredor, as meninas sorriem e seguem
cochichando.
─
Que seja ─ Nando da de ombros ─ acho que mesmo eu sendo o ultimo, ela não
pediria isso, ela esta estranha comigo depois do meu aniversario.
─
No desespero parceiro ─ Marcelo fala encolhendo os ombros.
─
E por que motivo ela está estranha? ─ pergunto ─ ela não me falou nada ─ Nando
fica sem jeito.
─
Se ela não te falou é por que ela não quer que você fique sabendo ─ ele
sussurra.
─
Ah de jeito nenhum ─ Marcelo se irrita ─ apontou atira, está na cara que você
esta escondendo algo, desembucha.
***
-
Milena -
─ Eca! ─ eu levanto da cama, estou em
choque claro, mas o nojo é maior ─ nesta cama? Vocês dois... espere ─ paro
pensar por um segundo ─ dormiram ou outras coisas? ─ ela fica em silencio por
um tempo depois esconde o rosto com as mãos.
─ Eu não lembro ─ ela fala.
─ Ah! Já perguntou para ele? ─
pergunto.
─ Não ─ ela me olha assustada ─ e não creio
que ajudaria muita coisa, ele não parecia estar em melhor estado do que eu.
─ Cara, temos que começar a cortar o
álcool destas festas ─ sussurro.
─ É só isso? ─ ela pergunta ─ só isso
que tem a me dizer?
─ É ué, o que mais posso dizer? Quer
que eu pergunte por detalhes para ver se te ajudo a lembrar de alguma coisa?
─ Claro que você não tem nada para me
dizer ─ ela murmura zangada ─ o Marlon saberia o que dizer, ele sempre sabe,
mais por outro lado, não sabe guardar segredo, por que você não troca de lugar
com ele, só por hoje? ─ ela implora.
─ Está bem ─ eu pigarreio ─ vamos
tentar, com o que você está preocupada? Não usaram proteção? Está com a pílula
em dia...?
─ O que? Eu já disse, não lembro, mas
não acho possível que isso tenha acontecido.
─ Então o que é? ─ franzo a testa ─ me
ajude para eu poder te ajudar... ─ ela abriu a boca para responder ─ não,
espere e onde é que fica a bruna nisto tudo? ─ ela abre as mãos para frente
como se disse-se “esse é o ponto”.
─ Eu sinto que devo contar, mas tenho
medo ─ ela responde ─ gosto muito dela.
─ A questão é, o que você sente a
respeito do Fernando? ─ pergunto, ela faz uma careta.
─ Que tipo de pergunta é essa? ─ ela
parece ofendida ─ eu o amo... ─ uma pausa constrangedora ─ quero dizer não
deste jeito, ele é um irmão que eu nunca tive ─ ela se explica, eu dou de
ombros.
─ Então fala com ela hora ─ respondo
cheia de certeza ─ um relacionamento precisa de honestidade, ela vai gostar se
ficar sabendo por você, e afinal não á com o que ela se preocupar, não é
verdade? Quero dizer ele é homem.
***
- Marlon -
─ É que... ─ Nando faz uma pausa, eu
estou do lado direito Marcelo na esquerda encostamos ele na parede ─ nada de
mais, nós dormimos juntos.
─ O QUE?! ─ perguntamos em uníssono.
─ Babado! ─ murmuro ─ e eu pensando
que eu era o melhor amigo dela e ela me esconde uma coisa destas.
─ E como é que foi? ─ Marcelo pergunta
sorrindo malicioso.
─ Não foi ─ Nando fica vermelho ─ não
lembro... nós só dormimos, no estado que estávamos não creio que teria algo para
lembrar mesmo.
─ Hum, foi o que pensei ─ Marcelo
fala.
─ Mas é sério ─ eu corto o assunto ─
você vai passar uns tempos comigo, eu te protejo dela!
─ O que? Morar contigo? Ta de
brincadeira? ─ ele franze a testa.
─ É sério cara, aceita é uma proposta
generosa ─ Marcelo fala com a mão no ombro de Nando.
─ Não acredito ─ Nando começa
retirando a mão do primo do ombro ─ ela não vai me pedir isso ─ fala relutante,
então sorri e continua ─ e mesmo que me peça não á com o que me preocupar, eu
sou do tipo de pessoa que faz sucesso com os pais! As filhas não gostam, mas os
pais...
─ Não, não, não ─ começo a murmurar ─ ele
não está vendo o perigo ─ olho para Marcelo.
─ Ele acha que da conta! ─ Marcelo
sorri em deboche, depois empurra Fernando para a parede com o braço e engrossa
a voz ao falar ─ escuta aqui moleque, O Coronel Monteiro vai devorar você no
café da manhã, e usar seus ossinhos para palitar os dentes na janta! ─ Fernando
se assusta.
─ É verdade ─ concordo com Marcelo.
─ Vocês estão exagerando ─ ele fala
desconfiado ─ me provem!
─ Da para acreditar neste cara? ─
Marcelo o larga e olha para mim indignado.
─ Está bem seu Tomé ─ eu falo ─ esta é
a minha história.
***
- Milena -
─ Você está certa ─ Daiane levanta da
cama ─ é claro que está, honestidade é tudo, e não há mesmo com o que ela se
preocupar, vou agora falar com ela.
─ Isto fica feliz em ser útil ─
respondo, ela começa a sair do quarto.
─ Leve a mala do Nando para a sala,
por favor, diga a ele que vai ter que achar outro lugar para ficar por uns
dias, o Marlon pode te ajudar com isso.
─ Hei, espere ai ─ eu grito, ela já
não me ouve ─ droga onde é que eu vou encontrar outro lençol? ─ resmungo para
mim mesma.
*******Flash
Back 1 Marlon******
TRÊS ANOS ANTES...
─ Ah vamos lá Marlon ─ Daiane me
implora ─ vai ser como em uma peça de teatro.
─ Não sei não ─ eu nego ─ a idéia de
namorar outra mulher, me é tão estranha.
─ Ah qual é como se você nunca tivesse
feito isso antes! Essa semana mesmo você não fez o Bentinho naquela peça? Até
onde eu vi a Capitu era uma mulher ─ ela fala.
─ Ain que lindo você realmente prestou
atenção na peça! ─ fico emocionado ─ Marcelo dormiu o espetáculo inteiro.
─ Claro que sim, você é meu amigo eu
sempre estarei lá para te apoiar ─ ela fala em um muxoxo ─ vai ser só de
mintirinha igual, por favor ─ Ela joga sujo tenho que reconhecer ─
porfavorzinho...
─ Está bem! ─ concordo relutante.
─ Que Bom, é só chegar lá domingo para
o almoço ─ ela começa a sair do apartamento ─ vai ser legal.
**
Domingo 11h ainda há três anos**
Eu fui ao apartamento de Daiane, o
cheiro estava bom, nunca descobri se era ela mesma que cozinhava naquele dia,
eu entro, Daiane vai me receber me da a mão e fala nervosa:
─ Você demorou, pensei que tinha
desistido.
─ Que é isso ─ eu falo ofendido ─
Friends forever! Amigos devem apoiar amigos.
Nós entramos na cozinha, pensei que
iria conhecer o pai dela ali, mas não, a cozinha estava vazia.
─ Ué! Cadê ele? ─ pergunto.
─ Foi no banco ali na frente já deve
estar voltando... ─ a porta batendo interrompe a resposta dela, seus olhos se
arregalam ─ é ele! ─ ela fala.
─ Querida, cheguei! ─ uma voz
masculina soa da sala.
─ Aqui na cozinha ─ Daiane responde ─
lembre-se vai ser como em um teatro! ─ ela sussurra para mim.
Me viro para a porta, então minha
barriga se gela como se tivesse chupado gelo, o pai dela entrou na cozinha, ele
é um homem que impõem autoridade sabe? Aqueles que quando entram em algum lugar
o próprio silencio se cala! Aqueles olhos frios me analisaram de cima a baixo.
─ Pai, quero que você conheça o
Marlon, ele é meu namorado ─ Daiane fala em um tom casual.
─ Ah, então resolveu aparecer! ─ ele
fala sorrindo, mas um sorriso assustador, a face dele se divide em duas, os
lábios se retraem em um sorriso que sugere “prazer
em conhecê-lo”, mas os olhos... os olhos continuam sérios um fundo poso
negro, mais negro do que qualquer buraco negro no canto mais escuro do
universo! As sobrancelhas juntas em um olhar que sugere “vou fazer sua morte ser mais dolorosa do que a de cristo” .
**Alguns
minutos depois na sala**
─ Bom, vou deixar os dois sozinhos por
um segundo, vou ver se o almoço está pronto! ─ Daiane fala se levantando do
sofá.
Foi então que ele se virou seu sorriso
havia desaparecido, e ele fez a pergunta...
***
Depois da pergunta***
─ Ah qual é Marlon! ─ Daiane bate na
porta do meu apartamento, é tanta força que fico com medo de as dobradiças
cederem.
─ Vai embora! ─ eu falo em meio ao
choro.
─ Ah cara eu preciso de você! Para
onde foi o papo de Friends Forever? Amigos devem apoiar amigos lembra!
─ Não ─ eu grito ─ não quero ser seu
amigo mais! Nunca mais fale comigo! Não se aproxime a menos de cinqüenta metros
de minha pessoa!
***
- Marlon -
─ É sério, ele é um pesadelo! ─ falo
para Fernando, eu estou suando horrores minhas mãos tremem.
─ Calma cara! ─ Marcelo estende um
saco de papelão para mim ─ tudo vai ficar bem.
─ Ah! Parem com isso...
─ Shiii ─ Marcelo cala o primo ─ Não
se convenceu ainda? ─ ele pergunta ─ ouça a minha história então!
*** Dois anos antes***
─ Só tenta ser menos Marcelo O.K? ─
Daiane me fala estamos no sofá, o porteiro acabara de interfonar dizendo que o
pai dela estava subindo.
─ Querida ─ eu começo a falar passando
a mão no cabelo e com o meu melhor sorriso ─ isso é impossível, eu sou eu e
bem,... só existe eu assim! ─ eu pisco para ela que revira os olhos.
─ Tenta ser menos repulsivo só,
beleza? ─ ela responde, eu realmente não entendi o que ela quis dizer.
Batidas na porta, e ela se abre em
câmera lenta igual aqueles filmes de terror, e por ela o Coronel Monteiro
entra, sem brincadeira, parece que as luzes diminuíram quando ele entrou, todas
as sombras do apartamento pareceram se juntar a sombra dele e ele pareceu
assustadoramente enorme.
─ Pai ─ Daiane foi correndo abraçar o
homem que sorriu.
─ Ola princesa! ─ depois de se
abraçarem Daiane olha para mim ─ Ah! Esse deve ser aquele do qual me falou! ─ ele
fala, seus olhos param de sorrir e tomam aquela postura assustadora.
─ É o Marcelo pai ─ Daiane concorda, eu
me aproximo.
─ Prazer senhor, a Ane me falou muito
sobre o senhor! É uma honra conhecê-lo ─ estendo a mão e ele a aperta, eu
literalmente consigo ouvir todas as minhas articulações estalarem com o aperto.
─ Vamos ver se este é um pouco mais
homem do que o outro! ─ ele me fala, eu rio e penso comigo mesmo “isso não vai ser difícil”.
─ Pai, você prometeu!
─ A querida, mas é verdade!
O almoço pareceu durar uma eternidade,
eu tentei agradar ele de todas as maneiras que conhecia, mas o que recebia era
uma baforada de respostas acidas. Então a Ane nos deixou só.
─ Ok, rapaz escute aqui! ─ ele se
virou para mim, em sua boca agora estava contorcida em um quase rosnado ─ eu
não gosto de você! ─ isso foi um Choque, afinal quem não gosta de mim? ─ não é
nada pessoal, sabe você esta com a minha filha então é uma regra eu tenho que
de odiar, e fazer da sua vida um inferno, então só me responda uma coisa e quem
sabe eu o deixo sair daqui andando... ─ me lembro que ele fez uma pergunta, mas
eu não me lembro o que foi.
─ Olha aqui, tua filha nem é tão
bonita assim! Eu não tenho que passar por isso! ─ eu me lembro de falar depois
de ele me interrogar por dez minutos. Eu sai correndo, A Ane me encontrou no
corredor.
─ O que aconteceu? ─ ela perguntou.
─ Me desculpe, eu tentei, mas ele...
ele é um pesadelo! Eu não consegui! ─ falei calmamente.
***
-
Marlon
-
─ O que ela me contou, foi um pouco
diferente ─ eu falo depois que Marcelo termina ─ ela disse que te encontrou
tremendo, e não foi nada calmamente que você disse isso, foi aos berros e
enquanto chorava de soluçar.
─ Hum ─ Marcelo pigarreia, aponta o
dedo indicador para mim e junta as sobrancelhas ─ isso ela inventou.
─ Que seja ─ falo ─ o fato que é
consenso, o pai dela é um pesadelo! Você não pode fazer isso!
─ Ok! ─ Fernando fala vencido ─ vocês
me convenceram. Mesmo que ela me peça eu vou dizer não.
***
- Nando -
Não vejo Daiane pelo resto do dia, depois da
pequena intervenção de Marlon e Marcelo no corredor, eu vou para o apartamento
e encontro minha mala na sala, Daiane não estava em casa, Milena me falou que
ela foi resolver um problema, eu não fico nada satisfeito em saber que ela iria
ficar no meu quarto, passei as orientações e ela ficou ciente de que qualquer
dano em meus livros iria custar muito caro a ela.
Tive que me arrumar no apartamento de
Marlon, o apartamento dele só tinha um quarto, o dele, então tinha duas opções
dormir com ele. Ou no colchão na sala, onde haviam correntes de ar vindas de
todas as direções, e com o som daquela velharia que ele chamava de geladeira.
Então é lógico eu arrumei minha cama na sala.
Era noite quando voltei ao apartamento
de Daiane, o pai dela só chegava no sábado, então minha passagem estava
liberada por ali. Ao chegar na porta logo vi que algo estava errado.
“...Fiz essa canção para dizer algumas
coisas,
cuidado com o destino ele brinca com
as pessoas...”
O som está em ultimo volume, eu entro.
Encontro Daiane sentada no sofá, ela está de costas para a porta, seus cabelos
estão caindo por cima das almofadas, o apartamento estava mergulhado em uma
penumbra, mas mesmo assim notei que as pontas dos fios estavam vermelhos.
─ Aligegigenas?
─ Pergunto abaixando o som, ela se assusta e leva as mãos aos olhos para
limpar as lagrimas, ela anui sentando no sofá as mechas vermelhas caem por cima
do rosto ─ Pintou o cabelo? ─ pergunto tentando começar uma conversa,
geralmente não sou eu quem está nesta posição, não tenho jeito para isso ─
ficou lindo ─ continuo, ela sorri, mas lagrimas ainda cintilam em seus olhos.
─ Sabe ─ ela olha para mim sem graça ─
todo mundo passou por este apartamento hoje, minha ex namorada me viu hoje, e
você foi a única pessoa que notou!... Por que? ─ ela franze a testa ─ por que
só você repara nestas coisas?
─ Não sei ─ eu falo ─ vi, notei, achei
bonito, falei, desculpe estava querendo puxar conversa ─ ela afunda nas
almofadas.
─ Não, não precisa ficar assim, só
falei, por falar.
─ Eu só vim buscar alguns livros ─
falo virando as costas, mas paro no meio do caminho e volto.
─ Ane ─ eu chamo.
─ Hm? ─ ela responde meio por impulso.
─ Por favor, podemos voltar a ser o
que éramos antes? ─ pergunto, ela parece confusa ─ olha, você é a melhor amiga
que eu fiz em anos ─ começo, não sei como as palavras não estão saindo todas
embaralhadas ─ não quero perder isso, olha não há por que você ficar estranha
comigo, nada aconteceu naquela noite, você mesma disse! Por que você está me
afastando de ti?
─ Não estou te afastando ─ ela para de
falar e começa abanar o rosto como se isso impedisse as lagrimas de caírem, a
voz dela fica embargada ─ É que eu faço tudo errado, desculpe não é com você,
sou eu!
─ Shii ─ eu a abraço ela começa a
soluçar ─ calma, desculpe, eu não queria... droga, quer conversar? O que
aconteceu?
Ela fica soluçando por um tempo e
então se controla e começa a falar.
─ Não sei, tanta coisa, meu pai esta
vindo me visitar, você bem sabe disso ─ ela começa a limpar as lagrimas ─ o
Marlon aquele que pensei que era meu amigo, nem para me arrumar um amigo dele
para fingir ser meu namorado, e briguei com a Bruna, depois fui encontrar a
Natalia no caminho e fiz besteira, de novo.
─ Espere um pouco, você disse que a
tua ex te viu hoje, você brigou com a Bruna? Por que? Vocês terminaram? ─
pergunto.
─ Ah! ─ ela desvia o olhar ─ fui
seguir um conselho da Milena ─ ela suspira zangada.
─ Bom ─ minha boca começa a falar
sozinha ─ quero dizer, quanto a isso não posso fazer nada, mas sobre a outra
coisa ─ agora é a vez de meu corpo se mexer sozinho, e se ajoelho em frente a
ela e tomo a mão dela a minha ─ Ane, você quer namorar comigo? ─ ela arregala
os olhos e prende a respiração ─ Digo, de mentira, já fingimos uma vez, não me
custa fazer isso de novo, e bom parece ser importante para você ─ ela para por
um momento coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha com a mão livre e sorri.
─ Eu aceito ─ ela responde, só então
eu me dou conta do que acabou de acontecer.
─ É ─ eu pigarreio ─ então ta, eu...
eu vou indo então ─ gaguejo e saio do apartamento sem os livros.
Quando chego ao apartamento de Marlon
e ascendo as luzes a poltrona da sala gira, nem sabia que era uma poltrona
giratória e isso me assustou, reprimi um grito quando reconheci que Marlon
estava sentado nela com sua cadelinha no colo, ele me olhava fixo e acariciava
a cadela.
─ Você fez, não fez? ─ ele pergunta a
cadela late para mim como se repetindo a pergunta em cachorrês.
─ Sim ─ eu me jogo no colchão ─ não
resisti, ela estava chorando.
─ Você foi avisado que ela joga sujo ─
ele fala, depois suspira ─ bom o funeral é seu ─ Ele gira novamente a poltrona.
Ligo o computador para me distrair, no
que o computador reconhece o sina da internet de Marlon minha mãe chama do
skype.
─ Alo, mãe ─ atendo a vídeo chamada ─
como vai?
─ Oi, filho, até que em fim consegui
falar com você, estou tentando desde o teu aniversario ─ ela fala baixo, e olha
para os lados a todo momento como se estivesse se escondendo ─ escute, seu pai
não queria que eu te falasse isso ─ ela continua ─ mas temos que falar sobre
aquela sua namoradinha.
─ O que? Quem? ─ pergunto confuso.
─ Hora quem, a Daiane! ─ ela responde
uma nota mais alto.
─ Ah ─ respondo.
─ Bom, estou preocupada Nando ─ ela
volta ao sussurro quase inaudível ─ Não senti verdade nela, estou preocupada
que você se machuque...
─ Ah, mãe ─ eu sorrio ─ não á com o
que se preocupar ─ eu respondo ─ ela não é minha namorada ─ falo ─ nós estamos
fingindo, é um relacionamento de fachada por assim dizer ─ eu sorrio nervoso.
─ Hum, então é pior do que eu esperava
─ ela murmura para si mesma.
─ Por que? ─ pergunto curioso.
─ Isso nunca da certo Nando ─ ela
responde ─ você não sabe, mas foi assim que eu e seu pai começamos a namorar ─
ela fala ─ é uma brincadeira perigosa isso, as vezes da certo como aconteceu
conosco, mas não creio que ela seja mulher para você filho.
─ Não se preocupe mãe, nós não
corremos este risco ─ eu respondo sorrindo em deboche ─ o motivo de nós
estarmos fingindo é que ela é Gay ─ falo, minha mãe arqueia as sobrancelhas.
─ Ah! ─ ela gagueja ─ neste caso... JÁ
VOU QUERIDO! ─ ela grita como se meu pai estivesse a chamando, coisa que sei
que é mentira ─ bom tenho que ir, conversamos mais depois.
A ligação cai.
─ Cruzes ─ Marlon murmura virando a
poltrona novamente ─ coitada da sua mulher se um dia você encontrar alguma, sua
mãe vai transformar a vida da coitada em um inferno ─ eu dou de ombros.
─ Mãe, é mãe não é verdade?
**
Dia dos Pais**
─ Ane você está aqui? ─ pergunto ao
entrar no apartamento, são onze da manhã, o apartamento está em silencio. Dou
três passos para dentro do apartamento então a porta se bate com violência
atrás de mim.
Viro-me assustado e encontro a imagem de um
homem de uns cinqüenta anos, tinha no máximo um metro e meio de altura, careca
e com um bigode grosso e grisalho escondendo o lábio.
─ Você deve ser o Fernando ─ ele fala
em uma voz fria, reconheço o olhar de “vou
fazer sua morte ser mais dolorosa do que a de cristo” no rosto dele.
─ E o senhor deve ser o pai da Ane? ─
pergunto, ele concorda em um rosnado e passa por mim indo em direção ao sofá.
─ Ela não está, deu uma saída, foi com
a amiga no mercado ─ ele se joga no sofá e pega o controle da TV, antes de
ligar o aparelho ele olha para mim ─ vai sentar? ─ ele resmunga ─ ou congelou
ai?
─ Ah! ─ eu tento encontrar as
palavras, e digo para minha própria voz não afinar ─ sim, obrigado.
─ Foi propicia essa ausência de minha
filha ─ ele começa a falar sento no sofá no lugar de frente a ele, de costas
para a porta ─ assim podemos falar, de homem para homem ─ ele deixa o controle ao
lado e começa a estalar os dedos ─ entendo que você esteja assustado ─ ele
começa ─ afinal você não passa de um frangote ─ nem tenho tempo para ficar
ofendido, tenho que me concentrar para manter meus pulmões trabalhando ─ não é
nada pessoal, acho que a Daiane faz isso para me castigar, ano após ano ela me
aparece com cada tralha ─ ele começa a se queixar ─ bom ta na cara que nós não
temos nada em comum ─ ele apoiou os braços nos joelhos e apontou para mim ─
então me responda uma coisa... ─ “é
agora! A hora da pergunta” ─ me diga apenas uma coisa que nós podemos ter
em comum?
A circulação em meus ouvidos aumenta,
tudo fica em silencio, começo a sentir calor e a suar, ele fica me olhando com
aquele olhar duro, de repente eu perco a capacidade da fala, então parece que
as palavras flutuam em minha frente.
─ Bom... ─ eu começo ─ Esta certo que
você ama sua filha ─ outra pausa ─ e quer a felicidade dela ─ ele nem pisca, o
olhar fixo em mim ─ esta ai algo que temos em comum, eu amo a Daiane, e faria
de tudo para vê-la feliz.
Ele fica sério por um segundo, depois
ele sorri, seus olhos deixam aquela postura fria.
─ Rá! ─ ele bate em meu braço, e olha
por cima do meu ombro ─ não sei onde você encontrou esse chaveirinho de
esqueleto Ane, mas eu gosto dele!
Minha face fica fria, eu olho para
trás e Daiane está na porta do apartamento, não acho que ela esteja ali há muito
tempo, mas pela sua expressão deve ter ouvido o que não devia.
─ É, espero que estejam com fome ─ ela
fala entrando e indo reto para a cozinha.
─ Só falta você dizer que torce para o
Coxa ─ ele fala ligando a TV.
─ Acho que vou ter que te decepcionar
senhor ─ falo como se estivesse andando em ovos ─ mas como dizem, a mãe escolhe
o nome, o pai o time, sou Furacão ─ ele me olha rápido, fica serio por um
segundo então sorri.
─ É sério Ane! Parece que você acertou
desta vez ─ ele grita depois se vira para a TV novamente ─ se isso é verdade,
anote mais um ponto em comum guri.
O almoço passa agradável, parece que o
pior já havia passado. Assistimos o jogo, o coronel fica de mau humor com o
resultado.
─ Tá louco! Empatar com o esporte! Vai
querer ganhar de quem? ─ ele resmunga, constantemente.
Sai logo depois que o jogo acabou e
fui para o apartamento de Marlon, quando chego Marcelo e Marlon estavam a minha
espera.
─ Então? ─ Marcelo pergunta quando eu
entro.
─ Está inteiro? ─ Marlon pergunta
aflito vindo em minha direção e apalpando meu corpo.
─ Hei ─ eu reclamo desviando dele ─
está tudo bem! ─ falo para eles ─ parece que minha teoria provou-se verdadeira
─ falo indo me sentar na poltrona, Bete pula no meu colo ─ os pais me adoram! E
vocês me assustando, você ─ eu olho para Marcelo ─ me fez pensar que o cara
tinha três metros e na verdade tinha a metade disso!
─ O que? ─ os dois perguntaram.
─ Um: até um homem muito pequeno, pode
lançar uma sombra enorme e dois: Você se deu bem com ele? ─ Marcelo perguntou
desconfiado ─ isto é impossível! Nem eu consegui isso!
─ Bom parece que encontramos algo em
que eu sou melhor que você não é? ─ falo, ele balança a cabeça inconformado.
─ Impossível ─ ele grita ─ impossível
─ ele grita novamente saindo do apartamento e batendo a porta.
─ Ele vai precisar de um tempo para se
conformar ─ Marlon murmura. Eu sorrio para mim mesmo, tai uma sensação inédita
e maravilhosa.
***
Segunda à noite***
Eu subo com Marlon pela escada para
não correr o risco de topar com o coronel no elevador, eu espio o corredor para
ver se ele está livre, então faço sinal para Marlon passar pela porta do
apartamento de Daiane, ele passa correndo, mas para a uns passos da porta, eu
logo o alcanço e descubro por que ele parou.
─ Não me de este desgosto Daiane ─ o
coronel está gritando ─ você sabe muito bem que não foi à doença que levou a
sua mãe, mas foi à depressão! Ela perdeu a vontade de viver, e definhou depois
que não pode mais dançar! Não vou aguentar ver você passando por isso! ─ Daiane
responde algo que não conseguimos entender.
─ Não devíamos ficar aqui! ─ eu
sussurro para Marlon ele anui.
─ Tem razão ─ ele responde ─ mais
perto da porta nós ouvimos melhor! ─ ele fala correndo para a porta. Eu resisto
o instinto de ir atrás dele de inicio, mas no fim se junto a ele.
─ Acho bom mesmo ─ o coronel continua,
não conseguimos ouvir o que Daiane disse, então as vozes ficam mais baixas e
não ouvimos mais nada.
─ O que está pegando aqui? ─ Milena
pergunta de nossas costas.
─ Hum, nada! ─ Marlon fala ─ o Nando
estava me detendo de entrar aqui ─ ele mente ─ me esqueci do coronel ─ ele bate
na própria testa ─ valeu cara ─ ele soca meu braço ─ vamos?
***Mais
a noite***
─ Cuide bem da minha menina guri ─ o
Coronel está de partida eu e Daiane estamos na frente do prédio o taxista está
colocando as malas no porta malas ─ eu gostei de ti, mas eu sei usar uma arma,
é bom que fique com isso em mente!
─ Pai! ─ Daiane o repreende.
─ Brincadeira menina ─ ele sorri para
a filha ─ bom vou indo então!
Ficamos olhando o taxi desaparecer,
então subimos para o nosso apartamento, ela faz o trajeto em silencio, entro
com ela no apartamento, só então me lembro que Milena está no meu quarto.
─ Bom, eu vou indo! ─ falo indo em
direção a saída ─ boa noite.
─ Aonde você vai? ─ Daiane me
pergunta.
─ Para a casa do Marlon, a Milena
ainda está no meu quarto ─ falo.
─ Não ─ ele murmura ─ Fica ─ eu olho
para o sofá e calculo pelo menos ele vai ser mais confortável do que o colchão
do chão da casa de Marlon ─ Vem! ─ ela continua.
─ Desculpe?! ─ pergunto assustado ─
onde? É tarde.
─ Não... ─ ela faz uma pausa então
continua ─ você mesmo disse, nós somos amigos, não é? ─ eu concordo com a
cabeça ─ então vem! Você me protege dos aligegigenas ─ ela pega minha mão e me
conduz para os quartos ─ eu confio em você.
─ Está bem ─ sussurro confuso.
***
Mais Tarde ***
Eu acordo no meio da madrugada, estou
todo doido dormi o mais longe que pude de Daiane, ou seja grudado na parede,
mas ela é do tipo de pessoa que dorme esparramada na cama, ela se atravessa na
cama. Primeiro sinto seus pés procurando os meus, um tempo depois seu corpo vem
para mais perto de mim, ela está de costas para mim, sua respiração é suave, ela
dorme profundamente.
Êxito por um tempo, mas então a
abraço.
Durmo sentindo o perfume doce de seus
cabelos, meu coração ribomba no peito. Momentos depois acordo, no começo me
assusto, penso que ela está me afastando, pois sinto o braço dela batendo no meu,
eu tiro o braço então reparo que ela ainda dorme, mas seu braço treme. A abraço
novamente, agora deslizo minha mão pelo braço dela e seguro sua mão na minha.
O quarto está escuro, mas a luz que
vem da fresta da porta e da janela deixam a penumbra suficiente para que eu
possa ver o rosto dela.
Algo explode em meu ombro, vejo uma
fumaça vermelha subindo dele e vejo um mini Marcelo empoleirado ali.
─ Beija! ─ ele fala, consigo ver
aquele sorriso malicioso no mini rosto ─ Você, quer sei disso, ela também quer,
você sabe disso.
Começo a fechar os olhos e me
aproximar do rosto dela.
─ PARA! PARA! PARA TUTO! ─ outra explosão desta vez uma
fumaça Pink abro os olhos e desta vez um mini Marlon está se empurrando com o
mini Marcelo ─ ela confia em você! ─ diz o mini Marlon.
─ Cala a boca bicha, ele ta quase lá!
─ mini Marcelo grita.
─ Não ele vai estragar tudo ─ mini
Marlon responde.
─ Vão embora ─ murmuro para os dois.
─ Lembre-se que ela confia em ti... ─
mini Marlon fala, mas se desintegra quando Marcelo o cutuca com um tridente
vermelho.
─ Vai fundo tigrão! ─ ele fala, mas em
seguida também explode.
Eu beijo o pescoço de Daiane, então me
recosto no travesseiro e durmo.
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